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Marcelo ou Tagarela?

Marcelo Rebelo de Sousa, a pretexto das Comemorações dos 50 Anos 25 de Abril, trouxe à tona - de forma leviana, extemporânea e desajustada - o tema das compensações/reparações históricas, causando desconforto não só em território nacional mas, também, entre os Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

O episódio, mais um de entre os muitos que, lamentavelmente, têm, nos últimos tempos, marcado a magistratura de MRS, é revelador de uma gritante falha na preservação da dignidade presidencial e na condução, sensível, dos temas de natureza diplomática.

As compensações ou reparações históricas referem-se à ideia de remediar injustiças passadas cometidas contra Países ou populações. Este debate, embora válido e necessário em certos contextos, requer uma abordagem delicada, sensível e bem informada, sobretudo quando é, como foi o caso, trazido à discussão por figuras de Estado em contextos de grande exposição internacional.

Para piorar o cenário, o Presidente deu asas ao seu habitual frémito sobre-opinativo e, referindo-se ao Ex. PMinistro, António Costa, as suas palavras foram de uma deselegância surpreendente, atribuindo a lentidão em determinadas negociações à sua ascendência “oriental”. Além disso, descreveu Luís Montenegro, PMinistro, com um comentário ridículo, classificando-o de "rural"!!! Poderia dizer muitas coisas sobre isto, mas manda o decoro, que Marcelo manifestamente não tem, não o fazer.

A repercussão destas declarações foi, como não poderia deixar de ser, ampla e negativa, com críticas apontando para uma Presidência cada vez mais distanciada dos princípios de respeito que têm de nortear a comunicação de qualquer Chefe de Estado. Este incidente, mais um de um extenso rol, ilustra uma tendência preocupante para o tratamento dos assuntos do Estado com excessiva informalidade, reduzindo o peso da palavra Presidencial a meros comentários de ocasião.

Além do mais, o episódio suscita questões mais profundas sobre o impacto da constante exposição mediática em que o Presidente se envolve. A frequência com que Marcelo Rebelo de Sousa aparece nos meios de comunicação social pode comprometer, e no meu entender compromete, a autoridade e a seriedade do cargo que ocupa. Há um equilíbrio delicado entre ser um Presidente acessível e preservar a autoridade institucional, equilíbrio, esse, que MRS parece, há muito, ter perdido.

 


As relações entre Portugal e os demais PALOP, fundamentais para a diplomacia e cooperação internacional, podem sofrer com tais falhas no discurso presidencial. É, por isso, absolutamente essencial que as figuras de Estado mantenham, em todos os momentos, um nível de comunicação que reflita respeito e consideração mútuas face aos diferentes contextos políticos, históricos e culturais.

Em última análise, Marcelo Rebelo de Sousa parece ter uma predilecção particular por dois tipos de indumentária: o fato de comentador e o de Presidente. No entanto, muitas vezes, demasiadas, na verdade, Marcelo Rebelo de Sousa dá a impressão de confundir o guarda-roupa, optando pelo traje de comentador nos momentos em que o fato Presidencial seria não apenas mais apropriado, mas absolutamente necessário.

Dá sempre a ideia de que, no armário Presidencial, o fato de comentador está sempre à frente, pronto a ser vestido a qualquer instante, relegando o traje de Presidente, que não deveria conhecer dias de folga, a um cabide mais distante.

Marcelo Rebelo de Sousa, hoje como ontem, parece sempre pronto a emitir opiniões com o entusiasmo de um comentador ávido, em detrimento da “gravitas” Presidencial esperada e necessária.

A bem do País, seria aconselhável que Marcelo se lembrasse de que, mesmo nos dias mais informais, a função de Presidente merece sempre o seu melhor traje.

Pedro Sousa

Pedro Sousa

1 maio 2024