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A era Montenegro & Melo

O Consulado da Aliança Democrática (AD) teve um início algo atribulado, com uma “novela” parlamentar em que ninguém parece ter-se saído bem na fotografia. Isto, devido à celeuma em volta de um hipotético acordo parlamentar entre partidos para a eleição do Presidente da Assembleia da República (AR), Pedro Aguiar Branco. Candidato eleito à 4.ª ronda, por entre uma barafunda que em nada dignificou a Instituição. No entanto lá acabaria por assomar, de forma partilhada, ao cargo.

Eleição que só foi possível graças ao facto do Partido Social Democrata ter-se ido entregar às bênçãos do Partido Socialista (PS). Mesmo depois de Luís Montenegro (LM) ter andado a dizer cobras e lagartos do seu anterior e do atual líder. Acabando por aceder ao raciocínio que presidiu à ascensão ao poder de António Costa, em 2015, quando resolveu romper com a prática tradicional de que quem propõe a segunda figura do Estado português é o partido vencedor das eleições.

Caso arrumado, eis que o país tem, finalmente, um novo executivo que todos sabemos vai enfrentar tempestades, raios e coriscos da banda daqueles a quem não quis passar chapa e não só. Aliás, a extrema-esquerda, que prefere ver no que a coisa vai dar, tem andado afoita a ameaçar morder-lhe as canelas através da contestação e dos protestos nas ruas, se as políticas não lhe agradar. 

Quem o diz é o recém-nomeado chefe da maior central sindical portuguesa, Tiago Oliveira, ansioso por mostrar serviço ao PCP, que já veio a terreiro prometer dar luta sem tréguas, da CGTP, a este Governo, segundo ele, ao estilo “cavaquista” e “passista”. Como se Cavaco Silva não tivesse deixado obra no país e Passos Coelho, entre 2011 e 2015, não o tivesse tirado da bancarrota do PS.

Contudo, este novo Primeiro-ministro, LM, tem de ter presente a situação por que Passos passou no seu 1º. mandato, em que se viu obrigado a obedecer à Troika, promovendo políticas de austeridade que toda a esquerda, ainda, hoje cavalga. Digo isto, porque se está a pensar levar por diante as reformas de que o país carece, e o PS em 8 anos não quis fazer, poderá voltar a confrontar-se com reações semelhantes. É que reformar significa alterar procedimentos e mexer com as pessoas nos vários setores públicos. E caso haja excesso de voluntarismo, tal ímpeto reformista poder-se-á voltar contra o reformador. 

Daí, há que ter aprendido a lição de que o que mais parece valer – nesta sociedade dividida entre esquerda e direita – é usar, á laia do PS, a propaganda, o folclore, fazer que se faz e, zurzir nos outros. Mormente, andar à frente com uma espécie de dois ou três “rafeiros” que se esganicem em loas à governação, ainda que dela pouco se enxergue. 

Por isso, é tempo deste Governo fazer pela vida e decidir com clareza se prefere ignorar parte daquilo que urge ser feito – pelo medo de ser impopular –, ou ir no sentido do dever patriótico de, com coragem, enfrentar as maleitas de que o país enferma. Ou seja, colocar Portugal na senda do desenvolvimento económico, social e político, melhorando a vida dos portugueses. 

Porém, se pensa que vai poder satisfazer os pedidos e reivindicações a tudo e a todos, desengane-se. Porque se o fizer corre o risco não só de desequilibrar as famosas contas certas, como poderá vir a ser o 1.º executivo de pendor social-democrata a deixar-nos na penúria. Razão pela qual deverá não só desinibir-se a falar com todas as forças políticas sem exceção, como empenhar-se a fundo na aplicação dos fundos estruturais europeus, a fim de que Portugal não seja penalizado.   

Enfim, só resta ao país guardar como se irá comportar o executivo desta era Montenegro & Melo que têm à mão de semear uma maioria absoluta de direita. Esperando-se que os seus ministros estejam vacinados contra os “espirros” da oposição e, já agora, sugerir a P. Rangel e N. Melo menos bitaites. É que outras eleições se aproximam e os resultados o legitimarão, ou não, a cumprir os quatro anos de mandato.

Narciso Mendes

Narciso Mendes

8 abril 2024