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Porque choramos quando nascemos?

Porque choramos tanto quando nascemos? 
Há, seguramente, uma miríade de premissas empíricas e de argumentos com forte suporte científico. 

Mas a explicação mais bela – obviamente não-científica – encontrei-a (imaginem!) em Freud. 
Para ele, choramos ao nascer porque «sentimos» que estamos a sair do lugar mais seguro do mundo e para onde nunca mais voltaremos: o ventre da nossa Mãe. 

É por isso que, sobretudo em momentos de aperto, é por ela que chamamos e é o seu colo que procuramos.
Ninguém nos conforta como ela; ninguém nos escuta como ela; ninguém nos entende como ela; ninguém intui como ela; ninguém acerta como ela.

A nossa Mãe pode não ter lido muitos livros, mas «estudou-nos» como mais ninguém.
Ela «sabe-nos» por dentro e por fora; nela não há ficção, eufemismos ou intermitências. Com palavras ou em silêncio, a sorrir ou a chorar, a Mãe «está». Não falha nem falta.

É por tal motivo que, quando a Mãe parte, as lágrimas voltam a cair convulsamente, perpetuamente.
A Mãe continua a «estar», a proteger e a guiar. Só que nós nem sempre ouvimos o eco daquela voz interior. Trazemos a nossa Mãe connosco, mas somos órfãos daquela palavra melodiosa, daquele carinho inimitável.

Não escondo que, muitas vezes, estou como Rúben Alves. «Escrevo como sonâmbulo, na esperança, talvez, de que as palavras consigam diminuir a minha dor». 
Contudo, «eu não quero que a dor diminua. Não quero ficar alegre de novo. É possível que, quando dor diminui, o esquecimento já tenha feito o seu “trabalho”».

Por conseguinte, «não quero esquecer. O amor não suporta o esquecimento». No fundo, «o que o amor deseja é eternizar a dor, transformando-a em coisa bela».
Sim, também pode ser bela a dor, desde que tecida – e desmedidamente tingida – por doses infindas de amor.

Frequentemente, salta-nos a pergunta: «Qual a pessoa mais poderosa do mundo?» Sarah Josepha Hale achava que «nenhuma influência é tão poderosa como a da nossa Mãe». 
É que a nossa Mãe tem o maior poder que alguém pode ter: o poder do amor. 

Assim sendo, não lhe agradeçamos tarde o amor que ela começa a mostrar tão cedo. 
Nenhum poder é tão seguro porque nenhum amor é tão puro. Como seria melhor a vida se a palavra das mães fosse mais ouvida!

É deste modo que não há um «depois da Mãe». Há sempre Mãe: desde o nosso nascer até depois de ela morrer.
Crescem amores efémeros; ainda vão sobrevivendo amores duradouros. Mas, neste mundo, só alguém é capaz de imortalizar o amor: a nossa Mãe. Como não amá-la por todo o sempre? E como não chorá-la até ao (definitivo) reencontro?

João António Pinheiro Teixeira

João António Pinheiro Teixeira

4 maio 2023