O PS ganhou as eleições europeias em Portugal, apesar de ter perdido um deputado e o PPE, do qual o PSD faz parte, ganhou as eleições gerais europeias.
A leitura dos resultados que tem sido feita pelos vários comentadores e pelos políticos, para além das habituais divergências próprias das inclinações partidárias, gera algumas perplexidades e inconsistências. Certo que o PS foi a força política mais votada, mas assinale-se que teve menos de um por cento de vantagem relativamente à AD, o que significa que a proximidade entre o partido e a aliança se manteve, apenas ao inverso do que havia sucedido nas eleições legislativas de março de 2024, sendo perfeitamente normal essa diferença, tolerável em mais um ou menos um por cento, sem qualquer sinal de alterações estruturais ou mesmo conjunturais no eleitorado, o que constitui a visão aceitável numa perspetiva nacional do resultado dumas eleições que têm alcance diverso.
Mais à esquerda defendeu-se que seria expetável a AD alargar a sua vantagem em relação ao PS, saindo de uma vitória recente em legislativas, vivendo o habitual estado de graça que impulsiona o apoio popular nos primeiros meses de governação. A questão é que, como muito se assinalou, trata-se de um dos poucos governos em Portugal, senão mesmo o único, que não teve desde o primeiro dia uma folga da oposição, um PS que não se preparou para estar do outro lado da governação, habituado a controlar as estruturas do poder e que, com o beneplácito do Chega (até quando?), por conjuntural comunhão de interesses, tem procurado governar através do Parlamento.
É, no entanto, admissível concordar com que os que pugnam que a escolha de Marta Temido foi mais feliz que a de Sebastião Bugalho. A população portuguesa é envelhecida e admira-se em geral aquele que construiu uma carreira a pulso, fruto de muito trabalho e sacrifício, com provas dadas na vida pública e/ou privada, não merecendo maior simpatia um candidato mediático, apenas conhecido por intervenções televisivas, ainda que interessantes e acutilantes. Apesar do objetivo de Bugalho de atingir os 29% – percentagem da AD nas últimas legislativas – ter sido superado em mais de 2%, certo é que foi o pouco que aproveitou da queda de 9% da Chega em comparação com março.
É prematuro afirmar que a bipolarização voltou a Portugal. A IL dobrou a votação face às recentes legislativas e o Chega perdeu metade. Mas é difícil extrapolar esses factos para a realidade eleitoral em legislativas nacionais. O Chega vale muito mais com André Ventura, sobretudo quando escolheu como cabeça-de-lista alguém sem notoriedade ou carisma, obrigando-o a vir permanentemente a terreno, mas o erro estava feito. Com a IL passou-se o oposto. Cotrim é mais apelativo que Rui Rocha, apesar deste ter boas qualidades ao nível da competência, devendo-se muito a ele o acréscimo de votos dos liberais.
Na extrema-esquerda, o BE foi contagiado pelos comunistas, que já não estão sós nos festejos da derrota, tratando-a como uma vitória. Apesar de ter uma candidata interna fortíssima, Catarina Martins, reduziu os seus deputados no parlamento europeu a metade, apenas a tendo eleita a ela e à última hora, o mesmo sucedendo com os comunistas, lutando manifestamente a esquerda extrema apenas pela sobrevivência.
Na Europa, fora de Portugal, arredam-se as preocupações com a interpretação que a direita radical e a extrema-direita sobem, sim, mas sem provocar um terramoto no PE. Um olhar de curto prazo, pois a longo prazo o que se perspetiva é que essas forças que não abraçam o sistema democrático vão continuar a crescer. Nos países mais fortes da UE, ganharam claramente na França, obrigando Emmanuel Macro, a dissolver a Assembleia e a convocar eleições antecipadas e ficaram em segundo lugar na Alemanha! Se isto não causa preocupação, não sei do que estão à espera.
De positivo fica a maior possibilidade da reeleição de Ursula von der Leyen para um segundo mandato à frente da Comissão Europeia. Em tempos de incerteza agravados pela invasão da Ucrânia, é um porto seguro de unidade e competência. Ficam as palavras de Manfred Weber, presidente do PPE, que pede para tal desiderato o apoio do chanceler alemão, de centro-esquerda, e do Presidente francês, cujo partido integra o liberal Renovar a Europa no PE. Que seja ouvido.