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Convenção dos Direitos da Criança faz 35 anos em Portugal

Convenção dos Direitos da Criança faz 35 anos em Portugal
Fotografia DR

Lusa

Publicado em 20 de setembro de 2025, às 21:38

Registaram-se avanços, mas surgem novos desafios.

Trinta e cinco anos de ratificação da Convenção dos Direitos da Criança trouxeram mais saúde, educação ou proteção, mas há perigos que persistem, como a pobreza ou a violência, alertam várias instituições.

Há 35 anos, Portugal ratificava a Convenção dos Direitos da Criança e, em entrevista à agência Lusa, a presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC) destaca imediatamente como isso se traduziu num reconhecimento da criança como sujeito de direitos.

Para a responsável, a convenção fez com que a criança passasse a “ser olhada e valorizada”. Apontou como, atualmente, há um maior acesso à escola e uma “vigilância mais apertada sobre o abandono escolar precoce”, ou “uma maior consciência social sobre a violência contra as crianças”.

Para Matilde Sirgado, há também a assinalar “um progresso muito grande nos cuidados de saúde infantil”, bem como um reconhecimento geral de que a criança é um sujeito de direitos próprios, salientando a criação das comissões de proteção das crianças e jovens.

Por outro lado, alertou para “desafios muito persistentes”, como a pobreza infantil, as desigualdades territoriais, a violência e o abandono escolar, além das “fragilidades estruturais” que persistem em Portugal.

“Os direitos das crianças nunca são garantidos de forma definitiva e lembrar que cada crise social, económica e sanitária, por vezes traz-nos novos riscos para as crianças. É preciso, de facto, reforçar as políticas integradas que colocam as nossas crianças no centro e que respeitem a sua voz”, concluiu.

A vice-presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) destacou o caminho feito por Portugal ao longo dos últimos 35 anos, com ênfase para a “participação da criança em tudo que seja ato que lhe diga respeito”, que começou nos processos judiciais, mas que, como salientou Maria João Fernandes, “vai muito além” e hoje “é um direito muito mais consagrado”.

Para a responsável, o país sentiu “uma evolução muito grande” em relação ao exercício dos direitos das crianças, mas lembrou que um direito constitucional, como o direito a ter uma família, continua a não estar garantido para muitas crianças, apontando que existem “milhares de crianças que estão em acolhimento residencial”.

Destacou, por outro lado, a alteração em 2021 ao Código Penal que consagrou as crianças vítimas de violência doméstica como vítimas efetivas, mas também todas as declarações ou recomendações comunitárias que têm afirmado e concretizado os direitos das crianças, em especial as mais vulneráveis, como as LGBTI.

Para a diretora-executiva da Unicef Portugal, o país “alcançou progressos significativos”, destacando a redução da mortalidade infantil, o alargamento da escolaridade obrigatória ou o fortalecimento dos sistemas de proteção social.

“No entanto, permanecem desafios que não podemos ignorar: o crescimento da pobreza infantil, as dificuldades no acesso a habitação digna e as desigualdades que limitam a igualdade de oportunidades”, alertou Beatriz Imperatori.

Destacou também que “uma em cada seis crianças ainda vive em risco de pobreza”, o número de casos de violência no espaço digital continua a crescer e “todos os dias são registados três crimes de abuso sexual e três crimes de violência doméstica contra crianças”.

A responsável entende, por outro lado, que a participação das crianças nas decisões que as afetam é um direito que continua por concretizar e defende que “dar espaço real à escuta e à participação ativa das crianças é um passo decisivo para os próximos anos”.

Para Beatriz Imperatori faltam políticas públicas que respondam aos desafios atuais, “desde as desigualdades persistentes até à violência online e aos impactos das alterações climáticas”.

Na opinião da diretora-executiva da Unicef Portugal, a convenção dos direitos das crianças “mantém-se essencial, não só para consolidar as conquistas já alcançadas, mas também para enfrentar os novos desafios que emergem”.

“Assinalar esta data é, por isso, um compromisso renovado: lembrar que os direitos das crianças são uma prioridade permanente e que precisamos de políticas públicas capazes de responder às necessidades de hoje e de preparar o futuro das próximas gerações”,concluiu.