A neve, Whitney Houston). Há semanas, soube-se que morreu, na nivosa Zürich, onde residia, a grande cantora de “rock” Tina Turner. Aos 83 anos, salvo erro de cancro gástrico. Eu ignorava por completo que Tina, na sua velhice, tinha para lá ido morar. E que casara, já idosa, com um empresário suíço. Motivos fiscais, razões de saúde? Tão longe dos campos de algodão do seu rio Mississippi natal. A 1.ª ideia (romântica, por certo) que me veio à cabeça, foi se não se teria inspirado nas cenas de neve do notável filme “O guarda-costas”, em que a malograda cantora afro-americana Whitney Houston se apaixona por Kevin Costner, num comovente romance inter-racial. E ocorreu-me também, que uma cantora de música moderna norte-americana como Tina era, pessoa de bom gosto nesse campo, devia ter tido oportunidade para conhecer e eventualmente contactar, com a notável música folclórica dos Alpes alemães (e franceses), o “yodel”. Por certo desconhecido para ela; mas que, penso, a deve ter deliciado.
A reaparição (e renascimento) de Tina, foi com “Better be good to me”). A justo título, os mais velhos lembraram agora aos mais novos a existência, o mérito, a biografia resumida, os êxitos da grande Tina Turner. Em vários noticiários ou até em programas de rádio dedicados a ela. Talvez por apenas se guiarem pela Internet (ou porque até já foi há cerca de 35 anos…), os promotores ou apresentadores não deram o devido relevo à principal canção que a trouxe de novo à ribalta. Que foi o extraordinário “Better be good to me” (“é melhor seres bom para mim”); que teve várias interpretações de Tina. Penso até que foi a 1.ª delas que foi algo de monumental; com Tina, sucessivamente a usar todos os registos (desde o pedido, ao aviso, à ameaça, ao implorar) feitos a um eventual namorado (ou amante), para que doravante “fosse bom para ela”, senão… Entre os 40 e os 50 anos de idade, a sua voz estava no apogeu; assim como o seu domínio do palco, a exibição do seu corpo elegante, da sua face harmoniosa e leal, do seu espírito livre e “rockeiro”, que tanto podia ser de branca ou de negra (aliás tão imitado a seguir, por cantoras de menor qualidade, desde Madonna a Beyoncé). Uma “negra-branca”, aliás sábia pioneira no uso das cabeleiras alouradas, imitando os Maasai e suas perucas de pêlo de leão.
Nascida no oeste do Tennessee e com sangue nativo). Rezavam as antigas crónicas, que a mulata Tina “Turner” (nascida em 1939 Anna Mae Bullock) tinha também sangue dos índios Cherokee. E que, na sua agitada infância tinha ajudado os pais no “cotton picking” (apanha de algodão). Veio ao mundo no território da cada vez mais saudosa Confederação; nos arredores da vila de Brownsville (não confundir com a cidade homónima, oposta a Matamoros, na fronteira do Texas). A aldeia era Nutbush (“nogueiral”). E este nome deu origem ao título de um bom tema “rockabilly”, em que cantava já ao lado do marido (Ike Turner), sentado pachorrentamente numa cadeira, com uma guitarra; e que, no Youtube, parece estar ali com a indiferença de quem está apenas a exibir as habilidades dum seu cãozinho amestrado. O facto de ser agredida repetidamente por ele, levou ao divórcio (em 1978, após 16 anos de união). O grupo Ike and Tina T. tinha já acabado em 76. Na velhice (finalmente) parece que Ike foi diagnosticado com a “doença bipolar”. Nos anos 80, Tina, já livre, lançou “Be good to me”, “Private dancer”, “What's love got to do with it, “Typical male”, “Goldeneye”.
Mulheres conhecidas pelo apelido de (ex-)maridos). É frequente. É o caso de Angela (Kastner) Merkel; Helena Roseta; Mª do Céu (Avilez) Nogueira Pinto; Tina Turner, etc. Algumas vezes, mesmo depois de divorciadas. Em sentido paralelo, o exemplo dum grande amigo do meu pai (ambos já falecidos). Trata-se do catedrático de Matemática Andrade Guimarães; que lembrava que o seu nome (Guimarães) era agora conhecido nos anais da Química, visto que a esposa, investigadora em Cambridge e Oxford (a prof.ª Dirce Milheiro Caldas Guimarães) era conhecida pelo seu último apelido; e as suas descobertas levavam o nome do marido…
A violência sobre velhos e no namoro). Na nossa época (decadente) os pais estão proibidos de admoestar fisicamente os filhos. Daí que (em parte como reacção a exageros deste quilate), campeie a violência generalizada. E também a falta do menor respeito para com os velhos. E ainda, a antes tão rara, violência no namoro. A qual é, em certos círculos mais desfavorecidos (e corroídos pela Droga), um comportamento corriqueiro.
Dulcineia Gil e a insegurança masculina). No tempo “em que os animais falavam” (e dizem, isso não vi, os dinossáurios até cantavam) eu estava a estudar em Lisboa; preparava-me para os exames de acesso ao 2.º ano de Direito. Foi quando em Junho, à saída do metro de Entrecampos, comecei a namorar com uma formosa, clara e bela algarvia que usava vestidos curtos e decotados. A inexperiência dos meus 19 anos, insegurança e ciúme, levaram a que eu passasse noites em branco e ao fim de 15 dias (e de 3 saídas, uma delas ao Zoo) pusesse fim ao romance, para protecção da minha saúde. E não passei de ano (nem sequer fui aos exames…). Outros, como Ike Turner, optam por bater nas mulheres; e hoje estão muito mais na moda… Enfim, as Dulcineias também nunca deram muita sorte a reformadores radicais, como eu (que na altura lembrava o veterano e também algarvio Calvário). A mim ou aos colegas Cervantes e Quijote, vá lá…
Tina Turner e “Better be good to me”
Eduardo Tomás Alves
13 junho 2023