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EcoX transforma óleo alimentar usado em detergentes ecológicos

EcoX transforma óleo alimentar usado em detergentes ecológicos
Fotografia EcoX

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 12 de outubro de 2025, às 09:04

Projeto de empresa portuguesa é finalista dos RegioStars

O Projeto EcoX – Reciclagem de Gorduras Alimentares através da Química Verde, desenvolvido pela empresa EcoXperience, com sede em Penela, no distrito de Coimbra, é finalista dos Prémios RegioStars, que distinguem as aplicações mais inovadoras e inspiradoras financiadas por fundos europeus, na categoria “Uma Europa Verde”.

Desenvolvido entre 2018 e 2021, este projeto contou com um apoio de cerca de 380 mil euros do Programa Regional do Centro (Centro 2020), representando uma taxa de cofinanciamento de 73,53%.

Segundo uma nota explicativa desta iniciativa, nascida de um projeto de investigação da Universidade de Coimbra, a ECOX assume-se como «um projeto pioneiro à escala mundial, assente numa tecnologia patenteada que permite a biotransformação de óleo alimentar usado (OAU) em sabão».

Os promotores explicam que, na fase inicial, perceberam que «a reciclagem de OAU é muito limitada devido à falta de literacia ambiental e a sistemas de recolha ineficazes um pouco por toda a Europa», estimando-se que, só em Portugal, mais de 35.000 toneladas por ano sejam despejadas diretamente nos esgotos.

A partir desta constatação, foi lançado o kit educativo SOAPY, focado na sensibilização ambiental para os perigos do descarte dos OAU. Estima-se que um litro de óleo alimentar usado possa contaminar até um milhão de litros de água.

Posteriormente, com o apoio de fundos europeus, a biotecnologia foi escalada para a produção de detergentes “upcycling”, o que significa que materiais que tinham como destino o descarte, neste caso os OAU, tornam-se num novo produto com uma nova função, com recurso a energia limpa.

A EcoXperience desenvolveu uma gama de cerca 70 produtos para uso doméstico (limpeza da casa, roupa, loiça e higiene pessoal) e aproximadamente 35 produtos destinados ao setor profissional, incluindo hotéis, restaurantes e cafés.

A empresa estabeleceu parcerias com 11 entidades locais de gestão de resíduos, promovendo a recolha estruturada de óleo alimentar usado. Até ao momento, segundo a firma, foram recolhidas mais de 500 toneladas deste resíduo. Deste total, 50 toneladas foram utilizadas para a produção de mais de 500 toneladas de detergentes “upcycling”, comercializados principalmente a granel por pequenos negócios locais. Segundo os cálculos, «a venda a granel, promovida ativamente pela ECOX, permitiu evitar o consumo de mais de 300.000 embalagens descartáveis e reduzir mais de 19.000 kg de emissões líquidas de gases com efeito de estufa».

O mesmo texto aponta como outro marco na inovação da EcoXperience, também com o apoio de fundos europeus, «o desenvolvimento de uma embalagem exclusiva, incorporando 50% de plástico reciclado, que foi concebida para ser usada uma e outra vez, podendo ser utilizada em vários produtos (detergente de chão, roupa, loiça e vidros).

A empresa contratou sete profissionais, dos quais seis são altamente qualificados. Entre 2017 e 2024, o volume de negócios passou de 2.134,14 euros para mais de 468.000 euros. A ECOX já realizou mais de 700 workshops de sensibilização a nível regional, tendo alcançado aproximadamente 45.000 famílias.

«O projeto está a ser replicado noutros países europeus e apresenta elevado potencial de transferência internacional, contribuindo para os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e da Agenda 2030, em particular no que toca à produção e consumo responsáveis, ação climática, vida na água e parcerias para o desenvolvimento», refere.

A empresa revela ter em curso vários projetos de investigação e desenvolvimento – alguns dos quais com apoio de verbas comunitárias – com o objetivo de «integrar novos resíduos (como cascas de laranja ou caroços de azeitona) nas suas fórmulas e expandir o conceito “upcycling” para outras áreas, nomeadamente a cosmética sustentável».

Em relação à nomeação para o prémio europeu, o CEO e fundador da empresa, César Henriques, afirma que «ser finalista dos RegioStars é um enorme reconhecimento para a EcoX e para todos os que acreditam que é possível dar uma nova vida aos resíduos. Este projeto nasceu para transformar a forma como olhamos o consumo, o desperdício e a sustentabilidade».

Por seu turno, a presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, I.P. (CCDR Centro), Isabel Damasceno, destaca que o projeto da EcoX «tem a particularidade de ter apostado na literacia ambiental da comunidade, aliada à criação de um novo modelo de negócio a partir da gestão de resíduos, o que lhe permite ser inspirador para muitas outras áreas de atividade».

Este projeto está a votação na categoria “Escolha do Público”, que decorre até às 11h00 da próxima quarta-feira, na página dos RegioStars. Os vencedores dos denominados “óscares” dos fundos europeus vão ser conhecidos nesse dia, numa cerimónia integrada no programa da 23.ª Semana Europeia das Regiões e Municípios, que começa segunda-feira em Bruxelas, sob o lema “Moldar o Amanhã, Juntos”.