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“Uma risada por dia...”

“Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!” (Friedrich Nietzche). Eis uma afirmação que ajuda a fazer a ponte entre o texto da semana passada, sobre a dança, e o desta semana, sobre o riso. 

Celebrado por uns a 18 de janeiro e por outros a 7 de maio, o Dia Internacional (Mundial) do Riso chama a atenção para uma das dimensões fundamentais da vida e da convivência. Não sendo nossa intenção fazer um tratado sobre o riso, pretendemos apenas sublinhar a sua importância e fazer a sua apologia. De facto, o riso é a melhor forma de estar na vida, mesmo quando os problemas nos fazem chorar. É desconhecido o seu autor, mas assertiva a sentença: “de riso em riso, se chega ao paraíso”. 

Mais do que uma expressão facial que decorre da contração dos músculos das extremidades da boca, o riso começa no cérebro e revela um estado de espírito. Sendo, por regra, expressão de alegria, pode também exprimir ansiedade, desprezo, crítica e, no limite, até tristeza, tal como o choro alegria (“até chorarei de riso”).

É tão saudável sorrir que se diz entre nós: “uma risada por dia, não sabe o bem que lhe fazia”. Basta, para o efeito, atender aos seus benefícios fisiológicos (queima calorias, melhora a qualidade do sono, fortalece os abdominais, melhora a circulação sanguínea, potencia a respiração, favorece a digestão, fortalece o sistema imunológico) e psicológicos (reduz o stress, estimula a criatividade e estreita laços). Por outras palavras, “o riso humaniza, suaviza, liberta, alivia, conecta... o riso é catarse!” (Marilia Hoffmeister). 

Não melhorando apenas a pessoa em si, o riso melhora também a convivência e a relação social: “rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso” (Mia Couto). Se o riso favorece a convivência humana, também se afigura, junto com a ironia, uma arma de defesa dos oprimidos: “O maior inimigo da autoridade é o desprezo e a maneira mais segura de solapá-la é o riso” (Hannah Arendt). Chega até a ser a arma de arremesso contra a ignorância (afirma Leandro M. Cortes: “E deixar o riso falar foi a forma mais doce e elegante que encontrei para calar a sua ignorância”) e o ridículo (é de Nino Carneiro a frase: “O ridículo provoca riso e o riso derruba a credibilidade”). 

 “O riso é a melhor demonstração de inteligência” (Alessandro Cezar Pinto) e também uma das melhores respostas à dureza da vida: “No meu ver, o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso” (Ariano Suassuna). É também um bom antídoto contra os problemas: “A primeira etapa na solução de um grande problema é diminuí-lo através de um riso!” (Reinaldo Ribeiro).

O riso é ainda a melhor resposta a comportamentos moralmente reprováveis e, por isso, já os latinos diziam: ridendo, castigat mores (“a rir, se corrigem os costumes”). De facto, quando não concordamos com determinadas atitudes ou ordens, o melhor é sorrir, porque “o riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica” (Eça de Queirós).

Contagioso, o riso tem também o condão de ser poderoso: “a raça humana tem apenas uma arma realmente eficaz: o riso” (Mark Twain). Aproxima-nos uns dos outros e também de Deus. Talvez seja por isso que o povo diz: “um santo triste é um triste santo”. 

 

 

 

P. João Alberto Sousa Correia

P. João Alberto Sousa Correia

8 maio 2023