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«Não admito que se faça chantagem com a fé e religiosidade dos pescadores»

«Não admito que se faça chantagem com a fé e religiosidade dos pescadores»
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Publicado em 19 de agosto de 2019, às 19:45

Bispo de Viana do Castelo “respeitará” protesto de pescadores à procissão ao mar.

O bispo de Viana do Castelo disse hoje que "respeitará" os pescadores que não participarem na procissão ao mar em honra da Senhora d'Agonia em protesto contra o valor da compensação pelo impacto de um parque eólico flutuante.
"Não me vou intrometer nas decisões deles e nem quero influenciá-los. Agora irei respeitá-los", afirmou Anacleto Oliveira.
Na origem de uma eventual forma de luta dos pescadores que poderão não participar na terça-feira naquele evento religioso da Romaria d'Agonia está a instalação do Windfloat Atlantic (WFA). Trata-se de um projeto de uma central eólica 'offshore' (no mar), ao largo de Viana do Castelo, orçado em 125 milhões de euros, coordenado pela EDP, através da EDP Renováveis. Em causa estão 28 embarcações de pesca local, diretamente afetadas pela instalação do parque eólico flutuante. Aqueles pescadores reclamam a atribuição de uma compensação pelos prejuízos causados pela interdição da pesca na envolvente (0,5 quilómetros de cada lado) do cabo submarino, com cerca de 17 quilómetros de extensão, que vai ligar o parque eólico flutuante à rede, instalada em Viana do Castelo. A EDP Renováveis disponibilizou uma verba de 200 mil euros para compensar essas embarcações, mas os pescadores não aceitam aquele valor. As negociações decorrem há várias semanas. Hoje, os pescadores voltam a reunir-se, na Câmara de Viana do Castelo, intermediária no processo negocial mediado pelo Governo, para tentar chegar a acordo com a concessionária do parque eólico. "Pelo que estou informado, e posso estar enganado, os pescadores que ameaçaram com um boicote têm um real problema e é grave, porque estes pescadores são pobres. Se há pessoas que nós, na Senhora d'Agonia, temos de venerar e ajudar são os pequenos pescadores", afirmou o bispo Anacleto Oliveira. Para as embarcações de pesca costeira, a Windplus, titular da Utilização do Espaço Marítimo Nacional, negociou uma compensação com 16 armadores potencialmente afetados pela instalação do parque, que anteriormente anunciaram participar na procissão. O bispo de Viana do Castelo sublinhou que não se irá "intrometer" no diferendo, mas disse "não admitir" chantagem com a fé dos pescadores "para não lhes conceder os seus direitos”.
"Não admito que se faça chantagem com a fé e religiosidade dos pescadores para não lhes concederem os seus direitos", referiu Anacleto Oliveira.
Anteriormente, o presidente da câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, disse estar confiante na "via do diálogo" para ultrapassar as divergências. O autarca socialista disse estar certo de que "tudo irá correr bem". "Tenho essa esperança e estou certo, porque conheço os pescadores, que estarão na festa, porque é a sua festa, da sua santa e farão o melhor para louvar a sua santa", afirmou. A procissão ao rio e ao mar em honra da Senhora d’Agonia cumpre-se sempre a 20 de agosto, desde 1968, contando com pescadores de dezenas de embarcações. Já o culto à padroeira dos pescadores tem a sua primeira referência escrita em 1744.
Autor: Redação / NC