O presidente do Núcleo de Braga da Liga dos Combatentes, coronel de Cavalaria João Paulo Amado Vareta, apelou ontem para que haja «respeito e ajuda para os combatentes que a guerra marcou permanentemente».
O apelo foi lançado em Vieira do Minho, no decorrer da cerimónia comemorativa do 99.º aniversário da Batalha de La Lys, evento em que foi também assinalado o Dia do Combatente.
O coronel de Cavalaria João Paulo Amado Vareta sustentou que os combatentes «não pedem louvores, medalhas, honras ou privilégios».
«O que pedem é quase nada: respeito e ajuda quando a guerra os marca de forma permanente. Muitos há que os esquecem ou ignoram, a começar justamente por aqueles que um dia entenderam serem as Forças Armadas as únicas que poderiam defender este país», afirmou.
De acordo com o responsável «no dia em que são recordados os que partiram a combater», é também importante «recordar os que escaparam e todos os outros que hoje, de espada envergada se espalham por vários continentes, contribuindo para a paz».
«Quer no continente europeu, asiático ou africano, o soldado português está presente, lutando pelos mesmos ideais da paz, na solidariedade com os povos livres, ajudando a consolidar terrenos e ideais nobres do ser humano, ajudando a defender os seus direitos e preservando a sua dignidade», disse o responsável, salientando que é preciso lembrar «não só os que sacrificaram a sua própria vida, mas também «os combatentes vivos que continuam a saga dos nossos antepassados».
Vieira do Minho é uma referência
Durante as comemorações, que contaram com a presença de representantes de várias entidades civis e religiosas, o concelho de Vieira do Minho foi apontado como «uma referência no respeito pelos valores», e «está perfeitamente identificado com a história, honra os combatentes e dá-lhes o lugar que merecem».
O programa das comemorações incluiu uma missa de sufrágio pelos combatentes falecidos, na igreja de Vieira do Minho, e uma alocução alusiva à efeméride, com deposição de coroas de flores, junto ao Monumento aos Combatentes, no centro de Vieira do Minho.
Nesta batalha, que marcou negativamente a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, os exércitos alemães infligiram uma pesada derrota às tropas portuguesas.
Na madrugada de 9 de abril de 1918 os portugueses perderam praticamente metade das suas forças, e ficaram reduzidos a pouco mais de uma divisão tendo registado cerca de 1300 mortos, 4600 feridos, 2000 desaparecidos e mais de sete mil prisioneiros. Foi a maior derrota de um exército português em batalha desde Alcácer-Quibir, em 1578.
Testemunho dos combatentes deve ser garante da identidade das comunidades
A missa de sufrágio pelos combatentes falecidos, na igreja de Vieira do Minho, ficou ontem marcada pelo desafio lançado pelo sacerdote Nuno Campos, para que «não deixemos morrer estes acontecimentos», uma vez que «um país, uma sociedeade sem princípios e sem valores, perde a sua identidade».
«Cabe-nos a nós não deixar cair no esquecimento, continuar a valorizar os acontecimentos históricos que fizeram parte da nossa nação e fazem parte da nossa identidade», argumentou.
O sacerdote sustentou também que «além de fazer memória daqueles que partiram, que deram a sua vida», trata-se de «recordar também aqueles que hoje ainda estão vivos, que pela graça de Deus voltam às suas famílias, às suas terras».
De acordo com o padre Nuno Campos «os que fizeram memória, foram os que com o sacrifício deles e das suas famílias, lutaram por uma causa, e devem ser perpetuados porque o seu exemplo e testemunho devem ser um garante de continuidade da identidade das nossas comunidades».
O sacerdote fez também alusão à Semana Santa, a Semana Maior, em que se celebram os Mistérios da fé, lembrando que «o projeto de Deus passa por contratempos e negações, mas culmina na ressurreição».
Construir a paz
«A guerra só está legitimada se libertar os povos e ajudar a construir a paz, caso contrário é erro, injustiça, sofrimento inútil», sustentou o coronel de Cavalaria João Paulo Amado Vareta, lembrando que «poucos falaram em construir a paz, mas foi essa e sempre a razão pela qual os portugueses envergaram a farda, assimilaram a disciplina, reconheceram a legitimidade da hierarquia e dispuseram das suas vidas».
Segundo o presidente da Liga dos Combatentes de Braga os portugueses têm «um espírito patriótico, lutam pelo seu povo, pelas suas tradições, pela sua identidade, pela pátria», mas «povos há que não lutam por nada senão para subjugar, aniquilar, impôr, aterrorizar». O inimigo é, por isso, «aquele que quer destruir a nossa liberdade, ignorar as nossas convicções».
Autor: Carla Esteves