Todos sabemos o que é um esteio e para que serve. Há-os com um lado positivo e outros com um lado negativo. Um esteio pode preservar alguém ou alguma coisa de cair ou de se estatelar no chão. Um esteio segura uma ramada de videiras, por exemplo. De outro modo, se alguém se apoia num amigo ou no que este representa, pode dizer-se que este último é um esteio para o primeiro. Mas, por outro lado, um esteio pode também estar associado a algo imóvel, ultrapassado, que não acompanha a evolução das coisas e se for uma pessoa, um amigo, um colega de escola ou trabalho, como alguém que se não actualizou, que perdeu credibilidade, pode não corresponder a quem se encosta e pede ajuda. Às vezes, já o ouvimos dizer, o feitiço vira-se contra o feiticeiro, e outras, quando a falta de tacto é tanta que se diz de alguém que é burro como um esteio. Se um esteio não for o melhor ou não estiver bem seguro pode arrastar toda a estrutura consigo.
Está a correr nos escritos e comentários de alguma imprensa que Montenegro tem Cavaco como esteio, o que pode significar que o tem como referência e que pretende governar ao jeito deste. Talvez não seja boa ideia, pois pode levar-nos a ficar parados no tempo ou a voltar ao passado, condicionando os que o seguem, de perto ou mais de longe, e mesmo os que não o suportam e o querem ver pelas costas. Montenegro é o primeiro responsável do Governo e isso tem consequências para todos. Por mais que se diga que a história se repete, os factores que se cruzam nunca são exactamente os mesmos. No caso, o estatuto de Cavaco era diferente do que tem Montenegro, o estado do país não tem comparação com o que era e a oposição política idem aspas. O pântano era pouco tolerado pelo povo e pelos políticos de então e os protagonistas seguiam outras regras.
Copiar é feio e nem sempre dá bom resultado e mesmo que acabe por dar, tal não faz do cábula um doutor. Cábula algum chegou a bom porto e falando do país, ninguém que o seja conseguirá levar-nos a fundear em segurança. Afrontar o Parlamento não é solução, muito menos nos tempos que correm, numa situação de governo minoritário e os muros de outrora em baixo. Se o continuar a fazer, o Governo terá novos dissabores e mais bloqueios se levantarão.
O que verdadeiramente pode escorar Montenegro e o seu Governo é mudar de vida, o que passa, designadamente, por dialogar antes de decidir, dando tempo a que se discutam as matérias e se equilibrem as perspectivas. A sobranceria é tudo menos eficaz nas actuais condições políticas. Sem um entendimento de governo mais alargado, pelo qual Montenegro não lutou o suficiente ou simplesmente desprezou até agora, o diálogo é a única solução para governar com razoável estabilidade. Persistir no erro cometido até aqui é fomentar as ultrapassagens da esquerda e da direita com o Executivo a ver-se ignorado. Nenhum governo fica bem na fotografia quando tal acontece e o de Montenegro tem-se posto a jeito.
A um governo minoritário não serve um qualquer esteio. Precisa é de unir forças com outra força e de alguma sorte, ainda que desta se diga que dá trabalho. Se Montenegro conseguir estear-se no diálogo enquanto as condições não forem favoráveis à oposição, sempre conseguirá fazer caminho. E quanto mais caminho fizer, mais resistência terá a eventuais veleidades dos adversários. Mas, não pode perder tempo, porque isso dará razão a uma parte importante do espectro político nacional que o acusa de ser fonte de instabilidade. A estabilidade procura-se, não se deixa ao arbítrio de outros. Arriscar será irresponsabilidade e os portugueses não perdoarão ainda que possa pensar-se que estes castigarão os que decidirem pôr fim ao percurso governativo. Há esteios e esteios. O melhor esteio é aquele que serve o presente e não o que ficou no passado, ainda que então possa ter sido importante.