Uma das questões que suscita, entre todos nós, interrogações muito fortes sobre as suas consequências, independentemente das razões morais que levanta, é o problema da natalidade.
Até há alguns anos, esta questão não se pôs, ou, pelo menos, não foi encarada pelas autoridades governamentais dos diferentes países. Mas, perante uma melhoria das condições médicas e sociais, o apoio e a maior vigilância terapêutica aos nascimentos, o número de crianças aumentou duma forma óbvia. E as autoridades começaram a assustar-se com esta situação, tomando medidas de controlo de nascimentos.
Independentemente dos aspectos éticos que tais iniciativas levantam, os resultados obtidos originam actualmente muitas questões sobre a sua conveniência. E se, décadas atrás, as autoridades estavam confiantes na boa orientação e necessidade de reduzir o número de nascimentos, agora perguntam-se se o rumo da natalidade, dada a sua escassez, nos países mais desenvolvidos, não constitui uma forte e objectiva preocupação para a sua vida e até subsistência..
Decerto que a emigração tem diminuído, de algum modo, o problema. Mas é evidente que a sociedade dum país que recebe muita gente que não é originária do seu próprio meio, não querendo com esta observação defender quaisquer ideias racistas, acaba por modificar as características da sua própria raiz. E, com alguma frequência, pode deixar-se afectar por alguns indícios de preconceitos, não favorecendo a inclusão da população resultante da emigração na sua própria vida normal, já que a considera como um grupo de pessoas de menor qualidade, cujo estatuto se coloca sempre num nível inferior ao dos seus cidadãos.
Recentemente, a China, que por ideia dos seus dirigentes maoistas, determinou o costume legal de um casal só dever ter um filho, a fim de que a sua população não aumentasse indiscriminadamente, começou a perceber que a diminuição dos nascimentos com tal medida já está causar graves dificuldades à sua vida de grande potência e que é prudente rever esta situação, que manifesta desde já um pendor para se tornar uma grande nação em que predomina a gente idosa e falta a juventude.
Infelizmente, também Portugal sofre da mesma maleita. E se, principalmente no nosso interior, já existem aldeias mortas, outras há em que a sua gente é diminuta e incapaz de se renovar, porque os seus moradores já não estão em idades reprodutivas. Ainda há pouco, por exemplo, se noticiou uma povoação com quatro habitantes.
Inclusivamente para a própria Igreja se levantam problemas complexos, porque um pároco, com frequência, tem de assumir o trabalho de várias aldeias de escassa população. Alguém comentava, com certa virulência e má vontade, que isso era uma questão da fragilidade e inoperância das dioceses, que não têm sacerdotes disponíveis, porque o número de padres que se ordena é diminuto. Algum fundamento apresenta esta observação, mas é bom não pôr de parte o que se observou sobre as aldeias do interior e o seu número de habitantes.
Um exemplo: há relativamente pouco tempo, numa das nossas dioceses, houve um sacerdote que assumiu, por indicação do seu bispo, a responsabilidade de encarregar-se de nove paróquias. Quando observei este facto, a mesma pessoa que falou sobre a escassez de novas vocações nos seminários, como que se irritou e disse-me: “Veja se não tenho razão...! O senhor, que foi pároco, segundo me disse, durante doze anos, de uma só paróquia, e não tinha um momento para estar quieto e descansar, veja agora este seu colega com nove... É desumano!” E ficou tão emocionado com a sua conclusão, que se levantou e começou a esbracejar com jeito desorientado...
Procurei acalmá-lo. E comentei: “São situações completamente diferentes... Estive à frente, de facto, duma paróquia citadina com cerca de 16.000 moradores durante doze anos. Este novo pároco assumiu a responsabilidade de nove paróquias do interior. No seu conjunto, o número de habitantes ronda os mil...”
Serenou e não fez qualquer observação...