Tenho a certeza que muitos já ouviram falar sobre as fases do Luto. Quando se pesquisa sobre o tema na internet, encontra-se sim, uma teoria que explica as 5 fases (ou estágios) do luto, nomeando-as e dando-lhes uma ordem: choque/negação, raiva, negociação; depressão e aceitação. Estes estágios do luto fazem sentido, uma vez que, qualquer ser humano, perante uma perda significativa, passa por inúmeros sentimentos. No entanto, não devemos associar as nossas perdas e emoções a estas fases: o luto não cabe em caixinhas e em conceitos pré-definidos!
Quais são, então, as fases luto? Todas. Infinitas. Das mais diversas formas. Cada uma destas fases é válida, claro que sim! As explicações estão corretas, mas… é preciso entender que o luto é um processo que acontece aquando do rompimento de um vínculo afetivo com significado profundo, seja ele por morte ou não. Quando perdemos algo ou alguém que amamos muito, estes conceitos são válidos, mas podem não corresponder à realidade vivida (ou até à ordem pré-estabelecida teoricamente). Não podemos negar a presença dos estágios da raiva, da depressão ou da negociação, no entanto, podemos ou não, vivencia-los de forma significativa e intensa.
Quando passamos por uma perda, o mundo tal como o conhecemos altera. Todas as lágrimas, saudades, raivas, culpas, frustrações, angústias e outros sentimentos e emoções são reações normais e esperadas. Mas, assim como cada pessoa é única, a forma como cada um irá enfrentar e lidar com o luto também o será. Enquanto uns poderão chorar desalmadamente, outros ficarão petrificados. É importante perceber que, não existe uma ordem a ser vivida pois, mais uma vez, enquanto uns expressarão a sua raiva, outros entrarão numa tristeza profunda (depressão). Como também é possível que aquando da notícia da perda, uns a neguem fortemente e outros entrem em negociação. Também é possível alguns terem acessos de raiva e o choque e a negociação só chegarem meses mais tarde! São múltiplos os caminhos do luto e cada um é único. É fundamental perceber que nenhum luto é igual e não existe um padrão. Dizermos que o luto tem fases dá a ideia de um caminho linear de superação.
Não existe “um caminho”, existe sim o “caminho de cada um”, aquele que cada um trilha, da sua forma. O luto não é linear, não existe um fio condutor que deve ser (obrigatoriamente) seguido. O luto é um caminho de dores, sentimentos e ressignificações que só pertencem ao próprio indivíduo. Ressignificar o luto passa por encontrar um novo significado para a vida: não elimina a dor do processo, mas traz-lhe mais leveza.
O importante é que seja entendido que o luto NÃO TEM fases, pois é um processo complexo e imprevisível, que é vivido de forma oscilatória, com altos e baixos, parecendo uma montanha russa de sentimentos. Não existe certo ou errado sobre o sentir. As “fases” podem (ou não) ser vividas: podemos saltar estágios ou simplesmente vivê-los numa ordem completamente inversa. O luto é triste e também faz sorrir; é doloroso e também impulsionador; traz raiva e também saudade… A verdade é que o luto é um processo transformador! Cada luto é acolhido de forma diferente: por isso, dar “fases” ao luto seria limitá-lo e descaracterizar cada história de amor vivido.