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Sem carrosséis ou farturas romaria em Arcos de Valdevez é a mesma há 200 anos

Sem carrosséis ou farturas romaria em Arcos de Valdevez é a mesma há 200 anos
Fotografia DR

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 28 de agosto de 2023, às 11:36

A romaria, com 200 anos, decorre entre quinta-feira e 8 de setembro.

Sem carrosséis ou farturas, a Romaria em honra de Nossa Senhora da Peneda, em Arcos de Valdevez, mantém “a mesma essência há 200 anos”, aspeto considerado diferenciador para a classificação, em fase final, como Património Cultural Imaterial.

Em declarações à Lusa, o diretor da Casa das Artes, em Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, Nuno Soares, adiantou hoje que a candidatura “já foi validada, aguardando apenas a assinatura do ministro da Cultura e a publicação em Diário da República”. A romaria, com 200 anos, decorre entre quinta-feira e 8 de setembro e é promovida pela Confraria da Nossa Senhora da Peneda, no Santuário da Senhora da Peneda, na freguesia da Gavieira, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).

Um "dos aspetos diferenciadores que conduziu à classificação é que uma parte substancial está relacionada com a metodologia da festa que mantém a sua essência original. Toda a estruturação etnográfica é um primitivo atual e isso faz toda a diferença”, afirmou Nuno Soares. “Não há carrosséis, farturas e música a não ser popular. É uma experiência de comunhão com o sagrado e o profano, e com um espaço de grande misticismo e de beleza atroz”, frisou Nuno Soares.

O diretor da Casa das Artes adiantou que a Confraria da Nossa Senhora da Peneda “rompeu com o que grande parte dos momentos que as romarias da região apresentam, mantendo a ancestralidade da festa”. “As romarias começam a receber aculturações e a ficar muito pressionadas por dinâmicas de consumo. Mas na Peneda, o ritual que rodeia a romaria  é, em tudo, similar ao que aconteceu nos últimos 200 anos, o período temporal que abrange as várias fases de construção do santuário”, sustentou.

Segundo o responsável, “existem referências em muitos clássicos da literatura local e regional que referem a Peneda como a maior romaria do Alto Minho, por decorrer durante sete dias”. “Se concentrássemos as pessoas que passam durante os sete dias da romaria, tal como todas as romarias marianas realizadas em setembro, a da Senhora da Peneda é a maior de todas. Atraia pessoas de todos os lados do país e da Galiza”, acrescentou.

Nuno Soares destacou que a deslocação ao Santuário da Peneda “implica um esforço enorme”. “Não é um local onde passe uma autoestrada. Viaja-se por uma estrada, em PNPG, num espaço belíssimo, mas inóspito”, referiu.

Outro dos pontos “diferenciadores” que sustenta a classificação nacional da romaria é a ‘roda’ gigante que ocupa quase todo o terreiro, junto ao Santuário de Nossa Senhora da Peneda. “É uma celebração que acontece no grande terreiro que está na base do santuário. É como se a parte religiosa, a capela e a escadaria das Virtudes até ao templo ficasse apenas presente e a parte pagã tomasse conta do terreiro, onde se juntam comunidade e párocos num momento de partilha de emoções”, contou.

São designadas por ‘rodas’ porque no centro ficam os tocadores de concertina a que se juntam os bailarinos, dançando em círculo, aos pares. A ‘roda’ vai crescendo à medida que novos pares se juntam, ao ritmo do marcador, o dançarino que vai indicando os passos e o sentido que a ‘roda’ deve tomar. A linguagem coreográfica difere de região para região, podendo ser verbal, gestual ou corporal, mas é fundamental, tal como a prestação dos músicos, a tocar ao vivo, e dos bailarinos, para o sucesso das danças tradicionais.

O património arquitetónico, histórico e as paisagens naturais contribuíram também para a classificação nacional. O penedo das Meadinhas, que sobressai na paisagem junto ao santuário, é um dos locais de treino radical identificado por profissionais, antes da participação em escaladas mundiais. A Romaria atrai milhares de peregrinos até ao alto da montanha, entre eles, muitos oriundos da Galiza, em Espanha.