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Quinta do Tamariz aponta caminhos à Região dos Vinhos Verdes

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Fotografia Miguel Viegas

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2024, às 10:04

Livro perpetua história de produtor de Barcelos

“Quinta do Tamariz – Lugar de Vinhos com História” é o título do livro que perpetua o percurso deste vitivinicultor de Fonte Coberta, no concelho de Barcelos. Da autoria de António Barros Cardoso, a publicação representa um contributo para a história dos Vinhos Verdes e aponta caminhos para o desenvolvimento da região.

A apresentação da obra decorreu na Casa do Vinho Verde, no Porto, tendo incluído uma exposição de fotografias, objetos e garrafas da Quinta do Tamariz, assim como uma prova que demonstrou a longevidade dos vinhos deste produtor.

António Borges Vinagre, administrador da Quinta do Tamariz e representante da quarta geração da família Borges Vinagre à frente dos destinos da propriedade, revela que o objetivo deste projeto foi ficar a conhecer a história da quinta, para saber se valia a pena contá-la.

Do trabalho de investigação levado a cabo por António Barros Cardoso, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, resultou uma publicação que relata a história da Quinta do Tamariz e faz o enquadramento deste percurso na região dos Vinhos Verdes. «Esta região tem uma história muito rica e é preciso contá-la. Não basta fazer bom vinho, é preciso dar a conhecer a sua história, porque isso valoriza o produto», afirma.

O produtor sustenta que a inovação tem sido uma preocupação da Quinta do Tamariz, que se traduziu em marcos históricos como a reconversão das vinhas, o lançamento do primeiro monocasta Loureiro da região, a aposta em vinhos com capacidade de envelhecimento ou a conquista de mercados além-fronteiras. «Com o auxílio de técnicos competentes, temos procurado fazer diferente, apresentar coisas novas e interessantes. É um caminho que se vai fazendo e que vai continuar», assegura.

A «excelência do percurso da Quinta do Tamariz» merece o elogio da presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), Dora Simões. «A quinta acrescenta história à nossa própria história», diz.

«Numa altura em que afirmamos a capacidade de envelhecimento dos vinhos da Região dos Vinhos Verdes e em que procuramos integrar cada vez mais o tempo de estágio como premissa de qualidade dos nossos vinhos, estamos perante o primeiro produtor a colocar no mercado um vinho exclusivamente da casta Loureiro, em 1986, que podemos provar 38 anos depois. Podemos constatar que é possível construir um futuro sólido, com raízes num passado que merece ser contado», enfatiza.

Como demonstração desta capacidade de envelhecimento dos vinhos, em prova estiveram um Grande Escolha Arinto Alvarinho de 2013, um Tamariz Loureiro de 2004 e um Loureiro – embora não haja certeza absoluta quanto a esta casta – da Casa do Landeiro de 1980. 

Na apresentação, o enólogo da Quinta do Tamariz, Jorge Sousa Pinto, referiu que estes vinhos mostram «o que esta região pode ser no futuro» e que a região é «capaz de fazer vinhos completamente diferentes daquela bitola com que muitas vezes é rotulada», que a associa a vinhos «jovens, frescos, aromáticos, com 9.5 graus, um bocadinho de açúcar e um bocadinho de gás».

Em seu entender, a região «é capaz de fazer muito mais do que isso», sendo necessário alterar a mentalidade de todos os agentes do setor, desde produtores, enólogos, restauração e comunicação social, para libertar os Vinhos Verdes da «âncora pesadíssima» que arrasta a região sempre que se tenta posicionar os seus produtos num patamar superior em termos de qualidade e preço. «Esta região, hoje, já não é aquilo com que a rotularam, de coisas baratas e fracas, para beber no ano. É essa mensagem que temos de passar», declara.

Referência à vinha remonta a 1548

António Barros Cardoso relata que a referência à produção de vinho na atual Quinta do Tamariz remonta a 1548. Na sequência da atribuição da Comenda de Fonte Coberta a Miguel de Castanhoso, por D. João III, ficou-se a saber que a propriedade tinha uma casa-torre de dois sobrados, equipada com lagar e adega, e uma vinha que empregava 75 homens de cava.

«Para épocas em que não há dados sobre a produção vinícola, avaliamos a dimensão da propriedade pelo número de homens de cava», explica o autor do livro, referindo que o máximo que encontrou noutras quintas foi oito trabalhadores.

O investigador indica que a família Borges Vinagre passou a ser detentora da propriedade em 1928, quando António Nunes Borges, fundador do Banco Borges & Irmão, bisavô do atual proprietário, comprou a Quinta da Portela, para a oferecer às três filhas. 

A terra ficou para Lúcia Brenha Borges, que casou com Delfim Vinagre, tendo o casal sido responsável pelo «engrandecimento deste domínio».

O académico considera que «a dinâmica transformadora no âmbito da viticultura» da Quinta do Tamariz é «exemplar na Região dos Vinhos Verdes» e diz que os 67 rótulos usados no diverso vasilhame inscritos na CVRVV «espelham o dinamismo comercial» da firma. 

Destaca a internacionalização, os inúmeros prémios conquistados ao longo dos anos e a vertente de enoturismo, que faz jus às visitas de personalidades ilustres que a quinta sempre recebeu.