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II Encontro Internacional da Rede Hórrea decorreu em Arcos de Valdevez

II Encontro Internacional da Rede Hórrea decorreu em Arcos de Valdevez
Fotografia DR

Redação

Publicado em 01 de junho de 2023, às 15:07

Cerca de 70 participantes debateram o património associado a estas construções e aos seus valores materiais e imateriais.

Arcos de Valdevez acolheu nos dias 19, 20 e 21 de Maio o II Encontro Internacional da Rede Horrea, constituída por Associações e Investigadores de Portugal e Espanha, que tem desenvolvido um trabalho de estudo e divulgação do património associado às construções de armazenagem de colheitas - celeiros elevados – em Portugal conhecidos como espigueiros ou canastros, e outras tipologias similares (caniços, canastros de varas, sequeiros, palheiros ou casas da eira).

Cerca de 70 participantes debateram o património associado a estas construções e aos seus valores materiais e imateriais, bem como metodologias para o seu inventário, salvaguarda e valorização, tendo ainda neste II Encontro Internacional sido apresentadas propostas para a formalização da Rede Horrea como Associação Internacional que abarcará associados institucionais e individuais, e que terá como principal objectivo a elaboração do processo de candidatura dos celeiros elevados a uma declaração como Património Imaterial pela UNESCO. 

Do programa deste encontro científico, que contou com o apoio do Município de Arcos de Valdevez, constaram reuniões com representantes de diversos organismos (nomeadamente vários Municípios portugueses, Direcção Regional da Cultura do Centro, e Ministério de Cultura de Espanha) e foram proferidas diversas palestras por especialistas de Portugal, Galiza, Astúrias, Cantabria e Leon que abordaram temas como a classificação tipológica dos espigueiros (/hórreos), os valores imateriais associados a estas estruturas, metodologias de inventário e restauro, e ainda possibilidades para a sua integração em programas de dinamização local e regional, nas vertentes turística e cultural.

Durante as sessões foram ainda exibidos os documentários “Das Arquitecturas Tradicionais” (produzida pela AO Norte para a CIM Alto-Minho, e realizada por Carlos Eduardo Viana) e “Maestros del Horreo Asturiano” (dedicada ao registo dos conhecimentos e actividades dos mestres carpinteiros e marceneiros que ainda se dedicam à construção e restauro de hórreos nas Astúrias). Foi também apresentada a coleção de 5 livros “Parque Nacional Peneda-Gerês, Ambiente e Tradição”, tendo o autor Ricardo Prata proferido uma palestra dedicada ao fascículo sobre o Soajo. 

Neste II Encontro Internacional também foi possível assistir e registar a execução de canastros de varas - uma tipologia de celeiro muito comum em algumas aldeias do concelho arcuense, e concelhos vizinhos - a qual se integrou num Workshop realizado no Campo do Trasladário e no Jardim dos Centenários, onde além de se ter executado pelos artesãos Armando Carriça e Manuel Freitas um caniço com recurso aos materiais e técnicas tradicionais (base em vigas de madeira, estrutura da câmara em técnica entrelaçada tipo cestaria de varas, e cobertura em colmo), foi ainda explorada por Rafael Freitas a possível construção de um modelo similar, mas com recurso a materiais reciclados. 

O evento foi complementado com a realização de duas visitas aos relevantes conjuntos de espigueiros desta região transfronteiriça, nomeadamente à freguesia de Sistelo, classificada como Paisagem Cultural e Monumento Nacional, numa visita guiada por Fernando Cerqueira Barros onde se abordou a relação da paisagem agrária construída em socalcos que possibilitaram a cultura de regadio para o cultivo do milho maiz, trazido das américas no séc.XVI, e que sobretudo a partir do séc.XVII está intimamente relacionado com a proliferação de espigueiros nesta região; factores que levaram vários investigadores, entre eles Orlando Ribeiro, a apelidar este processo de “Revolução do Milho”; e à área do vale do Lima, tendo sido visitadas as eiras, espigueiros e o relevante conjunto de bases de canastros de varas existente em Vilarinho do Souto (Ermelo); no Soajo o grupo visitou o Centro Interpretativo e Etnográfico, analisando os diversos conteúdos sobre património material e imaterial existentes, tendo posteriormente percorrido os diversos conjuntos de espigueiros dispersos na vila, culminando na insubstituível visita à Eira do Penedo, onde se localiza o relevante conjunto de 24 espigueiros construídos integralmente em granito, classificados desde 1983 como Imóvel de Interesse Público.

Decorreram ainda visitas e oalestras na aldeia do Lindoso (Ponte da Barca) e na aldeia galega do Puxedo (Lobios).