“É uma bienal dedicada aos artistas da ilustração, aos que se dedicam à profissão de ilustradores. Isto é bastante importante, porque o país é pequeníssimo e saem por ano 300 pessoas em todo o país, no mínimo, habilitadas a exercerem o papel de ilustração. É fácil de perceber que não vai haver lugar para toda a gente”, sublinhou Tiago Manuel.
A isto acrescem as dificuldades inerentes a uma profissão intermitente, a um cenário de crise e uma situação internacional marcada por estados de guerra, depois de ter ocorrido uma pandemia, enumerou.
“Sempre que acontecem coisas muito excecionais, demasiado graves, a vida das pessoas é muito afetada e a vida dos artistas é ainda mais afetada, porque são precários. Quando há necessidades extremas ninguém precisa de Shakespeare, nem ilustrações quando está a passar fome ou não tem casa. As prioridades nunca são os artistas em caso de crise”, opinou.
A Bienal de Ilustração de Guimarães, a cumprir a quarta edição, propõe-se ser um ponto de encontro entre profissionais da ilustração, público e estudantes de artes, com exposições, oficinas, palestras e a atribuição de prémios.
Um dos prémios já anunciados é o de carreira, no valor de 10.000 euros, atribuído à artista e ilustradora portuguesa Manuela Bacelar, de 80 anos, que vai estar presente na abertura de uma exposição retrospetiva no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), com curadoria do ‘designer’ e investigador Jorge Silva.
“A obra gráfica de Manuela Bacelar, sobretudo no fecho da década de 1980, tem a maior importância na evolução da edição para crianças em Portugal. Manuela reintroduziu uma qualidade pictórica e poética que andava arredada da ilustração para crianças desde os anos 60”, referiu a organização sobre a autora.
Para Tiago Manuel, o Prémio Carreira é uma forma de valorizar artistas ainda em vida e resgatá-los do esquecimento. Nas edições anteriores do BIG, o Prémio Carreira foi atribuído a Luís Filipe de Abreu, a Jorge Silva e a Cristina Reis.
“Em Guimarães estamos a tentar a trazer um pouco ao de cima, eliminar esse atraso, trazer os artistas independentemente se são homens ou mulheres, isso não interessa. As pessoas que são realmente importantes têm de ser valorizadas. Estamos à procura de evitar injustiças. O esquecimento acaba por se revelar uma injustiça”, disse.
No sábado, serão anunciados os restantes prémios atribuídos pela bienal, nomeadamente o prémio nacional, o prémio revelação e os prémios de aquisição, cujas obras dos autores distinguidos se destinam ao núcleo de arte do município de Guimarães.
A estes prémios concorrem este ano 63 ilustradores portugueses ou que trabalham e residem em Portugal, e cuja obra selecionada fará parte de uma exposição coletiva na BIG.
“A seleção é muito boa, fico muito satisfeito. Diria que os melhores ilustradores portugueses estão representados. Com trabalhos publicados nos últimos três anos, seja em jornais, revistas, cartazes, livros”, elogiou Tiago Manuel, referindo ainda a diversidade de conteúdos e de técnicas.
Sebastião Peixoto, que venceu o Prémio Nacional BIG em 2021, terá direito a uma exposição individual, e está prevista ainda uma mostra dedicada à faceta de ilustração do pintor Júlio Resende (1917-2011).
Até 31 de dezembro, quando termina a bienal, estão previstas ainda três palestras, com a ilustradora Mariana Rio, o cartoonista Luís Afonso e o editor Marcos Farrajota.
Além do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, as exposições estarão patentes no Palácio Vila Flor, Sociedade Martins Sarmento e Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura.