A campanha #NãoPodias vai contar aos jovens de hoje que, se vivessem em Portugal há 50 anos, estariam proibidos de debater ideias, discordar, reunir-se, votar ou até serem europeus. Promovida pela comissão comemorativa do cinquentenário da revolução que derrubou a ditadura, que se assinala em 2024, a campanha #NãoPodias vai ser uma forma de, já este ano, se assinalar o 25 de Abril.
Além de pedagógica, a campanha vai servir também para testar a capacidade de a comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril chegar aos jovens, segundo a responsável pela estrutura, a historiadora Maria Inácia Rezola. Vão disponibilizados conteúdos sobre a ideia de liberdade e das conquistas que a queda da ditadura proporcionou ao país nas diversas plataformas digitais, como o Facebook, o Twitter, o Instagram, o YouTube ou o TikTok.
Na ditadura portuguesa de Salazar e Caetano não havia liberdade, a informação e as formas de expressão (imprensa, cinema, teatro, artes plásticas, música e escrita) eram controladas pela censura ou exame prévio. Não havia liberdade de associação, política ou sindical. Mas existia a polícia política, presos políticos e prisões para os oposicionistas, além de não haver acesso gratuito à educação e à saúde. A campanha #NãoPodias “será um bom teste à nossa capacidade de chegar a esses públicos mais jovens”, afirmou Maria Inácia Rezola em entrevista à Lusa, ao justificar a multiplicidade de plataformas digitais que serão usadas.
A ideia desta campanha surgiu no local de trabalho da comissão, um claustro do Convento do Carmo, em Lisboa, junto às escadas por onde subiu o general António Spínola para receber a rendição do então líder do Governo, Marcello Caetano, no dia da revolução, 25 de abril de 1974.
Para a comissária, que também é professora, não há o risco de estas comemorações parecerem longínquas aos jovens. “Ao contrário de alguns mais pessimistas, penso que há uma grande curiosidade e um grande interesse em perceber o que se passou e as consequências do que se passou”, afirmou. “Não nos esqueçamos de que o Portugal democrático em que nos movemos nasceu com o 25 de Abril. Portanto, é uma data fundadora do moderno Portugal e, portanto, a juventude é um domínio particularmente interessante”, acentuou.
Olhando para a evolução política portuguesa desde o 25 de Abril, Inácia Rezola recorreu a “uma expressão muito bem sucedida” do politólogo Pedro Magalhães. “Referindo-se à forma como os portugueses vivem a democracia, [Pedro Magalhães] diz que somos um povo de democratas descontentes e desafetos. Ou seja, nós não questionamos a democracia, mas questionamos, e bem, a qualidade dessa democracia”, argumentou.
A campanha vai também materializar-se nas várias iniciativas como o Festival 2504, com o qual a comissão vai assinalar o 49.º aniversário da revolução e que consiste em três conversas, que decorrem nos dias 22, 23 e 24 de abril, no Palácio Baldaya (Lisboa).
Ainda destinado ao público jovem, a comissária adiantou que no próximo ano letivo irão arrancar dois programas: “Para os grupos mais jovens e depois para os adolescentes. Trata-se de clubes da democracia” e a ideia é promover o debate e a reflexão e os temas do 25 de Abril.
A comissão vai ainda promover uma campanha envolvendo escolas de todo o país para a realização de cartazes ilustrados pelos mais pequenos onde estejam plasmados os direitos humanos inscritos na Constituição portuguesa. “Estamos a trabalhar com a Associação de Professores de História e a Comissão da História Militar num concurso que já está em marcha e que irá ter os primeiros resultados este ano para promover a feitura de trabalhos e de cartazes nas escolas de todo o país e das ilhas. (…) Este ano, o tema é a guerra colonial na minha terra”, disse.
Em 2021, o Governo aprovou a criação de uma estrutura de missão para organizar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Apesar de os 50 anos do 25 de Abril se assinalarem em 2024, as comemorações já decorrem desde 2022 e vão prolongar-se até 2026.
No ano de 2026 assinalam-se os 50 anos da aprovação da Constituição, da formação do I Governo Constitucional, na sequência das eleições legislativas, a eleição do Presidente da República, a realização de eleições regionais nos Açores e na Madeira e das eleições autárquicas.