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FRANCISCO SALGADO ZENHA – ESTUDANTE

Francisco de Almeida Salgado Zenha nasceu em Braga em 2 de maio de 1923 e foi para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 1940, depois de frequentar o Liceu Nacional Sá de Miranda, em Braga,.

Em Coimbra, foi eleito em Assembleia Magna de Estudantes, realizada em 13 de Dezembro de 1944, presidente de uma direcção composta por nove membros, nomeada por  portaria do Ministro da Educação Nacional publicado no Diário do Governo de 22 de Dezembro desse mesmo ano e empossada pelo Reitor em 13 de Janeiro de 1945, tendo sido demitida em 29 Maio desse mesmo ano.

A eleição, nomeação e demissão desta Direcção só pode compreender-se à luz do contexto ditatorial da época. Desde 1936, que a direcção da Associação Académica de Coimbra (AAC)  passara a ser nomeada pelo Governo , mas em 1944, antes da nomeação de uma nova direcção, agindo muito habilmente, a Assembleia Magna da Academia elegeu a direcção presidida por Francisco Salgado Zenha, como atesta a ata de posse, e o Reitor da Universidade, acatou esta eleição, indicou-a para despacho do Governo e empossou-a de seguida. Estava longe de pensar no que se iria seguir, sendo certo que a Direcção de Francisco Salgado Zenha (FSZ) actuou, sempre,  combinando o necessário diálogo e lealdade com  firmeza na defesa dos interesses dos estudantes.

Foram apenas cinco meses de exercício do cargo, mas desse período ficou memória da intensa actividade desenvolvida através de um opúsculo intitulado “Relatório e Contas da Direcção da Associação Académica de Coimbra (Dezembro de 1944 a Maio de 1945)” que relata objectivamente  essa mesma actuação, acompanhada com a muita e fina ironia de FSZ

A Direcção a que presidiu cuidou muito da cultura e do desporto, que tão mal estavam,  mas esteve longe de ficar por aí. Tratou de coisas tão simples como o preço do banho e do sabão nos balneários públicos, de descontos para os estudantes na Livraria Atlântida e da fixação de preços no Bar da AAC, no que teve êxito,  até assuntos da maior importância para os estudantes como o restabelecimento da representação destes no Senado Universitário e na Assembleia Geral da Universidade, a realização de um Congresso dos Estudantes e a mudança do sistema de exames nas duas Faculdades de Direito então existentes no País. De salientar também que o jornal dos estudantes “Via Latina” passou rapidamente de uma tiragem de 600 exemplares para 3.000 à data de Maio de 1945. Como se imagina essa luta apesar de muito bem conduzida não teve, nem podia ter sucesso. Ficou o testemunho.

O modo como ocorriam os exames em Direito merece referência porque o ensino era ministrado durante o ano por cadeiras e o exame era feito num só dia a todas elas. Os alunos pediam nomeadamente  que passasse a haver um intervalo de, pelo menos, oito dias de exame para exame.

A luta pela representação nos órgãos da Universidade foi constante nos sucessivos diálogos com o Reitor, mas sem sucesso e a vida democrática desta Direcção terminou desta forma. No dia 19 de Maio de 1945 organizou-se uma manifestação de gratidão a Salazar pela não participação na II Guerra Mundial e no dia 17 de Maio o Reitor convidou Francisco Salgado Zenha para uma entrevista  durante a qual convidou a Direcção da AAC para se fazer representar na manifestação em Lisboa. Salgado Zenha agradeceu, mas considerando que o convite era para a direcção e para representar a Academia teria de ouvir os estudantes. Em 18 de Maio assim se fez, tendo os estudantes  por maioria absoluta rejeitado o convite, tendo para isso o fundamento de a direcção da AAC ter anunciado , desde o início, que se  limitaria à defesa dos interesses dos estudantes, sem quaisquer outras interferências. 

A demissão ditada pelo Governo veio pouco depois através de despacho de 29 de maio e as palavras críticas  do Reitor dirigidas à Direcção presidida por Salgado Zenha, na tomada de posse de uma comissão administrativa, em 20 de Junho de 1945,  mereceram de Salgado Zenha uma notável resposta que bem  merece ser lida.

Os estudantes da Universidade do Minho têm em Francisco Salgado Zenha um exemplo que devem conhecer e seguir.

António Cândido de Oliveira

António Cândido de Oliveira

28 abril 2023