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A responsabilidade de escolher

São muitos os momentos em que Deus coloca ao homem a responsabilidade de escolher o seu caminho. Percorrer os textos sagrados é deparar com este desafio com bastante frequência. Neles, são apontados dois caminhos: o da felicidade e o da perdição; o do bem e o do mal. E é destas escolhas que dependerá o futuro. Um dos caminhos surge do fundo da interioridade, outro de vozes múltiplas e sedutoras.

Confrontado com este desafio, o homem nem sempre toma a decisão mais acertada, mas Deus respeita-a, permitindo que ele experimente as consequências que daí advêm. 

Hoje, o homem é permanentemente confrontado com este dilema: por um lado, existe o caminho da facilidade, que emerge das emoções, das influências orquestradas pela publicidade e pelos artigos de opinião, mas também do apelo ao consumismo, fatores estes que o impelem para o que lhe parece ser mais fácil; por outro lado, existe um caminho caracterizado por mais dificuldades, mas que garante uma felicidade mais duradoura e estável. São sempre dois caminhos que nunca se encontram nem se disputam. Poder-se-á considerar que se trata de uma concorrência desleal, uma vez que o caminho mais fácil aponta para aquele que é mais cómodo e imediato e que, por isso, não nos deixa tempo para pensarmos nas consequências da nossa escolha. No entanto, penso que deveria ser obrigatório escolher para não deixar que a vida caminhe à deriva.

No fundo, trata-se de ser ou de parecer feliz: um dos caminhos garante estabilidade no meio de conquistas e sacrifícios; outro só apresenta facilidades que rapidamente se descartam, numa ânsia por novas experiências. E são muitos os que abraçam apenas o que os ventos da história lhes oferecem.

O que está aqui em questão não são os momentos de felicidade, mas a própria felicidade. Ter alguns momentos de felicidade é muito fácil, mas experimentá-la é extremamente exigente.

Este é o desafio da Páscoa. Houve uma opção pelo caminho, e depois, na fidelidade, surgem as alegrias e as aleluias que interpelarão aqueles que andam por outros caminhos. E os resultados vão surgindo ao longo desta caminhada, na alegria e nas aleluias que interpelam os outros.

Seguir o caminho de Cristo é a única opção que temos; por isso, nunca deveríamos desistir dele, pois a Hora surgirá para quem não teme encarar o caminho do bem, da verdade, da justiça, da fraternidade, da igualdade, da inclusão e do sacrifício pelos outros. É a fé que o diz, e a experiência que o confirma.

É importante ousar e saber escolher para sempre; contudo, para que isto possa acontecer, temos de nos preparar. São muitos os que não conhecem os contornos destes dois caminhos e que escolhem aquele que lhes é proposto como sendo o mais fácil. É por isso que a formação é muito importante: ela dá consistência e lança raízes. 

Efetivamente, quando a fé é ténue e sem fundamentação, um pequeno problema parece mostrar-nos a validade do outro caminho. Sabemos que muitos cristãos não conhecem nem procuram razões, que agem apenas por intuição, seguindo pelo caminho mais fácil. 

Urge refletir os conteúdos destes dois caminhos, confrontá-los e retirar desse confronto algumas conclusões. A leitura pessoal ajuda, mas um trabalho em conjunto e a existência de um grupo consistente de amigos facilita muitíssimo esta tarefa. 

Felizmente, começam a surgir estes grupos que nos permitem esquecer o quotidiano da vida e nos ajudam a refletir sobre coisas que verdadeiramente importam. Aí, acontece a luz, e a vida, sem deixar a sua normalidade, ganha consistência, pois o grande mal do mundo moderno reside precisamente na ausência de consciência. E são poucos os que se mantêm coerentes na sua fé e que ousam seguir um pensamento refletido. 

Proponho que a Páscoa não seja uma mera solenidade exterior. Importa viver alguns momentos marcantes da vida de Cristo e colocar-se perante as consequências que devem trazer para a vida, não emotivamente, mas reflexivamente. Saibamos escolher sozinhos o caminho do bem, descobrindo motivos que mantenham sólido e consistente o edifício da fé. Serão os escândalos ou as incoerências a desligar o laço que une a vida a Cristo Ressuscitado, ou será este laço com este Deus vivo e amigo do homem que encanta e entusiasma em todos os momentos, mesmo que difíceis ou incompreensíveis? 

Saibamos escolher, sejamos verdadeiramente objetivos, e o resultado das nossas escolhas será, certamente, a coerência.

D. Jorge Ortiga

D. Jorge Ortiga

6 maio 2023