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Autarcas portugueses querem papel mais ativo nos fundos comunitários

Autarcas portugueses querem papel mais ativo nos fundos comunitários
Fotografia DR

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 20 de outubro de 2025, às 20:55

Resultado do Barómetro Regional e Local do Comité das Regiões.

Os autarcas portugueses são mais defensores do que os seus colegas europeus da importância da atribuição de um papel mais importante às autarquias locais e regionais na conceção e gestão dos fundos comunitários, como por exemplo a Política de Coesão.

Este dado é apresentado no Barómetro Regional e Local integrado no relatório anual de 2025 do Comité das Regiões Europeu, documento que foi lançado pela presidente do órgão consultivo, Kata Tüttő, durante a sessão de abertura da 23.ª Semana Europeia das Regiões e dos Municípios, em Bruxelas.

O barómetro contemplou 86 entrevistas a representantes locais e regionais de Portugal, num total de 3.342 no espaço comunitário, realizadas entre 15 de maio e 23 de julho de 2025, pela IPSOS, a pedido do Comité das Regiões.

Dos entrevistados, 73% dos portugueses querem mais protagonismo para as autarquias em matéria de fundos europeus, medida que é defendida por 51% dos seus colegas europeus, quando questionados sobre qual deve ser a prioridade da UE no apoio às regiões e cidades para lidarem com a instabilidade social e económica causada pelas recentes crises internacionais.

Da mesma forma, 69% dos entrevistados nacionais defendem que deve ser proporcionada maior flexibilidade às autoridades locais e regionais para afetarem os fundos da UE no âmbito da gestão partilhada, enquanto 57% dos europeus apontam esta solução. 

Em contrapartida, 41% dos inquiridos a nível europeu defendem que é necessário aumentar o apoio financeiro a nível da UE para apoiar as regiões e cidades num determinado domínio político, valor que em Portugal fica pelos 31%.

Inquiridos sobre quais devem ser as principais prioridades do próximo orçamento de longo prazo da União Europeia, 70% dos inquiridos portugueses e 38% dos europeus apontam a resolução da crise da habitação a preços acessíveis. 

As respostas contemplam também o apoio à transição climática e energética (37% em Portugal e 42% na UE); fazer face às alterações demográficas, incluindo o acesso aos serviços públicos nas zonas rurais (48% em Portugal e 39% na UE); reforçar a resiliência em matéria de segurança a nível da UE (29% em Portugal e 32% na UE); e apoiar a capacidade industrial da UE (23% em Portugal e 28% na UE).

Interrogados sobre quais foram as ações mais importantes que a autoridade local ou regional da qual faz parte tomou para responder à instabilidade social e económica desencadeada pelas recentes crises internacionais, 38% apontaram a mitigação do impacto económico e social das crises nos mais vulneráveis no seu círculo eleitoral; 29% a criação de centros de receção e disponibilização de alojamento e Segurança Social para pessoas deslocadas; 14% o aumento do apoio às PME afetadas por perturbações económicas globais; e 13% a mitigação do impacto do aumento dos preços para os cidadãos e empresas.

Em relação às alterações climáticas, aos fenómenos meteorológicos extremos, às inundações, às secas, 49% dizem que tomaram medidas para promover a conservação da natureza e tornar as cidades mais verdes (por exemplo, plantar árvores); 47% dão conta de medidas para reduzir o consumo energético (por exemplo, nos edifícios; e 35% falam de ações para reduzir os resíduos e o seu impacto ambiental.

 

Centralização dos fundos de coesão pode comprometer desenvolvimento das regiões

 

Os autarcas europeus defendem que a centralização da Política de Coesão no Quadro Financeiro Plurianual (QFP) para o período pós-2027 «pode comprometer os grandes esforços em prol do desenvolvimento em todas as regiões da União Europeia».

O alerta é lançado na edição de 2025 do relatório anual do Comité das Regiões Europeu, que analisa os principais desafios que a União Europeia (UE) enfrenta a nível regional, bem como as soluções de nível local. 

Os dirigentes locais e regionais entendem que a proposta de centralização apresentada pela Comissão Europeia QFP para o período pós-2027 «não é o caminho a seguir», defendendo que «a UE não se pode dar ao luxo de colocar as suas regiões e os seus municípios em segundo plano, nem do ponto de vista económico nem político».

Recordado que «o financiamento da UE para o desenvolvimento regional impulsiona há décadas a convergência económica na União», lembram que «as regiões e os municípios têm sido intervenientes fundamentais nesta história de sucesso, enquanto cogestores de projetos de desenvolvimento regional para adaptar os objetivos da UE às realidades locais, executando mais de 70% das políticas da UE no terreno e sendo responsáveis por dois terços das despesas públicas na UE».

Neste contexto, os autarcas entendem que a proposta da Comissão Europeia para o QFP 2028-2034 «enfraquece a ligação entre a UE e as suas regiões e municípios». «A recente proposta é muito mais do que um orçamento. Constitui um desafio para o papel das regiões e dos municípios no processo de decisão e na execução das políticas da UE. O novo QFP propõe uma centralização, prevendo um plano único por Estado-Membro», argumentam.

Em seu entender, «uma abordagem universal única não é adequada para enfrentar os desafios locais específicos de uma transição justa para energias limpas e, em última análise, não contribuirá para restaurar a competitividade da Europa». «Só uma abordagem de base local, assente em soluções locais e estratégias descentralizadas, ajudará a União a cumprir os seus objetivos basilares de coesão, resiliência e proximidade», vincam.


 

*Em Bruxelas, a convite da Comissão Europeia e do Comité das Regiões