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Discriminação tornou-se aceite na esfera pública e política

Discriminação tornou-se aceite na esfera pública e política
Fotografia Agência Ecclesia/CB

Redação/Lusa

Publicado em 15 de novembro de 2025, às 20:23

A Igreja Católica considerou hoje existir uma degradação da opinião sobre os migrantes, especialmente entre os mais jovens, fruto da eficácia da comunicação de grupos extremistas, e destacou que “a discriminação tornou-se aceite na esfera pública e políti

“Existe uma degradação da opinião sobre os migrantes no espaço público. A discriminação tornou-se aceite na esfera pública e política, o que resulta na normalização e vocalização de comentários depreciativos e narrativas incorretas sobre comunidade migrantes”, lê-se nas conclusões do I Fórum Migrações, uma organização da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) que decorreu em Fátima.

Segundo o documento, a “degradação é especialmente aguda entre os mais jovens, particularmente como fruto de uma maior eficácia da comunicação de grupos extremistas”.

No encontro, estiveram 70 pessoas, entre bispos, agentes pastorais das dioceses com ligação à dinâmica das migrações, organismos nacionais da CEP e congregações religiosas que trabalham nesta área.

As conclusões reconhecem as “dificuldades dos migrantes no acesso à habitação digna, aos cuidados de saúde e à educação”, além das dificuldades “de comunicação e articulação entre as várias entidades eclesiais e civis que trabalham com migrantes e refugiados”.

O documento alerta também para os desafios “no acesso ao reagrupamento familiar” por parte dos imigrantes, o que “é uma ameaça à garantia da dignidade da pessoa humana”, além de comprometer a coesão social.

Entre as linhas de atuação a desenvolver está, por exemplo, a necessidade de a Igreja, que “deve ser uma voz protetora dos migrantes”, ter “uma estratégia de comunicação integrada”.

Esta estratégia implica uma “presença vincada no espaço público e sem receio de se posicionar” para repor “a centralidade dos princípios evangélicos na discussão pública sobre as migrações” e, dessa forma, combater “o preconceito e a desinformação”.

Outra medida passa por “dar voz a todos”, pois “os migrantes necessitam de ser ouvidos, de expressar as suas necessidades e experiências e de participar nas tomadas de decisão que influenciam as suas vidas”, para sublinhar que “a inclusão verdadeira acontece quando são sujeitos ativos e não apenas destinatários de medidas”.

Trabalho em rede, partilha de recursos e aprofundamento de relações entre as instituições da sociedade civil e a Igreja, “com a constituição de equipas interdisciplinares, é essencial para dar resposta ao fenómeno migratório e para formar uma cultura nova de acolhimento ao migrante”, defende o documento.

Por outro lado, refere que “a falta de evangelização na Igreja, internamente, dificulta respostas mais abertas e integradoras”, admitindo ainda que “as diferentes realidades dos migrantes nas paróquias e dioceses, com as inerentes barreiras linguísticas, dificultam a capacitação dos agentes pastorais para a diversidade cultural, ecuménica e inter-religiosa”.

À Igreja, exige-se, igualmente, que, “de uma forma articulada internamente, tenha capacidade de negociação com o Estado e o tecido empresarial para responder às necessidades concretas relacionadas com a escassez de habitação ou, mesmo, de respostas alternativas e complementares às já existentes”.

No final do encontro, a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Eugénia Quaresma salientou que “as migrações não são uma questão ideológica”, mas, “infelizmente, estão a ser politizadas e polarizadas”, e defendeu a necessidade de olhar para as causas que levam as pessoas a saírem dos seus países, da pobreza às guerras, das alterações climáticas ao desenvolvimento pessoal.

“O modo como somos capazes de escutar estas pessoas, de acolher ou não, é isso que faz a diferença”, declarou Eugénia Quaresma, avisando que a exclusão traz “prejuízo a longo prazo”.

Já o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, José Traquina, acrescentou que para a Igreja “não há estrangeiros” e que esta “dimensão fraternal” responsabiliza no sentido do acolhimento.