A Procissão dos Santos Passos voltou, ontem, em Guimarães, a trazer milhares de pessoas à rua para assistir à eucaristia campal, frente à igreja dos Santos Passos, presidida pelo Arcebispo Primaz de Braga, e ao cortejo enquadrado na festa religiosa da paixão de Cristo.
A procissão, onde marcam presença imensos estandartes e crianças que dão vida às mais diversas figuras religiosas, está enraizada na tradição litúrgico-eucarística vimaranense, concitando o afeto e devoção populares, sobretudo, em redor das imagens de Nossa Senhora da Consolação e do Senhor dos Santos Passos.
Na homilia da eucaristia, o Arcebispo de Braga recuperou a mensagem do Evangelho e sublinhou que, tal como de Lázaro, «Jesus Cristo é meu amigo, dedica-me uma estima pessoal e acompanha o meu caminhar».
Pedindo aos fiéis que retribuam esta amizade e amor, D. Jorge Ortiga apontou que os cristãos têm que «redescobrir uma relação com Deus mais íntima, confiante e personalizada», sabendo «tirar a pedra» do caminho ou que pesam sobre os ombros de muitas pessoas.
Pedindo que os cristãos se empenhem, nos vários domínios, para retribuir o amor de Cristo, D. Jorge Ortiga sublinhou a urgência de «retirar do caminho as pedras do desemprego, violência doméstica, desentendimentos familiares, pobreza e do aborto».
«Como era bom que os cristãos ousassem pensar e contribuir para retirar as pedras que encontramos no caminho da felicidade humana e da Igreja», apontou.
No final da eucaristia campal, cumprindo a tradição, a venerável e secular Procissão de Lázaro saiu da Igreja dos Santos Passos, na Avenida República do Brasil e encaminhou-se, pela Alameda de S. Dâmaso, Largo do Toural e Largo da Misericórdia.
No centro da cidade-berço, o préstito, abrilhantado por dezenas de crianças, grupo de escuteiros, banda de música, um coro de professores e crianças do Colégio Nossa Senhora da Conceição e presidido pelo Arcebispo de Braga, parou para a escutar o designado “sermão do encontro”, na igreja da Misericórdia.
O momento evoca o encontro de Nossa Senhora com o seu filho Jesus Cristo no caminho para o calvário, altura em que os dois andores dos Senhor dos Santos Passos e Senhora da Consolação se juntam, o povo silencia e medita no «encontro de um filho sofredor a caminho do calvário com a mãe que participa e acolhe a sua dor».
Desde sempre organizada pela Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, em Guimarães, a festa religiosa alusiva à paixão e morte de Jesus Cristo, vivida na semana santa, constitui motivo fundamental da existência da instituição.
A iniciativa traduz-se sempre «numa grandiosa manifestação de fé» a que os vimaranenses, oriundos de praticamente todo o concelho, acorrem com devoção e fervor, como mais uma vez ficou abundantemente demonstrado.
Autor: Rui de Lemos