O livro “10 anos de história do PNRVT” – Parque Natural Regional do Vale do Tua foi apresentado, ontem, na 27.ª Feira da Maçã, Vinho e Azeite de Carrazeda de Ansiães.
A publicação apresenta a primeira década da estrutura criada como medida de compensação pela construção da barragem de Foz Tua e marca o fim do mandato de Artur Cascarejo como diretor do Parque Natural.

Segundo este responsável, o livro refere-se à primeira década de existência do PNRVT, tendo como objetivos, por um lado, prestar contas destes dez anos, e, por outro, lançar pistas para o futuro.
Assim, sustenta, a publicação deixa «reflexões para os próximos anos do Parque Natural, enquadrando-as nos projetos estratégicos de desenvolvimento regional, nacional e de fundos comunitários, integrando isso nas oportunidades que poderão surgir no domínio desses novos financiamentos».
Artur Cascarejo afirma que as «verbas para o financiamento do PNRVT são relativamente escassas e, portanto, manter a dinâmica do Parque ou até melhorá-la não é possível sem recurso a fundos comunitários».
Olhando para a criação e o desenvolvimento do PNRVT, o diretor destaca a caraterística regional, sendo este o único Parque Natural Regional do país.
Salienta também a autonomia, uma vez que foi seguido um modelo de cogestão com os cinco municípios da sua área da abrangência – Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Vila Flor – e a empresa que explora o aproveitamento hidroelétrico, primeiro a EDP e agora a Movhera.
«Esta proximidade possibilita que as parcerias com os municípios e com outros agentes do território se desenvolvam de uma forma muito mais próxima e rápida, o que foi verdadeiramente essencial para definir todo o trajeto que o Parque desenvolveu até agora», diz.
«Seguimos um modelo de cogestão e de parceria, em que os cinco municípios entram com o território e a empresa que explora o aproveitamento do hidroelétrico entra com o financiamento», explicita, sublinhando que esta é uma forma de manter no território uma parcela dos lucros gerados pela barragem, tal como estipula a fórmula de cálculo inscrita na Declaração de Impacte Ambiental.
Aliar natureza e desenvolvimento

Nesta primeira etapa da vida do PNRVT, a atividade não se limitou à conservação da natureza, mas incluiu o turismo sustentável e o apoio ao tecido empresarial, em prol do desenvolvimento económico e social harmonioso da região.
Entre o trabalho desenvolvido, Artur Cascarejo aponta o envolvimento das escolas, com ênfase para o projeto de educação ambiental “Junto à Terra – Tua”, que teve «um enorme sucesso e acolhimento por parte dos alunos, dos pais e dos encarregados de educação».
Ao nível da conservação da natureza, põe o foco na parceria com o CIBIO – Centro de Investigação e Biodiversidade da Universidade do Porto, mais concretamente com o InBIO, em Vairão, Vila do Conde, que permitiu projetos como o “Vale da Biodiversidade” e o levantamento do património que existe no Parque.
Esta colaboração culminou num projeto de utilização das caixas-abrigo dos morcegos para combater as pragas agrícolas na vinha, no olival e no sobreiral. «Este foi um projeto emblemático no domínio da conservação da natureza e da biodiversidade, que resultou não apenas desta parceria com o CIBIO, mas também de uma parceria com os agricultores, que conheciam muito bem este efeito de ecossistema. Para além da utilização destes pequenos predadores no combate às pragas agrícolas ser natural, portanto biológica e sustentável, evitava que os agricultores utilizassem produtos químicos que tinham que comprar, o que teve um reflexo direto na sua carteira», relata.
No tocante ao turismo de natureza, o PNRVT definiu a observação de aves, o astroturismo e o pedestrianismo como produtos essenciais.
No âmbito da observação de aves, foi lançado um livro com as aves que se podem observar no parque e construído um conjunto de abrigos para observadores.
No astroturismo, o território foi certificado como Dark Sky Vale do Tua. «Apresentámos este ano uma candidatura, que esperamos que seja aprovada, para um observatório móvel no âmbito do astroturismo. O objetivo é fazer a observação do astroturismo em vários sítios da região e associar também as escolas, para que possam ter uma experiência a este nível», revela.
O pedestrianismo é outro produto de excelência, com o lançamento de 12 percursos pedestres no território dos cinco municípios do Vale do Tua e a promoção, depois de consolidada esta rede, de um festival de percursos pedestres, o Tua Walking Festival, que já é uma referência a nível nacional.
Na área do empreendedorismo, indica o lançamento da incubadora do Vale do Tua, certificada a nível nacional. «A este nível, o nosso trabalho tem sido, sobretudo, atrair empresas para a região e modernizar as que já existem. Somos o único Parque que pertence à rede nacional de incubadoras», refere, salientando que «a massa crítica da região e as empresas são absolutamente fundamentais para o tecido socioeconómico do Vale do Tua».
Sentimento de dever cumprido

Depois de uma década à frente do PNRVT, Artur Cascarejo regressa, a partir de 1 de setembro, à sua profissão de professor de Filosofia, na Escola de Alijó.
Garante terminar a sua missão com o sentimento de «dever cumprido», porque foi criada uma estrutura a partir do zero, que é «reconhecida como a grande compensação no território pela construção da barragem do Tua, com efeitos concretos ao longo destes dez anos».
Destaca a «equipa maravilhosa» que o acompanhou – com especial realce para o “núcleo duro” composto por Ari Neiva, Letícia Fernandes e Ana Fragoso – e o papel da comunicação social na divulgação do trabalho realizado.
«As bases estão lançadas, o projeto está estruturado e consolidado no terreno, para quem vier a seguir fazer mais e melhor», declara.