O Projeto AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão de Risco Geológico ganhou dois Prémios RegioStars, nas categorias “Uma Europa Verde” e “Escolha do Público”, tornando-se na estrela mais brilhante da edição de 2025 dos galardões instituídos pela Comissão Europeia para distinguir a utilização inovadora e impactante das verbas da Política de Coesão.
A cerimónia de entrega dos “óscares dos fundos comunitários” decorreu em Bruxelas, anteontem à noite, no encerramento da 23.ª Semana Europeia das Regiões e dos Municípios, subordinada ao tema “Moldar o Amanhã, Juntos”.
Envolvendo Portugal, Espanha, França, Irlanda e Reino Unido, o projeto foi liderado pelo professor do Instituto Superior Técnico Rui Carrilho Gomes e financiado pelo Interreg Atlantic Area, que tem a autoridade de gestão sediada na Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, no Porto.
O júri destacou que este projeto é um «excelente exemplo de como a inovação digital pode apoiar questões ambientais e a transição verde». Realçou que o envolvimento dos cidadãos na prevenção dos riscos naturais contribui para a construção de «comunidades
mais fortes e resilientes».
Entre 2019 e 2023, o AGEO criou cinco Observatórios de Cidadãos na região do Atlântico, capacitando as comunidades locais para se envolverem na vigilância dos riscos naturais. No sentido de promover a participação, desenvolveu uma plataforma e uma aplicação móvel para os cidadãos reportarem as suas observações.
Na hora de receber as distinções, Rui Carrilho Gomes enfatizou a relevância que o projeto atribuiu aos cidadãos como agentes ativos de monitorização e prevenção de riscos naturais. «É ótimo ter o reconhecimento», confessou ao Diário do Minho, sublinhando a vitória no voto do público, uma vez que um dos seus focos enquanto académico é o envolvimento dos cidadãos.
Por outro lado, salientou a mudança de mentalidades que o AGEO conseguiu operar dentro das organizações. Adiantou que as instituições precederam à adaptação da aplicação para as realidades locais, fazendo com que o projeto continue vivo.
Na linha do que foi defendido pelo júri, o professor universitário considera que o caminho é escalar esta experiência para a dimensão nacional. «Não podemos ter um país como Portugal com 50 aplicações diferentes, o que faz sentido é termos uma aplicação que seja comum a todo o território», defendeu.
Em seu entender, o nível seguinte será o europeu, tirando partido da consciencialização dos cidadãos para que estes passem a ser atores ativos, que contribuem para a gestão do risco. «Não podemos ter um polícia em cada esquina. A população tem que estar consciente dos riscos da zona onde vive, trabalha ou passa férias. Estamos a procurar criar um círculo virtuoso em que saímos todos a ganhar, em que ficamos com uma Europa mais segura», declarou.
Os restantes vencedores foram os projetos “Mapas de fertilização orientada por satélite” (Polónia), na categoria “Uma Europa Competitiva e Inteligente”; “MonoCab OWL – Nova mobilidade em carris antigos” (Alemanha), na categoria “Uma Europa Conectada”; “Apoio precoce para famílias em risco” (Chéquia), na categoria “Uma Europa Social e Inclusiva”; e Centro Feminino de Shankill (Irlanda), na categoria “Uma
Europa mais próxima dos cidadãos”.
Este ano foi batido o recorde de concorrentes, com 266 candidaturas oriundas de todos os países da União Europeia. O Projeto AGEO recebeu 1976 votos do público, representando cerca de 10% do total de 20 mil votos registados nesta competição.
Prémios mostram impacto da Política de Coesão A diretora-geral da Política Regional e Urbana da Comissão Europeia, Themis Christophidou, defendeu que os Prémios RegioStars «celebram os grandes feitos da Política de Coesão em toda a Europa».
Esta responsável explicou que, todos os anos, os prémios distinguem os «projetos financiados pela Política de Coesão que têm o maior impacto no terreno, iniciativas que realmente fazem a diferença na vida dos cidadãos».
A dirigente mostrou-se «particularmente satisfeita» por ver que a competição continua a crescer, ilustrando «a imensa criatividade e dedicação presentes nas diversas regiões da Europa» e demostrando «o crescente reconhecimento de como esta política gera
resultados concretos para as pessoas e comunidades em toda a União Europeia». «Os projetos finalistas enfrentam desafios comuns, transformam vidas e incorporam a essência do que é a Política de Coesão. Mostram também que a Política de Coesão não existe isoladamente. Cria sinergias com outras políticas e setores, desde os transportes sustentáveis ao turismo, à alimentação e à agricultura. É inspirador ver estas ligações aplicadas na prática em muitos projetos», declarou.
Por seu turno, a presidente do Comité Europeu das Regiões, Kata Tüttő, argumentou que estes projetos apresentam novas ideias e perspetivas para os desafios que a Europa enfrenta, designadamente ser inteligente, competitiva, verde, inclusiva, estar próxima
das pessoas e continuar a ser popular.
Para o dirigente do órgão representativo do poder local, a noite de entrega dos Prémios RegioStars «é a prova do que é a Política de Coesão», mostrando que «se combinarmos a Política de Coesão com a ambição local e a criatividade local, então surgem estrelas».
Em seu entender, não se pode focar a atenção apenas «nas dores, nos desafios e nos pontos de pressão», mas é preciso ver «todo o potencial, toda a ambição e toda capacidade» dos Estados-Membros.
«No Comité das Regiões, compreendemos o universal através do local, através das nossas realidades locais. Traduzimos valores universais, como sustentabilidade, dignidade ou confiança, em algo concreto. Damos-lhes forma. Como se manifestam a nível local estes valores universais, como a dignidade? Manifesta-se numa paragem de autocarro coberta, numa zona rural. Manifesta-se numa escola de alta tecnologia, numa cidade onde poucos veem futuro. Manifesta-se em habitação social que é
simultaneamente eficiente em termos energéticos e bonita», disse.
Este concurso é organizado anualmente pela Comissão Europeia, desde 2008, para premiar projetos financiados por fundos comunitários que demonstram o impacto e a inclusão do desenvolvimento regional.
Um júri composto por peritos de toda a Europa selecionou 25 finalistas que se destacaram em cinco domínios fundamentais, refletindo cada um deles uma prioridade da política regional da UE.
Respondendo a desafios comuns e aproveitando oportunidades partilhadas, estes projetos inspiram as regiões a criarem iniciativas impactantes e inclusivas em benefício das pessoas e das comunidades.
*Em Bruxelas, a convite da Comissão Europeia e do Comité das Regiões.