A Área Metropolitana do Porto (AMP) tornou-se num exemplo europeu na área da promoção da cultura, com a nomeação do projeto "AMP – Património Cultural: Jornadas Metropolitanas do Património", envolvendo 17 municípios, como finalista dos Prémios RegioStars, os “óscares” dos fundos comunitários, na categoria “Europa Mais Próxima dos Cidadãos”.
O projeto surgiu entre 2019 e 2021, com base no «trabalho pioneiro» da entidade intermunicipal na valorização do território através da cultura e do património cultural, que culminou na aprovação da Carta Metropolitana para a Cultura 2023-2028.
A oportunidade apareceu em 2019, sob a forma de um aviso à submissão de candidaturas a financiamento comunitário, essencialmente para projetos e ações de valorização e divulgação do património cultural imaterial da Região Norte (NORTE 2020). A candidatura foi aprovada em 2020 e começou a ser executada 2021, em período de pandemia.
José Marques Moreira, técnico superior de Cultura e Gestão Cultural, refere que o projeto traduziu-se «numa iniciativa comunitária de grande escala com o objetivo de celebrar e valorizar o património cultural de 17 municípios muito diferentes, especialmente o património cultural imaterial e os seus cruzamentos com outras expressões de património (materiais, digitais e de património natural), bem como com a memória e o saber-fazer de cada comunidade, através do envolvimento ativo dos cidadãos, de associações e agentes locais. A iniciativa procurou, igualmente, criar redes culturais locais informais e experimentar novas formas de fomentar e estimular ou inspirar políticas culturais participativas nos 17 municípios».
O projeto promoveu mais de 50 atividades, incluindo visitas patrimoniais conduzidas por membros da comunidade; mais de 10 sessões de jogos tradicionais recriadas por município; exibição de documentários sobre património imaterial; integração do ciclo de concertos Sons no Património 2021, uma celebração anual dos espaços patrimoniais emblemáticos da região, e as 17 apresentações que resultaram das residências da primeira edição do Cor(p)o Metropolitano.
Os cálculos apontam para mais de 3300 participantes no total; mais de 2000 pessoas nas audiências do Cor(p)o Metropolitano; mais de 1000 participantes em sessões de jogos tradicionais; mais de 400 membros ativos da comunidade; e mais de 300 participantes nas visitas guiadas.
A designação “MATER 17” passou a ser o “rosto público” deste projeto, sendo um dos seus legados. «Executada a candidatura e cumpridas as suas ações, MATER 17 mantém-se, desde 2021, como a marca agregadora de todas as iniciativas e projetos culturais metropolitanos», declara.
Cor(p)o Metropolitano mantém atividade
Uma das ações mais emblemáticas do projeto foi a criação, em 2021, do Cor(p)o Metropolitano, «um projeto artístico poderoso, que rapidamente se transformou numa plataforma cultural dinâmica e semiautónoma de pensamento, socialização, participação e cocriação-artística, que se mantém, já mais aprofundada, até hoje».
O gestor cultural adianta que «o Cor(p)o Metropolitano tem vindo a evoluir, envolvendo todos os anos centenas de participantes de diferentes contextos, reforçando os laços comunitários». «Em 2025, celebramos com orgulho cinco anos de atividade contínua, provando o impacto duradouro da cultura participativa e o seu potencial para construir territórios mais coesos, abertos, tolerantes e culturalmente vibrantes», acrescenta.
Este responsável salienta que, «embora as Jornadas Metropolitanas do Património tenham tido uma duração limitada, o Cor(p)o Metropolitano evoluiu para uma estrutura cultural e social permanente, refletindo o investimento estratégico deste projeto na criação de valor a longo prazo».
Paralelamente, diz, «a criação de redes para a cultura e o turismo através da implementação da marca MATER 17 contribuiu para posicionar a região pelos seus valores culturais e ajudou a construir um ecossistema cultural sustentável». «O projeto abriu caminhos para novas parcerias intra e intermunicipais, bem como entre associações culturais, profissionais, empresas e instituições, criando sinergias para futuras iniciativas. Promoveu, também, o comércio local e reforçou os laços com entidades culturais, como o Coliseu Porto Ageas. Além disso, ao apostar nas pessoas e nas competências, o projeto gerou capital social duradouro, incentivando a criação artística, atraindo novos públicos e afirmando a cultura como motor de desenvolvimento regional», salienta.
Modelo de participação cultural replicável

José Marques Moreira considera que, «apesar de se focar na implementação local, esta iniciativa foi concebida como base para projetos de cooperação e oferece um modelo de participação cultural altamente transferível, adaptável a qualquer região com identidades locais diversas». «A sua estrutura – descentralizada, inclusiva e de baixo custo – pode ser expandida para se ajustar a diferentes realidades territoriais, desde contextos rurais até ambientes metropolitanos», afiança.
Em seu entender, o modelo do Cor(p)o Metropolitano «pode ser expandido para outras regiões através da formação de equipas locais, do uso de métodos simples e adaptáveis de co-criação e da aplicação de uma estrutura flexível, onde cada comunidade cria e gere o seu próprio trabalho, contribuindo simultaneamente para um resultado comum, com espaço para todos».
«As ferramentas e metodologias desenvolvidas – como convocatórias públicas, sessões conjuntas, construção de repertório a partir do património e processos colaborativos de tomada de decisão – podem ser facilmente utilizadas por outras regiões que queiram desenvolver projetos culturais assentes na participação e na identidade local, oferecendo assim um modelo para a coesão cultural, o envolvimento cívico e o desenvolvimento cultural sustentável», argumenta.
O responsável revela que comparticipação de fundos europeus «foi instrumental» para que todo este trabalho fosse possível. Embora o orçamento global da candidatura ultrapassasse os 500.000 euros (já com IVA), apenas metade desse valor foi cofinanciado a 85%.
No que toca ao Cor(p)o Metropolitano, depois 2021, primeira e única edição que contou com financiamento europeu, o projeto passou a ser custeado por orçamento próprio da AMP. Nos últimos dois anos, os municípios decidiram integrar parte dos custos – 170.000 euros por ano – nos respetivos orçamentos, através de um protocolo partilhado, sendo o restante financiado pela AMP.
Na sua opinião, a nomeação para os Prémios Regiostars «representa, acima de tudo, o reconhecimento alargado, a nível europeu, do trabalho que juntos temos vindo a fazer, enquanto instituições, profissionais, decisores e comunidade». «Estarmos entre 25 finalistas no total e entre os 5 melhores na categoria, num universo de 266 candidaturas europeias, representa, sem qualquer dúvida, um motivo de orgulho para todos, de um trabalho que só tem sido possível a várias mãos, com muita generosidade, sacrifício e dedicação de equipas e participantes. Coloca também a Região Norte e o País sob um olhar europeu e internacional, que tanto deve nos inspirar como servir de motivo de inspiração a outros», enfatiza.
A votação para a categoria “Escolha do Público”, na qual este projeto está a concurso, decorre até às 11h00 da próxima quarta-feira, na página dos Prémios RegioStars. Os vencedores vão ser conhecidos nesse dia, no âmbito do programa da Semana Europeia das Regiões e Municípios, que vai decorrer em Bruxelas.