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Projeto de gestão dos riscos naturais ganha dois Prémios Regiostars

Projeto de gestão dos riscos naturais ganha dois Prémios Regiostars
Fotografia DR

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 17 de outubro de 2025, às 12:03

Galardões distinguem utilização inovadora e impactante das verbas da Política de Coesão.

O Projeto AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão de Risco Geológico ganhou dois Prémios RegioStars, nas categorias “Uma Europa Verde” e “Escolha do Público”, tornando-se na estrela mais brilhante da edição de 2025 dos galardões instituídos pela Comissão Europeia para distinguir a utilização inovadora e impactante das verbas da Política de Coesão.
A cerimónia de entrega dos “óscares dos fundos comunitários” decorreu em Bruxelas, anteontem à noite, no encerramento da 23.ª Semana Europeia das Regiões e dos Municípios, subordinada ao tema “Moldar o Amanhã, Juntos”.


Envolvendo Portugal, Espanha, França, Irlanda e Reino Unido, o projeto foi liderado pelo professor do Instituto Superior Técnico Rui Carrilho Gomes e financiado pelo Interreg Atlantic Area, que tem a autoridade de gestão sediada na Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, no Porto.
O júri destacou que este projeto é um «excelente exemplo de como a inovação digital pode apoiar questões ambientais e a transição verde». Realçou que o envolvimento dos cidadãos na prevenção dos riscos naturais contribui para a construção de «comunidades
mais fortes e resilientes».


Entre 2019 e 2023, o AGEO criou cinco Observatórios de Cidadãos na região do Atlântico, capacitando as comunidades locais para se envolverem na vigilância dos riscos naturais. No sentido de promover a participação, desenvolveu uma plataforma e uma aplicação móvel para os cidadãos reportarem as suas observações.
Na hora de receber as distinções, Rui Carrilho Gomes enfatizou a relevância que o projeto atribuiu aos cidadãos como agentes ativos de monitorização e prevenção de riscos naturais. «É ótimo ter o reconhecimento», confessou ao Diário do Minho, sublinhando a vitória no voto do público, uma vez que um dos seus focos enquanto académico é o envolvimento dos cidadãos.
Por outro lado, salientou a mudança de mentalidades que o AGEO conseguiu operar dentro das organizações. Adiantou que as instituições precederam à adaptação da aplicação para as realidades locais, fazendo com que o projeto continue vivo.


Na linha do que foi defendido pelo júri, o professor universitário considera que o caminho é escalar esta experiência para a dimensão nacional. «Não podemos ter um país como Portugal com 50 aplicações diferentes, o que faz sentido é termos uma aplicação que seja comum a todo o território», defendeu.
Em seu entender, o nível seguinte será o europeu, tirando partido da consciencialização dos cidadãos para que estes passem a ser atores ativos, que contribuem para a gestão do risco. «Não podemos ter um polícia em cada esquina. A população tem que estar consciente dos riscos da zona onde vive, trabalha ou passa férias. Estamos a procurar criar um círculo virtuoso em que saímos todos a ganhar, em que ficamos com uma Europa mais segura», declarou.


Os restantes vencedores foram os projetos “Mapas de fertilização orientada por satélite” (Polónia), na categoria “Uma Europa Competitiva e Inteligente”; “MonoCab OWL – Nova mobilidade em carris antigos” (Alemanha), na categoria “Uma Europa Conectada”; “Apoio precoce para famílias em risco” (Chéquia), na categoria “Uma Europa Social e Inclusiva”; e Centro Feminino de Shankill (Irlanda), na categoria “Uma
Europa mais próxima dos cidadãos”.


Este ano foi batido o recorde de concorrentes, com 266 candidaturas oriundas de todos os países da União Europeia. O Projeto AGEO recebeu 1976 votos do público, representando cerca de 10% do total de 20 mil votos registados nesta competição.
Prémios mostram impacto da Política de Coesão A diretora-geral da Política Regional e Urbana da Comissão Europeia, Themis Christophidou, defendeu que os Prémios RegioStars «celebram os grandes feitos da Política de Coesão em toda a Europa».
Esta responsável explicou que, todos os anos, os prémios distinguem os «projetos financiados pela Política de Coesão que têm o maior impacto no terreno, iniciativas que realmente fazem a diferença na vida dos cidadãos».


A dirigente mostrou-se «particularmente satisfeita» por ver que a competição continua a crescer, ilustrando «a imensa criatividade e dedicação presentes nas diversas regiões da Europa» e demostrando «o crescente reconhecimento de como esta política gera
resultados concretos para as pessoas e comunidades em toda a União Europeia». «Os projetos finalistas enfrentam desafios comuns, transformam vidas e incorporam a essência do que é a Política de Coesão. Mostram também que a Política de Coesão não existe isoladamente. Cria sinergias com outras políticas e setores, desde os transportes sustentáveis ao turismo, à alimentação e à agricultura. É inspirador ver estas ligações aplicadas na prática em muitos projetos», declarou.
Por seu turno, a presidente do Comité Europeu das Regiões, Kata Tüttő, argumentou que estes projetos apresentam novas ideias e perspetivas para os desafios que a Europa enfrenta, designadamente ser inteligente, competitiva, verde, inclusiva, estar próxima
das pessoas e continuar a ser popular.


Para o dirigente do órgão representativo do poder local, a noite de entrega dos Prémios RegioStars «é a prova do que é a Política de Coesão», mostrando que «se combinarmos a Política de Coesão com a ambição local e a criatividade local, então surgem estrelas».
Em seu entender, não se pode focar a atenção apenas «nas dores, nos desafios e nos pontos de pressão», mas é preciso ver «todo o potencial, toda a ambição e toda capacidade» dos Estados-Membros.
«No Comité das Regiões, compreendemos o universal através do local, através das nossas realidades locais. Traduzimos valores universais, como sustentabilidade, dignidade ou confiança, em algo concreto. Damos-lhes forma. Como se manifestam a nível local estes valores universais, como a dignidade? Manifesta-se numa paragem de autocarro coberta, numa zona rural. Manifesta-se numa escola de alta tecnologia, numa cidade onde poucos veem futuro. Manifesta-se em habitação social que é
simultaneamente eficiente em termos energéticos e bonita», disse.


Este concurso é organizado anualmente pela Comissão Europeia, desde 2008, para premiar projetos financiados por fundos comunitários que demonstram o impacto e a inclusão do desenvolvimento regional.
Um júri composto por peritos de toda a Europa selecionou 25 finalistas que se destacaram em cinco domínios fundamentais, refletindo cada um deles uma prioridade da política regional da UE.
Respondendo a desafios comuns e aproveitando oportunidades partilhadas, estes projetos inspiram as regiões a criarem iniciativas impactantes e inclusivas em benefício das pessoas e das comunidades.  

 


*Em Bruxelas, a convite da Comissão Europeia e do Comité das Regiões.