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Férias em tempos de crise

Vamos para férias, insatisfeitos e infelizes, com um país soturno; e este estado de espírito da maioria dos portugueses resulta do mau funcionamento ela sociedade, devido à pouca eficiência, competência e clarividência de quem nos governa. 

Não é novidade para ninguém, a não ser para os que andam a dormir na forma, que o horizonte temporal do primeiro-ministro é ocluso e calculado; e, assim, não é por acaso e, muito menos, por amor ao trabalho fora de portas, que António Costa passa demasiado tempo, como diz o povo, no arejo. 

Pergunta, então, o meu-bom leitor: o que anda.a fazer António Costa? Ora para quem não é mirolho ou dono de ideias curtas, é lógico pensar que anda a tratar da vidinha ou seja a trabalhar para o alcance de um bom cargo, um cargo de prestígio na União Europeia. 

E mesmo não seguindo as pisadas de Durão Barroso que se pirou de S. Bento para Bruxelas, noutros tempos, está à vista que, quando afirma muitas vezes que os quatro anos de legislatura são para levar até ao fim, este não é o cumprimento obrigatório de uma promessa como, por exemplo, a de ir a pé ou sem fala a Fátima; porque olhando nós ao seu longo passado político, as voltas e reviravoltas tem sido muitas, assim fazendo jus à lógica da dobadoira. 

Vejamos, somente, este golpe de asa do primeiro-ministro; porque foi ele, há tempos, a Budapeste, capital da Hungria, num Falcon da Força Aérea assistir ao final da Liga Europeia de Futebol, sentado ao lado do ditador Víktor Orbán e dar um abraço a José Mourinho? A meu ver, interessava-lhe mais a conversa com Orbán, devido à sua influência na União Europeia, do que ver a bola ou dar o abraço ao treinador. 

Todavia, não sejamos tansos, porque, olhando à nossa volta, o que se passa com governo de António Costa tem sido um chorrilho de confusões, baralhadas, asneiras e bacoradas que reclama mais a sua presença no país do que fora de portas: e, além do mais, há tanto que fazer em tantas áreas da governação que a constante ausência de António Costa até parece um virar de costas aos graves problemas dos portugueses.

Agora, basta pensarmos que a Europa sempre aliciou os nossos políticos, fosse para o cargo de deputado europeu, fosse para ocupar a cadeira de dirigente ou comissário de qualquer coisa; e, até, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, me parece já desejoso e cobiçoso de um lugarzinho no Banco Central Europeu. 

E, então, deixa-se o país para trás imerso nos seus graves problemas: na economia, no serviço nacional de saúde, na justiça, na educação, na habitação, nos incêndios florestais, na poluição ambiental, na proletarização da classe média, na privatização da TAP, na construção do novo aeroporto, nas desigualdades sociais, e na fuga dos jovens para o estrangeiro; e as maiores urgências e prioridades no lançamento das reformas básicas na administração pública são esquecidas ou, pior ainda, deixa-se de lado a resolução urgente da perda de água nos rios Tejo, Douro e Guadiana para os espanhóis ou a inexistência de projetos para enviar água do norte, onde ela abunda, para sul onde escasseia ou para a dessalinização na busca de água potável num país com tamanho mar como o nosso.

Pois bem, ainda, há tempos, quando a presidente do Conselho Europeu, senhora Roberta Metsola, na vinda ao nosso país, dizia que contavam com António Costa em Bruxelas, esta já é uma boa achega para que ele lute pelo lugar; mas isso só se poderá decidir após as eleições europeias de 2024; pois, Pedro Sánchez, como igualmente concorrente à presidência do Conselho Europeu, vai nelas jogar o seu futuro o que, obviamente, pode decidir definitivamente, para o bem ou para o mal, o de António Costa, futuro esse comprometido ainda mais com a provável vitória do PPE (Partido Popular Europeu); e, então, seria este o xeque-mate nas suas ínclitas aspirações. 

Declarou o primeiro-ministro nas recentes celebrações dos 50 anos do PS que é um princípio fundamental da democracia honrar os nossos mandatos e cumprir os compromissos; ora, se não for agora em 2024, só em 2029 é que terá hipóteses de conquistar um lugar na Europa o que já me parece um tanto tarde. 

Mas, senão for na Europa, descanse o senhor primeiro-ministro, pois já temos por cá bons empregos, como sejam a Presidência da República ou da Gulbenkian; todavia; há um princípio fundamental na política e que é não se poder deixar fugir as oportunidades quando elas espreitam, porque o futuro sempre incerto e improvável se apresenta e mais vale um pássaro na mão do que dois a voar, como lá diz o nosso povo. 

Por isso, António Costa tem no seu horizonte imediato, a meu ver, a conquista de um cargo na União Europeia, embora o desminta e sempre afirme que vai levar a legislatura até ao fim; mas, nessa não caio eu e o futuro o dirá. 

Pois bem, este é a face mais visível e óbvia do país e que traz a maioria dos portugueses descontentes, insatisfeitos e infelizes; mormente, quando às portas das ansiadas férias, esperavam um tempo bom de descanso e de reposição de energias 

Então, boas férias, se for caso disso, e até setembro. 

Dinis Salgado

Dinis Salgado

12 julho 2023