O mês de Maio, para um fiel da Igreja, é sempre um tempo em que a Mãe de Jesus, que assumiu a nossa maternidade a pedido do seu Filho, quando este se encontrava no Calvário pregado na Cruz, aproxima-nos mais de Deus e mostra-nos que a sua incumbência se desenvolve dum modo muito familiar.
Nossa Senhora tem plena consciência do seu papel maternal, não apenas porque nunca recusou a Deus o cumprimento da sua vontade, como entendeu do seu Filho que os homens, também no âmbito sobrenatural, precisavam de uma Mãe – ela é também Mãe de Deus – que tornasse mais acessível a relação entre o ser humano e o seu criador. Ao tornar-se simultaneamente Mãe de Deus e nossa Mãe, vale a pena repetir esta faceta de Maria, ela aproxima a humanidade da divindade e vice-versa.
Por esta razão, que a Igreja dedique um mês inteiro à devoção mariana não é um exagero nem uma atitude incompreensível, mas a manifestação de que o papel de Nossa Senhora na salvação dos homens é algo que Cristo quis, para a tornar mais acessível. Certamente que a Redenção que Jesus nos proporcionou é a chave fundamental da nossa possibilidade de chegar ao Céu, depois de ter estado impossibilitada pelo pecado original. No entanto, Jesus, ao prescindir de ser filho único de Maria e ao estender o seu papel de Mãe a todos os homens de todos os tempos como que nos quer comprovar, de um modo muito afectivo e prático, que o desejo divino de salvação não é uma teoria abstracta, mas algo de real e palpável, que ganha um tom ainda mais familiar com a maternidade comum de Nossa Senhora: Mãe de Deus e Mãe dos homens, insiste-se.
Conta-se que numa família cristã, um filho de sete anos perguntou com simplicidade à sua mãe, porque é que Nossa Senhora, como a sua progenitora lhe ensinara, “fazia anos em todos os dias de Maio”, acrescentando que, por esta razão, era preciso dar-lhe quotidianamente uma prenda generosa de oração, de bom comportamento e também os parabéns.
O rapaz considerava um exagero. E com ingenuidade dizia muito convicto: “Nossa Senhora tem trinta e um dias de anos... e eu, só um. Isso não é justo...” E, apesar da sua tenra idade, torcia o nariz e marcava a sua testa com rugas muito fogosas.
A mãe esforçou-se por lhe explicar que entre ele, ou ela mesmo, e Nossa Senhora havia um distância muito grande. “A Virgem Santíssima, repara bem, é Mãe de Deus e Mãe de todos os homens. Por isso, que todos lhe demos 31 dias de parabéns é muito justo”.
O filho não se mostrou muito convencido com esta argumentação. Parecia-lhe que ele, à semelhança de Maria, devia ser festejado em mais do que um dia. Já não exigia trinta e um, mas mais alguns – insistia – era justo.
A mãe tentou com outra argumentação chamá-lo à razão, mas a sua posição não foi demovida. Continuava a considerar um exagero tantos dias para a Mãe de Jesus e só um para ele. Não é que se sentisse muito importante, observava, e também que Nossa Senhora não o merecesse, mas pensava que ele devia festejar mais vezes o seu nascimento. Ou seja, que Maria Santíssima tivesse lá o seu mês de aniversário não lhe parecia mal, mas achava injusto que ele só fosse festejado um dia por ano.
A conversa não prosseguiu e cada um foi à sua vida.
À noite, perto da hora do jantar, o filho foi procurar a sua mãe. Via-se que estava sorridente e satisfeito.
– Que queres, filho?
O rapaz hesitou um pouco. Estava como que emocionado e, ao mesmo tempo, muito convencido do que ia dizer. Pensou durante uns momentos e, por fim, exclamou: – Mãe, já percebi porque é que Nossa Senhora faz anos durante todos os dias do mês de Maio... E tem de ser assim, acrescentou...
– Diz-me então, filho...
Juntando ambas as mãos e com elas bem unidas, explicou: – É que se só tivesse um dia de anos, com tantos filhos a dar-lhe os parabéns, os telefones do Céu entupiam-se...
A mãe ficou comovida. Não disse nada. Calada, pensou: “Quando cresceres, acharás por ti mesmo outras soluções…”.