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Registo nacional de 2020 confirma impacto negativo da pandemia nos cuidados do cancro

Registo nacional de 2020 confirma impacto negativo da pandemia nos cuidados do cancro
Fotografia FreePik

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 15 de janeiro de 2024, às 09:10

A pandemia da covid-19 teve um impacto negativo na prestação de cuidados do cancro em 2020, confirma o Registo Oncológico Nacional (RON) hoje divulgado que previa o aparecimento de mais casos face aos que foram registados.

As previsões para 2020 – ano fortemente marcado pela pandemia – apontavam para 60.000 a 65.000 o número de novos casos de cancro, tendo sido registados 52.723, menos 9% o que em 2019, e uma diferença de 15 a 24% face ao previsto.

Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do RON, Maria José Bento, mostrou-se preocupada com os atrasos no diagnóstico e no tratamento, algo que, disse, “deverá ter expressão nos dados de 2021 ou 2022, traduzindo-se em mais morbilidade e mortalidade” por cancro.

“Uma das explicações está na interrupção dos rastreios. Há patologias onde o diagnóstico precoce é muito importante para o sucesso do tratamento e para mais probabilidades de sobrevivência. Isto provavelmente vai-se refletir nos anos seguintes em pior morbilidade e maior mortalidade”, considerou.

A também diretora do serviço de Epidemiologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto destacou, além da paragem e diminuição dos rastreios, o facto das pessoas, sobretudo ao longo da primeira vaga de covid-19, se terem resguardado mais e terem procurado menos o médico de família.

“Para situações com sintomatologia mais forte, cancro mais avançado, as pessoas continuaram a dirigir-se aos serviços de saúde. Pessoas com novas suspeitas não recorreram aos cuidados de saúde da mesma maneira até porque muitos hospitais – não foi o caso do IPO – eram hospitais covid-19. Houve diminuição dos diagnósticos”, analisou.

Dando o exemplo do IPO do Porto, a especialista referiu que o grande impacto na diminuição dos diagnósticos aconteceu na primeira vaga de março a maio.

“Já na segunda e na terceira vagas os serviços parecerem mais resilientes”, observou Maria José Bento.

Segundo a epidemiologista, a diminuição do número de casos de cancro foi transversal ao sexo, faixa etária e a todos os distritos do país.

A diminuição foi mais evidente nos cancros do estômago, do cólon, do reto, do pulmão, da mama, da próstata e da tiroide.

O número de novos casos de cancro registado em 2018 foi 50.428. Já em 2019 foram registados 57.878 novos casos, mais 15% face ao ano anterior.

Em 2020, o RON – registo alimentado de informação de todos os hospitais públicos e privados – tem 52.723 novos casos registados.

Destes, 54% foram em homens, 40% em pessoas com idade entre os 60 e os 74 anos e 7,5% em pessoas com menos de 45 anos.

Os cancros mais frequentes foram o cancro da mama, colorretal, próstata e pulmão.

O cancro da mama representa 31% do cancro na mulher, e o cancro da próstata representa 11% do cancro no homem.

“Nada foge ao padrão habitual, nem nas patologias de cancro, nem no sexo, nem nas idades”, afirmou Maria José Bento.

O RON 2020 mostra que a taxa de novos cancros é superior nos distritos do Continente Litoral, dado que a especialista acredita que “os estilos de vida, nomeadamente os hábitos tabágicos”, explicou.

Soma-se, em termos de análise territorial, maior percentagem de novos casos de cancro na Região Autónoma da Madeira.