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Leão XIV apela à caridade e à justiça com os pobres na sua primeira exortação apostólica

Leão XIV apela à caridade e à justiça com os pobres na sua primeira exortação apostólica
Fotografia Vatican Media

Redação/ Ecclésia

Publicado em 09 de outubro de 2025, às 12:01

"Dilexi Te", publicada hoje, foi iniciada por Francisco meses antes do seu falecimento


Leão XIV publicou hoje a primeira exortação apostólica do pontificado, ‘Dilexi Te’, na qual assume o legado pastoral e social de Francisco, numa reflexão sobre a relação da Igreja com os pobres.

O documento está dividido em 121 pontos, com quase 60 citações de Francisco, entre as 129 notas do texto. O título ‘Dilexi Te’ (Eu amei-te, em português) é retirado de uma passagem do último livro da Bíblia, o Apocalipse (Ap 3, 9).

A reflexão sublinha a «opção preferencial pelos pobres», uma expressão que se generalizou na Igreja Católica a partir da América Latina – onde Francisco nasceu e onde o atual Papa foi missionário e bispo – como uma dimensão teológica, e não apenas social, na vida da Igreja.

«A condição dos pobres representa um grito que, na história da humanidade, interpela constantemente a nossa vida, as nossas sociedades, os sistemas políticos e económicos e, sobretudo, a Igreja. No rosto ferido dos pobres encontramos impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo», sustenta a encíclica.

Na linha do seu antecessor, Leão XIV defende o ideal de uma Igreja humilde, fiel à sua vocação de serviço aos necessitados, inspirando-se em figuras como São Francisco de Assis e os membros das ordens mendicantes, surgidas no século XIII.

O Papa enfatiza que a Igreja deve assumir «uma decidida e radical posição em favor dos mais fracos», num texto em que retoma a tradição bíblica e patrística (teólogos da antiguidade cristã), convidando a reconhecer os pobres como «carne de Cristo» e «modo fundamental de encontro com o Senhor da história».

«A caridade não é uma via opcional, mas o critério do verdadeiro culto», aponta.

Na exortação apostólica, Leão XIV apela ao acolhimento dos migrantes e refugiados, com a construção de “pontes” entre os povos.

«A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes. Pois sabe que o Evangelho só é credível quando se traduz em gestos de proximidade e de acolhimento; e que em cada migrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate às portas da comunidade», escreve o Papa, num documento que começou a ser preparado pelo seu antecessor, Francisco.

O documento reafirma a presença histórica e pastoral da Igreja junto dos migrantes, evocando figuras e iniciativas que marcam o acompanhamento das pessoas migrantes, como São João Batista Scalabrini e Santa Francisca Xavier Cabrini, promovendo assistência espiritual, jurídica e social.

“O magistério contemporâneo reafirma com clareza este compromisso. O Papa Francisco recordava que a missão da Igreja junto aos migrantes e refugiados era ainda mais ampla, insistindo que ‘a resposta ao desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode-se resumir em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar’», indica Leão XVI.

A presença atual da Igreja junto dos migrantes, sublinha o texto, concretiza-se em centros de acolhimento para refugiados, missões nas fronteiras e ações de organizações como a ‘Caritas Internationalis’.

O Papa aponta que a Igreja vê nos migrantes “irmãos e irmãs” a acolher e respeitar.

“A experiência da migração acompanha a história do povo de Deus. Abraão parte sem saber para onde vai; Moisés conduz um povo peregrino pelo deserto; Maria e José fogem com o Menino para o Egito. O próprio Cristo viveu entre nós como estrangeiro», salienta.

A exortação recorda figuras como Santa Teresa de Calcutá, “ícone universal da caridade vivida até o extremo em favor dos mais indigentes, descartados pela sociedade”, e Santa Dulce dos Pobres, que dedicou a vida à assistência dos marginalizados no Brasil.

Leão XIV, que foi bispo e missionário no Peru, destaca ainda o papel dos “movimentos populares” no combate à pobreza.