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Suicidou-se ou tornou-se santo?

1. Afinal, que foi feito de Pôncio Pilatos após a morte – e a ressurreição – de Jesus Cristo?
Personagem ambivalente, de temperamento híbrido, terá feito tudo para defender Jesus, mas acabou por sufragar a sentença que O condenou.

 2. Reportando-nos aos indicadores bíblicos, a ambiguidade avulta como um dos traços mais salientes do seu carácter.
Tanto parece ser condescendente (cf., Mc 15, 14; Lc 23, 4; Jo 19, 4) como avulta como um facínora implacável (cf. Lc 13, 1).

 3. O Evangelho de Lucas inclui uma passagem sobre uns galileus «cujo sangue Pilatos misturou com os seus sacrifícios» (Lc 13, 1).
E Fílon de Alexandria atesta que a sua actuação se pautava pela «venalidade, violência, roubos, assaltos, conduta abusiva, frequentes execuções de prisioneiros sem julgamento prévio e pela sua ferocidade sem limites».

 4. Pilatos foi governador romano na Judeia de 26 a 36 d.C. A sua jurisdição estendia-se também à Samaria e Idumeia. 
 5. Tal como os seus antecessores, tinha residência principal em Cesareia, indo a Jerusalém especialmente para as grandes festas a fim de manter a ordem. 
Também lhe cabia nomear o sumo sacerdote de Israel tendo mantido sempre o mesmo – de nome Caifás – ao longo do seu mandato.

 6. A sua destituição verificou-se depois de ter agido de forma desmesuradamente brutal perante uma insurreição armada no Monte Garizim, no ano 35. 
Os samaritanos enviaram uma delegação ao governador da Síria (Lúcio Vitélio), que exonerou Pilatos. Intimado para ir a Roma, só lá chegou após a morte do imperador Tibério. Caído em desgraça sob o império de Calígula, há quem alegue que se suicidou.

 7. Não falta, contudo, quem apresente Pilatos como um convertido ao Cristianismo, juntamente com a sua esposa, Prócula ou Cláudia Prócula. 
Esta terá sido venerada como santa por ter defendido Jesus junto do marido (cf. Mt 27, 19). 

 8. O próprio Orígenes também sugere que ela se teria tornado cristã. 
Tal interpretação foi incorporada em diversos círculos da Antiguidade e da Idade Média. 

 9. Há referência a uma sua suposta carta, escrita muitos anos após Pilatos ter deixado Jerusalém. 
Publicada em inglês pela «Pictorial Review Magazine» em 1929, afirma que ela terá pedido a ajuda de Jesus para curar uma ferida no pé aleijado do seu filho Pilo.

 10. Mais. Até Pilatos chegou a ser contado entre os santos nalguns meios cristãos. 
Para Juan Chapa, poderia tratar-se de uma tentativa de «mitigar a culpa do governador numa época em que a difusão do Cristianismo encontrava dificuldades no império». Uma coisa é certa: para Deus, «nada é impossível» (Lc 1, 37).

João António Pinheiro Teixeira

João António Pinheiro Teixeira

16 abril 2024