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É preciso repensar o 25 de Abril

São passados 50 anos após o movimento do 25 de Abril de 1974, que permitiu implantar a democracia em Portugal, após se viver momentos muito difíceis e complexos.

Após a proclamação da 1.ª República em 1910, Portugal atravessou várias situações ideológicas e políticas, tendo sido imposta a ditadura em 28 de maio de 1926. Salazar, como Ministro das Finanças a partir de 1928 e durante 5 anos teve o mérito no exercício desta função, mas quando assumiu o lugar de primeiro-ministro, sendo Presidente da República Óscar Carmona, o fascismo implantado no país, deu origem a um sistema político sem liberdade de expressão e controlo de cidadania, não respeitando a ideologia e direitos dos cidadãos.

Portugal podia ser um grande país na Europa, apesar da sua pequena dimensão e acantonado na Península Ibérica, e não obstante todas as dificuldades vividas ao longo da história, conseguiu ultrapassar diversas situações, resistindo e sendo hoje um país com identidade democrática, que pode vir a ser afetada. Infelizmente não soube tirar partido das suas potencialidades, devido às condicionantes impostas pela ditadura vigente antes do 25 de Abril e cujo movimento foi liderado pelos Capitães de Abril e pelos momentos vividos nas colónias quando estas tinham todas as condições para serem independentes, pois houve, ao período da ditadura, governantes de visão e com abertura, mas que tiveram de desistir, o que trouxe problemas incontornáveis para os portugueses a viver nas colónias e para o país.

Este ano, ao celebrar 50 anos da implantação da democracia, houve muitos eventos por todo o país, como há anos não se via, mas falta saber se eram reflexo da democracia implantada ou apenas festividades para atrair a população, caminhando para um populismo e para a implantação de movimentos, fortemente extremistas, com as consequências para o futuro do país, quando era fundamental pensar na estabilidade governativa, com um entendimento interpartidário estruturante, com diálogo construtivo, pensando em primeiro lugar na resolução dos problemas graves e urgentes a resolver, fomentando o crescimento económico, reduzindo a pobreza e, acima de tudo, deve haver sentido de responsabilidade quanto à abordagem dos assuntos, alguns dos quais não são da competência do Parlamento e não deviam ser aceites para análise e discussão pois podem trazer consequências imprevisíveis para a justiça e para o futuro do país.

As cerimónias do 25 de Abril deviam decorrer com serenidade, moderação e sentido político responsável, para evitar uma maior instabilidade através da comunicação diversificada, causadora de efeitos perversos e não haver intervenções oficiais prejudiciais a uma instabilidade governativa, quer vinda do interior do governo, quer do empossado, o qual está a atuar com descrição, com cautela e fugindo a polémicas desnecessárias, prejudiciais e que impedem de atuar com serenidade, ponderação e de lançar as melhores soluções para o país, onde deveria haver na atualidade consenso e entreajuda nos arcos partidários do centro.

As grandes empresas portuguesas e alguns bancos têm vindo a ser progressivamente privatizadas internacionalmente, o que pode originar o domínio económico de grandes potências, como já acontece em alguns países, principalmente africanos, com as consequências políticas e económicas daí advenientes.

Surgem discursos que não se adequam à situação atual, prejudiciais à situação que o país atravessa, quando se devia pensar na estabilidade e acabar com o centralismo e caminhar para a autonomia das regiões. Eu saí do rural e devo ao rural o meu caminho, percorri mundo e aprendi a respeitar as origens e etnias diversas, pois todos têm o seu valor e são dignas da sua ancestralidade, pois por ali passaram e foram pessoas dignas e de referência.

O colonialismo foi e é transversal a continentes e a países, não esquecendo alguns que hoje são grandes, quer na América do Sul ou do Norte, por vezes com uma incidência mais acentuada do que em África, mas é preciso não esquecer o seu contributo para desenvolver esses países, que cresceram exponencialmente e alguns têm vindo a regredir.

A história da colonização deve ser analisada e transmitida no presente e para o futuro, com objetividade e por conhecedores das situações dos períodos globais continentais e não por comentadores que desconhecem as realidades do colonialismo.

Bernardo Reis

Bernardo Reis

4 maio 2024