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Bem Hajam!

 

 

Obrigado. É a única expressão que me vem à cabeça para celebrar com todas e todos a “enorme” manifestação de cidadania que anteontem centenas de jovens quiseram protagonizar ao responder positivamente ao desafio que lhes foi lançado para serem protagonistas na reconstituição histórica do primeiro comício em liberdade, ocorrido em Braga há 50 anos.

Obrigado à enorme disponibilidade, profissionalismo e sentido estético do Tiago Fernandes e a toda a equipa da Malad’arte que conduziram durante quatro meses, os trabalhos preparatórios para a manifestação do dia 26 que abriu as portas à revisitação e à homenagem possível, devido às condições meteorológicas, aos protagonistas do comício que, em 1974, proclamou a vitória naquela que foi conhecida como “a capital moral do fascismo”: José Manuel Mendes, Luísa Caeiro, Vítor de Sá, Lino Lima, Lestra Gonçalves, Manuel Silva e Capitão de Abril Soares Leite.

Deixo-vos aqui, com a certeza de que voltaremos a repetir a reconstituição histórica com outras condições, as palavras que encerraram a intervenção da comissão na dignificação da nossa Memória coletiva: 

Às 22.50, do dia 24 de abril de 1974, a capital moral do fascismo sucumbiu às ordens de um regimento liderado pelo nosso Capitão de Abril, o Coronel Rui Guimarães. Uma operação bem-sucedida, pese embora as tentativas frustradas daqueles que se identificavam com o regime do Estado Novo. Demorou 48 anos a resistência de mulheres e homens – cerca de meio milhar – que, no distrito, se prontificaram a resistir às perseguições, às prisões, e à tentativas frustradas de silenciar os Democratas do distrito de Braga. Hoje e porque ontem já era tarde, reunimo-nos na mesma praça e falamos da mesma varanda, para relevarmos e destacarmos aqueles que ainda estão connosco: José Manuel Mendes, Luísa Caeiro, Lestra Gonçalves e Capitão Soares Leite. Neles evocamos os nomes das centenas que, de forma anónima, constituíram a espinha dorsal da resistência: gente de todas as condições económicas e sociais, gente de fibra, gente que só tinha como arma a PALAVRA. Foi com ela e por ela, expressando o seu direito a discordar que, ao lembrarmos esse período negro da nossa história, nos manifestamos HOJE com a mesma vontade de cerrar fileiras em defesa da Democracia e das amplas liberdades de que todos gozam. Não permitiremos – nunca mais – que os seus nomes caiam no esquecimento. Devemos, para sempre, unir esforços para que os seus feitos e a sua coragem estejam inscritos e devidamente referenciados na história de Braga e da região. Devemos muito mais. As suas famílias sabem-no, nós sabemos. Infelizmente, a Democracia tomou o seu rumo, deixando para trás o passado. Mas que Liberdade é esta que se esquece da sua Memória? Que liberdade é esta que acha que se pode construir um futuro, sem olhar para o que fomos? Que Liberdade é esta que não honra os seus heróis, que não perpetua a sua Memória para que possamos afirmar NUNCA MAIS. Caras cidadãs, caros cidadãos: Hoje, aqui, numa manifestação de esperança de centenas de jovens, evocamos o primeiro comício em Liberdade. É neles que depositamos a esperança e a convicção de que saberão defender a Democracia, não só dos ataques, mas dos seus próprios defeitos. Caros jovens, esta passagem de testemunho dos mais velhos é uma honra e uma grande responsabilidade. Saibam resistir às tentativas de alguns que prometem tudo, mas a única coisa que querem é destruir a Democracia. Confiamos nas vossas capacidades, na vossa coragem, para defender os princípios e valores dos vossos avós. Onde quer que vivam, o que quer que façam, esta é a oportunidade para assumirem as vossas responsabilidades. Não tenham MEDO, não tenham receio, não se deixem distrair. Estejam atentos e participem ativamente na vida política do vosso país, da vossa região, da vossa cidade, em qualquer lugar. Dentro em breve seremos chamados novamente a eleições, desta vez para o Parlamento europeu, talvez das mais importantes das nossas vidas. A Europa precisa da vossa participação, do vosso entusiasmo, do exercício de uma cidadania política ativa. Votem e acreditem que o vosso futuro está as vossas mãos, como outrora estiveram nas mãos dos corajosos Democratas deste distrito. É para eles e pensando nos que aqui já não estão que evocamos neste dia 26 de abril de 2024, os seus nomes nas pessoas de José Sampaio, Joaquim Loureiro, Casemiro Ribeiro e Carlos Fontes que nos deixaram recentemente. 

Bem Hajam!

Paulo Sousa

Paulo Sousa

28 abril 2024