O ambiente festivo que marcou o arranque das comemorações do 77.º aniversário dos Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho foi sol de pouca dura.
Na hora dos discursos da sessão oficial, o comandante da corporação, António Macedo, desalinhou do ambiente festivo e decidiu "partir a loiça", assumindo uma guerra aberta com a direção presidida por Albino Carneiro.
O chefe do corpo ativo, que assumiu ter sido sondado para uma candidatura alternativa à atual direção, acusou a equipa do ex-presidente da Câmara Municipal de Vieira do Minho de «estar a politizar» os bombeiros voluntários, tendo sugerido que «só falta hastear a bandeira de um partido que todos sabem qual é».
A referência clara ao PSD – o partido pelo qual o padre Albino Carneiro foi eleito presidente da autarquia vieirense nas autárquicas de 2005 – foi a acusação mais suave que o comandante endereçou à direção.
«Nos bombeiros não se pode estar a defender interesses políticos, como acontece em muitas outras instituições do concelho», disse o também inspetor da Polícia Judiciária de Braga, salientando que, «nos últimos anos, muita gente deixou de ser associada [da instituição] por causa da politização» da Associação Humanitária.
António Macedo, que revelou ter estado envolvido numa tentativa gorada de formação de uma candidatura à direção dos Bombeiros Voluntários vieirenses, responsabilizou a atual gestão pela falta de meios técnicos e pelas dificuldades financeiras que a instituição vive.
As críticas de má gestão foram extensíveis ao negócio da mudança de instalações, que Macedo considera ter sido «um "negócio da China"» para o lado privado.
Segundo o comandante, o investidor ganhou o edifício do antigo quartel a troco de «um simples terreno» e ainda garantiu «uma indemnização de 100 euros por cada dia de atraso» face à data estipulada para a entrega do imóvel.
O discurso do comandante, que motivou algumas reações de indignação entre os presentes, atacou também o «incumprimento da lei do trabalho» pela direção de Albino Carneiro, que foi ainda censurada por ter «castigado» os operacionais com a retirada da televisão que existia no quartel.
António Macedo, que homenageou bombeiros e personalidades por livre iniciativa, denunciou ainda que os bombeiros têm que comprar equipamentos do seu bolso, porque a corporação «não lhes fornece nem equipamentos de aquecimento nem roupa de trabalho com que se possam agasalhar do muito frio» que enfrentam todos os dias.
Maior financiador da corporação foi também objeto de críticas
A Câmara Municipal de Vieira do Minho, que é o maior financiador da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários locais, também foi inserida no rol de críticas do comandante.
António Macedo afirmou que a autarquia chefiada por António Cardoso «deve olhar para os bombeiros voluntários como um parceiro permanente e não apenas quando dá jeito».
«Os apoios financeiros municipais de hoje são os mesmos, de há 10 anos», disse Macedo, precisando que foram deliberados quando o padre Albino Carneiro assumiu a presidência da autarquia.
Salientando que a corporação tem uma frota de viaturas em avançado estado de deterioração, António Macedo sugeriu ao executivo municipal que atribua à corporação uma verba que permita a aquisição de uma ambulância de socorro.
A resposta da autarquia chegou minutos depois. O presidente António Cardoso recordou que os cofres municipais garantem um financiamento anual de 45 mil euros aos bombeiros – 30 mil de apoio anual e 15 mil para a Equipa de Intervenção Permanente – e que ainda recentemente concederam um apoio extraordinário de dezenas de milhares de euros, para custear a solução eletromecânica que faz a função das duas paredes do piso 0 que a construção do quartel não previu.
«Se nos tivessem pedido ajuda para a compra da ambulância e não para colmatar o problema da construção, teríamos ajudado na compra da viatura. Temos de estar cientes da necessidade de fazer opções, porque a Câmara não tem muito dinheiro», vincou Cardoso, alegando que o negócio do novo quartel «foi bom» para a Câmara, para os bombeiros e para a população.
«Os bombeiros ficaram com um bom quartel próprio e sem qualquer custo», continuou António Cardoso, garantindo que enquanto for presidente da Câmara Municipal «nenhum bombeiro [contratado] deixará de receber um cêntimo e nem nenhum membro da direção precisará de usar dinheiro próprio para pagar salários».
Ousadia e malcriadez
Após a longa intervenção de Macedo, Albino Carneiro pediu «desculpas» aos presentes pela «ousadia e malcriadez» do comandante.
Na breve intervenção, o presidente da direção disse estar «habituado à falta de educação» do chefe operacional, que foi desafiado a ser consequente com o discurso que proferiu.
Autor: Joaquim Martins Fernandes