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Estudo revela que ribeiras urbanas estão poluídas por fármacos

Estudo revela que ribeiras urbanas estão poluídas por fármacos
Fotografia Avelino Lima

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 18 de novembro de 2024, às 15:00

Em Portugal, foram estudadas três ribeiras urbanas, tendo sido detetado nas águas o total de oito fármacos.

Um estudo liderado por investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) concluiu que as ribeiras urbanas estão poluídas por uma grande diversidade de fármacos, afetando organismos aquáticos e processos ecológicos, foi anunciado esta segunda-feira. Em Portugal, foram estudadas três ribeiras urbanas, tendo sido detetado nas águas o total de oito fármacos.

Esta investigação, feita em colaboração com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), teve como objetivo perceber o estado de contaminação de ribeiras urbanas por fármacos e os seus impactos no ecossistema e nos organismos aquáticos, revelou a FCTUC, em nota enviada à Lusa. Assim, os especialistas efetuaram uma revisão bibliográfica de estudos científicos realizados em todo o mundo.

“A revisão de literatura mostrou que ribeiras urbanas, para além dos rios, são um ecossistema de água doce crítico quando se trata da ocorrência de fármacos. Estas atravessam zonas muito urbanizadas e dado o seu pequeno volume de água e fraca capacidade de diluição podem ficar altamente poluídas, levando depois esses poluentes para os rios principais”, alertou a investigadora do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Maria João Feio.

Segundo a estudante de doutoramento em Engenharia do Ambiente, Fernanda Rodrigues, neste trabalho foram registados, em 49 ribeiras urbanas, a presença de 139 fármacos, pertencentes a dez grupos terapêuticos, em 13 países de quatro continentes, com predominância de anti-inflamatórios e anticonvulsivos. “Metabolitos dos fármacos foram também detetados, mas mais raramente analisados”, acrescentou.

A equipa de investigação detetou fármacos como diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol (analgésicos, anti-inflamatórios, antipiréticos e anestésicos); claritromicina e eritromicina (antibióticos, antifúngicos e antipruriginosos); fluoxetina e citalopram (psicofármacos); estrona, 17β-estradiol e etinilestradiol (hormonas); e genfibrozila (reguladores lipídicos). Em Portugal, foram estudadas três ribeiras urbanas, tendo sido detetado nas águas o total de oito fármacos. Observou-se ainda, numa das ribeiras, um alto risco para os invertebrados aquáticos devido a um antidepressivo, a fluoxetina.

De acordo com as especialistas, “os efeitos nos organismos aquáticos e processos ecológicos foram variados, desde bioacumulação, desregulação endócrina, crescimento deficiente, inibição de reprodução, aumento da mortalidade e distúrbios de eclosão até alterações morfológicas e diminuição da produção primária bruta e de biomassa”.

Este estudo trouxe uma visão global sobre a questão dos fármacos em ribeiras urbanas e demonstrou também a necessidade de investir em novos estudos, nomeadamente em Portugal e na Europa, onde a equipa está a investigar esta questão. “Perceber como chegam estes fármacos aos ecossistemas ribeirinhos, de forma a minimizar a sua entrada, e conseguir eliminar estes poluentes da água é essencial para salvaguardar a saúde dos ecossistemas e organismos aquáticos, mas também a saúde humana, numa abordagem ‘One Health’ (Uma Só Saúde)”, sustentaram.

O artigo científico “Pharmaceuticals in urban streams: A review of their detection and effects in the ecosystem”, publicado na revista Water Research, contou ainda com a participação dos investigadores Luísa Durães, Nuno Simões, André Pereira e Liliana Silva.