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Brexit, “uma gota de água no oceano”…

Convivendo há trinta dias num ambiente agradável em Inglaterra, tenho acompanhado atentamente, através da principal comunicação social britânica (Sky News, RT e BBC News), o litígio do irreversível e incontornável “divórcio” do Reino Unido (UK) com a União Europeia (UE), com data marcada para o dia 29 de março de 2019. “Muita tinta ainda vai correr”, porque é um dossier de elevada complexidade para ambos os lados e é certo que Theresa May não vai defraudar a vontade dos quase 52 % da população inglesa apoiante do Brexit, das regiões a sul de Londres, contra os que defendem a continuidade do UK na UE, sabendo-se que esta vontade de permanência europeia reside nos grandes centros urbanos de Liverpool, Manchester, Belfast, Leeds, etc., ou seja, com maior impacto a norte da capital londrina. A primeira-ministra Theresa May, que substituiu em julho de 2016 David Cameron, defende um entendimento coeso, responsável e sem conturbação processual na harmonização dos acordos, manifestando total disponibilidade na abertura expansionista da troca comercial com a União Europeia, incluindo o alívio nas taxas alfandegárias, como inicialmente era unânime entre alguns dos protagonistas do seu Governo, no aumento na política aduaneira, taxação de impostos e subida do IVA. A líder do Governo britânico é apontada como uma personalidade de elevado cariz estratégico, mune-se de uma virtude rara no perfil dos governantes que é manter o que diz, resiliente por formação educativa e académica em nunca se deixar abater pela derrota e empenhar-se na obtenção de melhores resultados, assumindo desde a demissão do seu aliado e braço direito, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, as negociações do Brexit na sua reta final. No tocante a Portugal, exportou bens (automóveis, acessórios, equipamento eletrónico, medicamentos, produtos têxteis e calçado, papel e vinho), no valor de 1300 milhões de euros, contra a importação do Reino Unido (automóveis, sucata [desperdício de ferro e aço], equipamento de tecnologia telegráfica e telefones, medicamentos, sangue humano e vacinas, bebidas espirituosas, gás de petróleo e hidrocarbonetos gasosos), no valor aproximado de 710 milhões de euros. Embora não recenciada desde 2016, a comunidade portuguesa calculada em 147 mil cidadãos a trabalharem e domiciliados no Reino Unido, parece ter encontrado o caminho de vida na vertente de projeto de continuidade profissional e residencial, não temendo qualquer efeito do Brexit alocado ao estatuto de “emigrante”. Será muito difícil alternar o seu país de origem como retorno estrutural no âmbito da sua permanência profissional, social e familiar, devido à crescente dificuldade de arranjar emprego a sério. O Governo de May tem sofrido diversos golpes de bastidores em sintonia com as divergências da oposição dos mais radicais sobre a manutenção das relações bilaterais com Bruxelas e ao alargamento da expansão comercial da Commonwealth havendo indicadores presumiveis na fragilidade económica e debilitação monetária face aos superiores interesses do UK. Theresa May, uma governante muito restrita no espaço público, tem como “assessor” de confiança absoluta o seu marido Philip May no debate de ideias e status políticos, persistindo em levar a bom porto com a diplomacia que lhe é reconhecida, uma separação da União Europeia por mútuo acordo, sem interesse em causar feridas à volta das negociações e seduzindo outros espaços comerciais fora da jurisdição da UE. Os cidadãos britânicos dão como dado adquirido que o seu país, no início de abril de 2019, não fará parte da “irmandade” da União Europeia, na expetativa de uma saída saudável e favorável em prol do reforço da soberania económica, social, monetária e estrutural, apesar de metade da população do Reino Unido inquirida, desejar um novo referendo sobre a permanência ou não no espaço comunitário, vontade esta rejeitada pelo Governo de Theresa May. Até ao dia do desalinhamento entre este “casal” (UE/UK), “muita tinta ainda vai correr”.
Autor: albino gonçalves
DM

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27 agosto 2018