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Subida do nível do mar pode afetar recursos alimentares disponíveis nos estuários

Subida do nível do mar pode afetar recursos alimentares disponíveis nos estuários
Fotografia Unsplash

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 10 de julho de 2023, às 11:01

Um estudo sugere que a subida do nível do mar pode provocar a “marinização” dos estuários e potenciar a entrada de espécies invasoras.

A subida do nível do mar pode provocar a “marinização” dos estuários e potenciar a entrada de espécies invasoras que afetem os recursos alimentares das populações, conclui um estudo do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar).

Em comunicado, o centro de investigação da Universidade do Porto destaca que o estudo divulgado esta segunda-feira, realizado em parceria com a Universidade Federal da Bahia, no Brasil, revela uma “análise preocupante” sobre o impacto do aumento do nível do mar nos estuários e as eventuais consequências da intrusão da água salgada nos ecossistemas costeiros. Publicado na revista Ocean & Coastal Management, o estudo analisou outros artigos científicos para desenvolver um “modelo preditivo” e antecipar a posição da intrusão salina em estuários face ao provável cenário de aumento do nível do mar nos próximos anos.

Recorrendo a modelos matemáticos, os investigadores concluíram que a combinação do avanço do mar com a seca extrema pode originar “uma penetração de salinidade amplificada” nos estuários, uma vez que não só é maior o avanço do mar, como diminui a descarga dos rios. “A elevação do nível do mar favorece a entrada da água mais salgada, enquanto a descarga impede que a água salgada avance demasiado rio acima. Rios com pouca descarga naturalmente tornam-se mais salgados durante a maré cheia”, esclarece, citado no comunicado, o primeiro autor do artigo, Yuri Costa.

Com o aumento de eventos extremos “crescem os desafios associados a grandes variações de salinidade nos estuários tanto para a biodiversidade como para as populações e economia local”. Em cenários de elevação do nível do mar, a penetração da salinidade tenderá a intensificar-se e a evaporação das águas pode aumentar a salinidade dos estuários, “causando a marinização do estuário”, fenómeno que já está a ser registado em alguns locais.

Neste processo, espécies marinhas que não costumam habitar aquele ecossistema passam a colonizá-lo, uma adaptação que, segundo os investigadores, “aparentemente não parece ter consequências, mas esconde outros problemas”. “Isto abre o precedente para espécies oportunistas, como as espécies invasoras que, reconhecidamente, causam desequilíbrio ambiental”, refere Yuri Costa.

Em causa poderá estar a chegada de espécies de peixes invasoras aos estuários que, por serem mais tolerantes a situações de ‘stress’ do que as espécies nativas, que ainda se estão a adaptar às novas condições, causam uma “situação de desequilíbrio”. “Neste caso, as espécies invasoras podem reduzir drasticamente os recursos alimentares das espécies nativas, competindo com elas e reduzindo-as até à sua extinção nesses locais”, observa Yuri Costa.

Outro fator “preocupante”, destaca o investigador, é que estas espécies podem afetar os recursos alimentares, muitas vezes de subsistência, das populações humanas envolventes que não têm essas espécies invasoras como alvo de captura e apenas percebem o declínio das espécies que tradicionalmente costumavam capturar.

Também citada no comunicado, a investigadora Irene Martins salienta que a utilização de ferramentas numéricas é “de extrema importância para a adoção de medidas adequadas à preservação e conservação de sistemas costeiros, como estuários e rias”. “O estudo alerta para a importância da adoção de medidas de mitigação e adaptação para minimizar os impactos do aumento do nível do mar nos estuários, com indicação de ferramentas de previsão úteis para gestores públicos e decisores no planeamento de medidas de adaptação”, observa.