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Breviário para redes sociais (1)

Passou a ser moeda corrente que toda a entidade pública ou privada, independentemente da sua dimensão, tenha uma presença online por meio de um site e de redes sociais. Ao deslumbramento inicial suscitado pelas novas tecnologias sucede amiúde um certo cansaço institucional, seja por falta de meios humanos ou financeiros, pelas reiteradas intromissões das cúpulas ou algum ceticismo sobre os reais resultados de tais investimentos. Mesmo quando não escasseiam recursos para contratar profissionais ou entregar essa tarefa a uma agência, há sempre um dirigente ou funcionário que – apesar de não ter qualquer formação na área – dá diretivas de última hora sem ter em conta a estratégia de comunicação previamente delineada. “De comunicação percebemos todos” parece ser o bordão que insidiosamente se instalou no inconsciente coletivo. Posto isto, não será inútil lembrar alguns equívocos.

O primeiro equívoco consiste em presumir que uma boa presença nas redes sociais resolve os problemas de qualquer instituição ou empresa. Se o meu produto, serviço ou mensagem não tiver qualidade ou for pertinente, não há comunicação digital que valha. Quando as vendas não aumentam ou os novos clientes se fazem esperar, o mais certo é que não seja por causa do Facebook ou Instagram. As publicações em linha podem potenciar o que tem qualidade e procura. Não fazem milagres!

O segundo equívoco tem a ver com a obsessão da ubiquidade. Não é necessário estar em todo o lado ao mesmo tempo. Não é porque o TikTok dispõe de mais de um bilhão de utilizadores que tenho necessariamente de abrir conta naquela plataforma. Cada rede tem públicos, ferramentas e códigos diferenciados que nem sempre se adequam aos nossos desígnios. A segmentação de plataformas e contas só faz sentido para entidades de maior dimensão com uma clientela ou utentes diversificados e recursos suficientes para sustentar publicações de qualidade.

O terceiro equívoco consiste em encetar uma presença digital a todo o gás, perdendo fôlego com o tempo, até se instalar um cenário de abandono e desolação. Não há pior imagem do que uma conta com o último post a datar de há dois meses. Mais vale não estar nas redes sociais do que ter espaços digitais desatualizados. A comunicação organizacional não é um empreendimento a prazo que se compadeça com suspensões ou intermitências. O inverso também não é a melhor solução. Inundar a rede com um fluxo desmedido de publicações engendra quase sempre uma diminuição da qualidade e a lassidão dos utilizadores.

O quarto equívoco prende-se com a ilusão de que uma boa comunicação digital é uma forma. gratuita de divulgar os seus produtos e/ou serviços. Qualquer comunicação digital tem custos, ainda mais se tiver qualidade. Requer recursos humanos competentes, tempo, ferramentas e investimento. Além disso, não tem por única missão comercializar algo, mas também estabelecer uma relação de confiança a longo prazo. Mais do que produzir alguns conteúdos virais ou sazonais, em função das nossas necessidades do instante, deve implementar no tempo uma linha editorial coerente, humana e diferenciada.

Um quinto equívoco tem a ver com a disjunção entre o site institucional e as publicações nas diversas redes do universo digital. O cartão de cidadão de qualquer entidade continua a ser incontestavelmente o site, constituído por um conjunto de páginas web que propiciam todas as informações e contactos necessários. As redes sociais são apenas uma ponte, nunca um fim. De per si, o número de likes ou interações não pode ser o objetivo último. Uma parte significativa das publicações deve direcionar o utilizador para o site, o qual deve estar sempre devidamente atualizado. Ademais, nas suas digressões digitais, é cada vez mais raro ler-se textos para além da terceira linha. As redes sociais devem ser autoestradas que nos transportam para outras dimensões e não tanto espelhos em que nos miramos narcisicamente.

(Continua)

Manuel Antunes da Cunha

Manuel Antunes da Cunha

16 dezembro 2023