O setor têxtil do Vale do Ave beneficiou de um impulso no sentido da digitalização através de um projeto de cooperação entre Portugal, Espanha e França, que agora é finalista dos Prémios RegioStars, distinção que reconhece os melhores projetos financiados pela política de coesão, na categoria “Uma Europa competitiva e inteligente”.
Trata-se do projeto DigiTVC – Digitalização da Cadeia de Valor Têxtil, que contou com a participação da Câmara Municipal de Famalicão e do CITEVE – Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário como parceiros institucionais, representando um investimento de 851.171,88 euros com financiamento de 638.378,91 euros do programa europeu Interreg Sudoe.
Em Portugal, neste âmbito, foram realizados diagnósticos em empresas têxteis do Vale do Ave e implementadas ações-piloto de digitalização em processos produtivos e de gestão.
A coordenadora do projeto, Montse Ibañez, refere que «o DigiTVC ajudou a sensibilizar e a preparar as empresas da região para os desafios da Indústria 4.0, gerando um efeito demonstrativo que serviu de inspiração para muitas outras empresas do Vale do Ave».
Em entrevista ao Diário do Minho, explica que, «graças ao “Protocolo de Digitalização”, um modelo de transformação digital adaptado às necessidades das pequenas e médias empresas (PME) têxteis, as firmas passaram a dispor de um quadro orientador/prático para iniciar a digitalização dos seus processos».
Esta responsável sublinha que o projeto «também fortaleceu a cooperação entre administração pública, empresas e centros de investigação, algo essencial para garantir a competitividade a longo prazo». «Mesmo com investimentos moderados em tecnologia e formação, é possível alcançar melhorias significativas na eficiência, rastreabilidade e capacidade de resposta ao mercado», afirma.
No DigiTVC, o Município de Vila Nova de Famalicão atuou como catalisador institucional. «Foi um parceiro-chave, devido ao seu forte vínculo com o tecido empresarial do Vale do Ave, funcionando como facilitador na mobilização de PME locais e como entidade essencial na divulgação dos resultados a nível regional e internacional», sustenta.
Por seu turno, «o CITEVE, enquanto centro tecnológico de referência em Portugal, liderou a componente técnica», tendo fornecido «conhecimento especializado, metodologias e apoio direto às empresas na implementação de soluções-piloto».
Preparar PME para os desafios da digitalização

O DigiTVC surgiu da «necessidade partilhada pelos clusters e centros tecnológicos do setor têxtil e do vestuário do espaço Sudoe – Espanha, Portugal e sul de França – de impulsionar a transformação digital num setor com forte tradição industrial, mas com grandes desafios ao nível da inovação e competitividade».
O projeto foi desenvolvido no seio da rede de cooperação já existente entre a Texfor – Confederação da Indústria Têxtil de Espanha, o CITEVE e outros parceiros europeus, que «identificaram que muitas PME do setor ainda não estavam preparadas para dar o salto para a Indústria 4.0 e corriam o risco de perder competitividade face a outros mercados».
Na prática, o DigiTVC consistiu em «desenhar e implementar um modelo de transformação digital adaptado às necessidades das PME têxteis: o “Protocolo de Digitalização da Cadeia de Valor Têxtil”».
Foram realizados diagnósticos, definidos roteiros estratégicos e desenvolvidos projetos-piloto que demonstraram como a digitalização pode melhorar a eficiência, a sustentabilidade e a capacidade de inovação das empresas. «Como resultado, muitas empresas conseguiram identificar o seu nível de maturidade digital e definir investimentos estratégicos para os próximos anos», declara Montse Ibañez.
A gestora do projeto salienta que «foi criado um ecossistema de mais de 100 empresas dos setores têxtil e tecnológico para continuar a avançar na digitalização do setor; mais de 200 empresas utilizaram o “protocolo de digitalização” e foram certificados 36 especialistas em digitalização têxtil».
Embora o DigiTVC, enquanto projeto, tenha terminado, os seus resultados «tiveram continuidade através de novas iniciativas no âmbito da digitalização e da transição verde do setor têxtil». «A rede de colaboração permanece ativa e existe vontade de continuar a desenvolver projetos que aprofundem a transformação digital da indústria têxtil», assegura.
Financiamento europeu foi essencial
O projeto teve apoio do Interreg Sudoe – programa europeu financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) – que apoia especificamente a cooperação transnacional no sudoeste da Europa, com o objetivo de promover a inovação, a transformação dos setores produtivos e a competitividade das PME.
«O financiamento europeu foi essencial. Sem o apoio do Interreg Sudoe, dificilmente teria sido possível criar um consórcio transnacional desta dimensão, nem desenvolver projetos-piloto coordenados em diferentes países. A contribuição europeia permitiu reunir recursos, conhecimento e experiências, garantindo um impacto muito maior do que o que seria alcançado por iniciativas locais isoladas», defende a gestora do projeto.
Para esta responsável, «ser finalista dos Prémios RegioStars representa um reconhecimento europeu do esforço coletivo envolvido no projeto e do seu impacto real na transformação do setor», reforça «a visibilidade internacional do sudoeste da Europa» e demonstra que «o trabalho colaborativo e a inovação territorial podem servir de modelo para outras regiões europeias».
Este projeto está a votação na categoria “Escolha do Público”, até às 11h00 da próxima quarta-feira, na página dos Prémios RegioStars. O anúncio dos vencedores decorre nesse dia, no âmbito da Semana Europeia das Regiões e Municípios, que vai decorrer em Bruxelas, de 13 a 15 de outubro.