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Mamíferos em Portugal estão em declínio, alertam especialistas

Mamíferos em Portugal estão em declínio, alertam especialistas
Fotografia Unsplash

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 19 de abril de 2023, às 14:14

A exceção são os ungulados (animais com casco).

Especialistas em várias espécies de mamíferos alertaram esta quarta-feira que, salvo ungulados (animais com casco), todos as espécies de mamíferos em Portugal estão em declínio, com espécies que correm o risco de se extinguirem.

O alerta foi dado na apresentação do “Livro Vermelho dos Mamíferos em Portugal”, que faz um retrato da classe taxonómica em Portugal continental, atualizando uma avaliação que tinha sido inicialmente divulgada em 2005.

Carlos Fonseca, da Universidade de Aveiro, disse que a investigação mostrou que animais como o javali, o veado ou o corso estão em expansão. No entanto, admitiu que se está “perante uma situação crítica para muitas espécies”.

Um dos grupos de mamíferos que suscita mais preocupação é o dos morcegos, como salientou João Cabral, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que alertou para o aumento de infraestruturas prejudiciais para os morcegos, desde parques eólicos a barragens e estradas. O investigador falou de “anos dramáticos”, criticou as modificações da paisagem associadas à agricultura intensiva, e sugeriu melhorias na lei, para melhor proteger os morcegos.

António Mira, professor da Universidade de Évora, alertou também para a importância dos pequenos mamíferos, como os ouriços, os musaranhos ou os ratos, e nesta área só salientou como positivo a expansão do esquilo e mais registos de toupeiras ibéricas. De resto, disse, “há um agravamento considerável do estado de conservação das espécies” e em algumas há mesmo o risco de extinção em uma década. E os pequenos mamíferos, salientou, são o alimento dos maiores carnívoros. “Um terço das espécies estão com estatuto de ameaçada ou quase”, avisou.

Paulo Célio Alves, professor da Universidade do Porto, disse que o coelho é das principais presas para os mamíferos carnívoros e acrescentou que há zonas do país onde “é raro observar um coelho”. “Não se podem fazer medidas de conservação de predadores sem o fazer também para as presas”, avisou, com Mariana Sequeira, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a deixar também alertas para os mamíferos marinhos, destacando uma espécie de boto “muito vulnerável” a artes de pesca, que são responsáveis por 5,5% da mortalidade da espécie.

Maria da Luz Mathias, que coordenou o trabalho que levou à apresentação de hoje, disse à Agência Lusa que houve um acompanhamento de espécies como o lobo ou o lince ibérico, ou os morcegos, mas que “as restantes espécies, menos emblemáticas, são esquecidas”. “A comunidade não é só a das emblemáticas, os pequenos mamíferos são negligenciados mas estão na base da cadeia alimentar”, alertou também, dando um exemplo como aviso: uma das razões para a diminuição dos morcegos foi a diminuição dos insetos.

Maria da Luz Mathias falou das ameaças a que os mamíferos estão sujeitos, das alterações climáticas a mudanças de habitat ou pesticidas, e lamentou a falta de financiamento público para estudar estas espécies. Mesmo para o “Livro Vermelho”, disse, o financiamento limitou o estudo ao continente, ficando de fora a Madeira e os Açores. Segundo o “Livro vermelho” um terço das espécies de mamíferos avaliadas está ameaçado de extinção.