Paredes de Coura já tem um espumante produzido no concelho: o Espumante Impossível. A apresentação deste “brut nature” decorreu na passada sexta-feira e colocou o município do Alto Minho na lista de produtores de vinho.
A história deste espumante começa com Manuel Cerdeira, jovem enólogo português de 23 anos, formado no Reino Unido, numa das escolas que mais contribuiu para o desenvolvimento dos espumantes ingleses. Durante o seu percurso académico, aprofundou a arte da precisão, a paciência do tempo, a importância da acidez e o respeito pelo “terroir”. «Mas havia em si uma herança mais antiga, o pai, Luís Cerdeira, que foi o primeiro enólogo a elaborar, em Melgaço, um espumante de Alvarinho, em 1995», pode ler-se em comunicado.
«Ao regressar a Portugal e fundar com o pai a Vinevinu, Manuel trouxe um propósito claro: encontrar o território certo para criar um espumante de frescura, elegância e identidade própria», refere a nota de imprensa.
Durante décadas, o concelho de Paredes de Coura foi descrito como um território onde «não se faz vinho». A fragmentação da propriedade, a altitude e o clima húmido pareciam impossibilitar qualquer viabilidade vitícola. Segundo o estudo de Vítor Paulo Pereira, ex-presidente da Câmara Municipal, a produção de vinho no concelho chegou a ser residual, apenas 300 litros na campanha de 2017/18, em contraste com os mais de cinco milhões de litros da sub-região Monção e Melgaço, por exemplo.
Contudo, o mesmo estudo mostrava que o futuro da agricultura courense dependia da inovação, do conhecimento e da capacidade de desafiar o impossível. As altitudes, antes vistas como obstáculo, tornaram-se agora uma vantagem, sobretudo para castas brancas de acidez natural.
Durante 12 anos na liderança da autarquia, Vítor Paulo Pereira ficou conhecido pela sua visão inovadora. Em 2024, no âmbito do curso de aprofundamento em gestão e marketing na School of CEOs da Universidade do Minho, apresentou como projeto final o estudo de um vinho em Paredes de Coura, batizado “Vinho Impossível”. O corpo docente considerou-o idealista e pouco viável, mas o tempo provou o contrário.
Durante a pandemia, em 2020, Hélder Pedreira e Wilson Braga plantaram o primeiro hectare e meio de vinha contínua, seguido de mais um hectare e meio, em 2022. Chamaram-nos de «malucos», diziam que «em Coura não há vinho». Mas eles acreditaram. Hoje, a vinha está em plena produção e representa o primeiro passo de uma nova paisagem agrícola no concelho.
Foi Vítor Paulo Pereira quem uniu as peças deste projeto, juntando os viticultores Hélder e Wilson aos enólogos Manuel e Luís Cerdeira, dando origem a esta «parceria inédita».