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Mensagens enganosas impedem mudança para uma agricultura sustentável

Mensagens enganosas impedem mudança para uma agricultura sustentável
Fotografia Lusa

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 29 de novembro de 2023, às 08:53

Milhares de mensagens enganosas, teorias da conspiração e suposta ciência a favor da carne estão a impedir uma mudança para uma alimentação e agricultura mais sustentáveis, indica um estudo divulgado hoje.

 

O trabalho é de uma empresa suíça de análise de dados, “Ripple Research”, feito para a organização “Changing Markets Foundation”, que pretende acelerar e ampliar as soluções para os desafios da sustentabilidade, tirando partido do poder dos mercados. Defende que os consumidores retirem o apoio a empresas que prejudicam a sociedade.

Segundo um comunicado hoje divulgado foram analisadas milhões de mensagens, parte delas opondo-se a uma agricultura mais sustentável na Europa e na América do Norte. Foram “quase um milhão de ´posts´ enganosos”, muitos a atacar os defensores de alimentação alternativa, ou mesmo Bill Gates, que tem alertado para o impacto dos fertilizantes e das vacas (nomeadamente na produção de metano) no aquecimento global, e defendido que o futuro está na “carne” à base de plantas.

São, diz o estudo, também muitas mensagens divulgadas por personalidades “da direita política”, que depois são partilhadas e replicadas.

“A investigação é um retrato abrangente de uma guerra de comunicação contra a preocupação científica e políticas sobre os impactos ambientais e na saúde da agricultura e a mudança dos padrões de alimentação”, diz o comunicado, segundo o qual os “grandes interesses” do setor da carne e dos laticínios estão “claramente por detrás” de algumas das mensagens.

Na Irlanda, Países Baixos e Estados Unidos as publicações misturam teorias da conspiração com propostas genuínas dos governos, o que confunde e dificulta mudanças políticas.

O relatório da investigação recorda que na quinta-feira começa no Dubai a cimeira mundial sobre o clima, a COP28, para dizer que essas mensagens dificultam que se integre a alimentação e a agricultura nos planos climáticos nacionais, como querem os anfitriões, os Emirados Árabes Unidos.

O documento acrescenta que está previsto debater, no dia 04, um compromisso global sobre o metano embora não se esperem decisões firmes. A FAO, organização da ONU para a alimentação e agricultura, deverá, no dia 10, pedir um menor consumo de carne aos países ricos.

O estudo analisou 285 milhões de mensagens, principalmente das redes sociais Twitter/X ou Reddit mas também em blogues e fóruns, enviados num período de 14 meses que terminou em julho passado, e identificou 948.000 mensagens que distorcem a verdade para promover a carne e os laticínios, atacando as alternativas.

Essas mensagens foram geradas por 425.226 contas reais e de ´bots´ (computadores que emitem mensagens de forma automática a partir de perfis falsos nas redes sociais), sendo que apenas 50.000 dessas contas geraram 3,6 milhões de gostos, partilhas e comentários.

Das 948.000 mensagens consideradas desinformação 78% eram mensagens de ataque e de conspiração, associando carne sintética a doenças e fome, dizendo que leite à base de plantas e proteínas alternativas não são nutritivos, que são produtos ultra processados que provocam cancros e doenças graves.

Muitas mensagens negavam também que o gado seja um problema para o ambiente, alertavam para o encerramento de explorações, diziam que os vegetarianos eram efeminados, associando a carne à força, resistência sexual e fertilidade, e acusavam os vegans de quererem que a população coma insetos.

Os autores da investigação disseram ter ficado surpreendidos com o nível de hostilidade contra as proteínas alternativas, porque a maioria das mensagens era de ataque e apenas uma em cada cinco eram a promover a carne e os laticínios.

No documento a que a Lusa teve acesso fala-se do 'lobby' poderoso que impede legislação para impedir reduções de emissões de gases na agricultura, “responsável por 37% das emissões globais”, que faz recuar os apoios a leites à base de plantas, e que luta para manter o controlo sobre a utilização das palavras “hambúrguer” e “leite”.