O Papa Francisco assumiu ontem a sua preocupação com o «perigo» da ideologia do género, sublinhando a necessidade de valorizar a «diferença» entre homens e mulheres. «É muito importante que haja este encontro, este encontro entre homens e mulheres, porque hoje o perigo mais feio é a ideologia do género, que apaga as diferenças», disse o Papa, durante um encontro no Vaticano, intitulado “Homem-Mulher imagem de Deus. Para uma antropologia das vocações”.
Na iniciativa, promovida pelo Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações (CRAV), Francisco tomou a palavra para «sublinhar» a sua preocupação com o tema da ideologia de género. «Pedi estudos sobre esta feia ideologia do nosso tempo, que elimina as diferenças e torna tudo igual; eliminar as diferenças é eliminar a humanidade. O homem e a mulher, pelo contrário, estão numa tensão fecunda», sustentou. Em junho de 2019, a então Congregação para a Educação Católica, da Santa Sé, publicou um do cumento intitulado “Homem e mulher os criou. Para um caminho de diálogo sobre a questão do género na educação”.
O Papa, a recuperar de uma constipação, pediu depois que o discurso preparado para o encontro fosse lido por um assistente, após sugerir a leitura da obra “O Senhor do mundo”, de Robert Hugh Benson (1907), em que se alerta contra «a tendência para apagar todas as diferenças». O encontro organizado pelo CRAV, organismo dirigido pelo cardeal Marc Ouellet, prefeito emérito do Dicastério para os Bispos, decorre até sábado, reunindo filósofos, teólogos, pedagogos para refletir sobre a antropologia cristã, o pluralismo, o diálogo entre culturas e o futuro do cristianismo. O discurso preparado pelo Papa sublinhou a necessidade de promover, a nível académico, uma reflexão sobre as vocações na Igreja e na sociedade, valorizando a sua dimensão antropológica, a partir da «verdade elementar e fundamental» de que «a vida do ser humano é uma vocação».
«Existo e vivo em relação àquele que me gerou, à realidade que me transcende, aos outros e ao mundo que me rodeia, em relação ao qual sou chamado a abraçar com alegria e responsabilidade uma missão específica e pessoal», refere o texto. Francisco destaca que a vida de cada pessoa nunca é «um acidente de percurso» ou «mero fruto do acaso» e que «fazemos parte de um projeto de amor e somos convidados a sair de nós mesmos e a realizá-lo, para nós e para os outros». Olhando para a realidade da Igreja, o Papa pede que se desenvolva uma «circularidade cada vez mais efetiva entre as diferentes vocações», procurando que leigos, sacerdotes e consagrados «contribuam para gerar esperança num mundo onde se desenham pesadas experiências de morte»