A mão comporta uma forte e significativa linguagem de comunicação, pois através das mãos nós nos damos a conhecer e conhecemos os outros. Por vezes há pessoas que falam com as mãos, mesmo sem ser em linguagem gestual - essa específica para pessoas não-ouvintes. Se a mão é tão importante na nossa comunicação, ela configura estilos e modos nas diversas áreas do relacionamento humano. Vamos tentar refletir sobre duas das imensas forma de linguagem das mãos: a mão aberta e o punho cerrado...sobretudo agora que nos preparamos para viver um período de confronto político mais aceso.
1. Quem não terá já reparado que ideologicamente as mãos abertas – seja qual for a postura dos dedos – aparecem-nos mais conotadas com as (apelidadas) forças de direita e que, por seu turno, o punho cerrado como que simboliza as (ditas) ideias de esquerda. Haverá nisto algum fundo de verdade? Que raízes histórico-ideológicas podem ser aferidas a estas possíveis interpretações? Será que os ‘nossos’ políticos e afins compreendem esta distinção? Já se terão apercebido que qualquer destes gestos não é anódino, antes envolve linguagens atinentes? Como explicar, de forma simples e clara, a significação de tais comunicações de massas? Numa época de simbologias não será conveniente para todos conhecermos e sabermos o significado das coisas e dos gestos?
2. Nós falamos com as mãos e as mãos falam daquilo que nós somos, isto é, a nossa forma de expressão oral é complementada com a expressão gestual.
As mãos amam, falam (por gestos) e acariciam, tocam e deixam-se tocar; as mãos tranquilizam e agridem, desejam e repelem; comunicam amor e agressão, serviço e domínio sobre o outro. Por isso a nossa língua é rica em expressões acerca da mão.
Na comunicação pelas mãos podemos percecionar a mensagem que nós queremos dizer e o que os outros nos pretendem transmitir. As mãos são arma e utensílio mesmo na linguagem política e ideológica...
3. O punho cerrado ou punho erguido é símbolo de solidariedade e de apoio a causas relacionadas com conflitos sociais como racismo, xenofobia, sexismo, entre outras mazelas que fragilizam as relações humanas. Também tem sido utilizado o punho cerrado como saudação para expressar unidade, força, desafio ou orgulho de pertencer a um grupo social e politicamente minoritário. A saudação remonta a antiga Assíria como um símbolo de resistência em face da violência.
No século XIX, o punho fechado como símbolo de enfrentamento esteve presente durante o episódio da comuna de Paris (1871), dos mártires de Chicago (1886) e na revolta dos Boxers (1899-1901). No século XX, o símbolo da mão foi largamente utilizado na revolução russa (1917-1921), como saudação vermelha, na guerra civil espanhola (1936-1939), como saudação anti-fascista, e também na Alemanha, como saudação nazista. Foi sinal usado ainda pelas lutas nacionalistas e de descolonização na América, África e Ásia, do movimento feminista e do movimento negro, chegando ainda às insurreições da atualidade...
4. Agora que estamos a entrar na refrega eleitoral em vias das próximas eleições antecipadas precisamos de estar atentos aos gestos – talvez mais contundentes dos que as palavras – daqueles que nos querem impingir a sedução ao voto. Felizmente nestas lides da democracia cada um só tem um voto, embora haja quem queira parecer que o seu é de qualidade e que intente fazer valer mais do que o dos outros.
De uma coisa estou certo: o punho cerrado pode refletir união e combate, mas não dá nada a não ser revolta, reivindicação e esmagamento, ao invés da mão aberta que pode receber e dar, por muito pouco que seja...hoje como ontem!
5. Faz hoje 43 anos que se deu o ‘acidente de Camarate’…Não será um exemplo da luta entre a mão aberta e o punho cerrado? Tanto tempo depois a nebulosa continua…