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Europa distingue dois projetos portugueses criativos e sustentáveis

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Fotografia NEB

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 16 de abril de 2024, às 10:27

Prémios Novo Bauhaus Europeu entregues em Bruxelas

 

Portugal conquistou dois Prémios Novo Bauhaus Europeu. O projeto para uma paragem de elétrico biológica ganhou na categoria “Moldar um Ecossistema Industrial Circular e Apoiar a Reflexão Sobre o Ciclo de Vida”, enquanto a proposta para um parque urbano ribeirinho em Lisboa ficou em segundo lugar na categoria "Reconectar com a Natureza ", ambos na vertente “Estrelas Ascendentes”, dedicada a ideias promissoras apresentados por jovens talentos até 30 anos.

A cerimónia de entrega da quarta edição destes prémios decorreu na passada sexta-feira, no Museu de Arte e História, em Bruxelas, Bélgica, no âmbito do Festival Novo Bauhaus Europeu, uma iniciativa que traduz o Pacto Ecológico Europeu em projetos que aliam beleza, sustentabilidade e inclusão.

Apresentado pela portuguesa Rita Morais, pela polaca Natalia Piorecka e pela chilena Jennifer Levy, o projeto de design biointegrado “Urban MYCOskin” consiste numa paragem de elétrico inovadora para o Martim Moniz, em Lisboa.


Rita Morais explicou aos jornalistas que o processo consiste em inocular esporos de cogumelos em desperdícios têxteis. Ao longo de cerca de duas semanas, as raízes dos cogumelos (micélio) vão consumir a matéria orgânica presente nesses desperdícios. Parando o processo num certo ponto, obtém-se um material sólido totalmente orgânico e sustentável, que pode ser usado em arquitetura. Esse bloco sólido, como se fosse um tijolo, «é muito moldável, adapta-se a qualquer forma, bastando criar o molde», referiu. O material vai ser usado para fazer os painéis para a parte do abrigo da paragem de elétrico.

O projeto surgiu na universidade, em Londres, no âmbito de um mestrado em Design Biointegrado, que preconiza o uso de organismos vivos na arquitetura. A proposta das três jovens ganha agora um novo impulso rumo à concretização, uma vez que o prémio tem um valor monetário de 15 mil euros.

«Nós já temos protótipos. A nossa ideia é tentar construir alguma coisa numa escala maior e tentar provar o nosso conceito, fazendo uma implementação na Praça Martim Moniz», afirmou, revelando que o dinheiro do prémio vai ser usado para «investir» em equipamento e no «projeto em grande escala».

Em relação à implementação da ideia, adiantou que «um bom passo é começar a falar com a Câmara de Lisboa, para estabelecer como é que se conseguiria envolver a comunidade na parte da recolha de lixo têxtil».

No tocante à escolha do Martim Moniz, referiu que a praça é «uma área muito exposta às alterações climáticas, especialmente à grandes ondas de calor», e é marcada por um «choque cultural». «Queríamos que o projeto tivesse um lado mais comunitário, por isso a vida da praça é importante», asseverou.

Em seu entender, esta distinção dá projeção europeia ao projeto, podendo ajudar a levá-lo a outros países. «Adorávamos fazer uma versão do nosso projeto numa cidade diferente», disse, explicando que isso permitiria avaliar diferentes parâmetros ambientais. 

Projeto prevê parque no porto de Lisboa

Por seu turno, o projeto “Hydroscape Lisbon” foi desenvolvido por Ioulia Voulgari, com a orientação do ateliê de Carrilho da Graça, na Universidade de Mendrisio, na Suíça, prevendo um parque de 14 quilómetros para a zona do porto de Lisboa.

 

«A ideia principal é reconectar a cidade de Lisboa com o rio Tejo. Essa conexão foi perdida com a linha de comboio, a estrada e a atividade industrial no porto de Lisboa», referiu a greco-luxemburguesa, adiantando que a proposta passa por um parque onde as pessoas possam realizar atividades na zona ribeirinha.

Outra vertente do projeto é a recolha da água desperdiçada na cidade, para ser tratada e usada num banho público e na irrigação do parque, transformando Lisboa num «exemplo para áreas urbanas em todo o mundo que se deparam com questões semelhantes relacionadas com a água».

 

 


A arquiteta tem a expetativa que a sua proposta possa vir a ser concretizada, uma vez que há cada vez mais a necessidade de implementar projetos «verdes e sustentáveis», que permitam às pessoas desfrutarem da ligação à natureza. 

Em seu entender, o prémio é um incentivo para a concretização do projeto e, ao mesmo tempo, o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Atualmente a trabalhar no Luxemburgo, a jovem recebeu um prémio de 10 mil euros.

Presença na final divulga tradições do Barroso

O projeto “A recriação do ciclo da lã no Barroso”, finalista na vertente “Campeões” – dedicada a iniciativas concluídas com resultados claros e positivos –, na categoria “Recuperar o Sentido de Pertença”, não foi premiado, mas foi destacado no discurso da presidente da Comissão Europeia e promoveu esta região a nível europeu. 

Levado a cabo em Cabril, no concelho de Montalegre, entre 2018-2020, «o projeto não sai com o prémio, mas sai vencedor, porque tivemos a oportunidade de divulgar as nossas tradições e efetuar uma série de contactos que nos vão permitir continuar a trabalhar», defendeu a mentora desta iniciativa, Paula Oliveira.

 


A CEO do Cabril Eco Rural e gestora de projetos culturais revelou que, depois de ter aprendido a trabalhar os têxteis, não só a lã, mas também o linho, surgiu a criação da spin-off Roca Viva – Oficina Têxtil, em torno da qual se centra atualmente o trabalho de «capacitar outras pessoas e criar projetos que possam proporcionar condições para que os jovens permaneçam no território», afirmou.

Numa zona Património Agrícola Mundial, a ideia passa por pôr o ecoturismo ao serviço do desenvolvimento local, sendo que o Cabril Eco Rural tem uma unidade de alojamento local e atividades de animação e de turismo criativo. «Queremos atrair um público preocupado com a conservação da natureza e que respeita os valores e a cultura das gentes locais», assegurou. 

Distinção especial para reconstrução da Ucrânia

A edição deste ano da competição teve uma categoria específica para os esforços de reconstrução e recuperação da Ucrânia e deu uma ênfase especial às regiões da União Europeia que enfrentam dificuldades socioeconómicas ou desafios relacionados com a transição ecológica, num total de 20 laureados. Os prémios são financiados pelas verbas da Política da Coesão.

A cerimónia contou com a participação das comissárias europeias Elisa Ferreira, da Coesão e Reformas, e Iliana Ivanova, da Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, e do chefe da Missão da Ucrânia junto da União Europeia, Vsevolod Chentsov. 

A comissária portuguesa congratulou-se com a forma como a iniciativa tem crescido, destacando que, por toda a Europa, há ações concretas, adaptadas às realidades locais, multidisciplinares, que estão a mudar para melhor a vida das pessoas, dando ao Pacto Ecológico «uma alma». Elisa Ferreira elogiou o contributo dos concorrentes, que independentemente de vencerem ou não, «estão a oferecer algo melhor ao mundo».

Por seu turno, a búlgara Iliana Ivanova mostrou-se impressionada pela diversidade dos projetos, destacando a inovação, a criatividade e o comprometimento em forjar um futuro sustentável para todos.

Já Vsevolod Chentsov agradeceu o apoio, referindo que a Ucrânia está a lutar pela sua liberdade e ao mesmo tempo que está a reconstruir o país. Manifestou a esperança de que a Ucrânia possa ganhar a guerra e ter apoio para reconstruir o país com base na filosofia do Novo Bauhaus Europeu.

Lançada no discurso de Ursula von der Leyen sobre o estado da União de 2020, esta é uma iniciativa criativa e interdisciplinar, que liga o Pacto Ecológico Europeu à procura de mudanças concretas que melhorem a vida quotidiana dos cidadãos. A comunidade Novo Bauhaus Europeu tem cerca de 1400 membros e já foram desenvolvidas 500 iniciativas.

Novo mecanismo de financiamento reforça iniciativa

O Novo Bauhaus Europeu vai contar com um novo instrumento de financiamento, para tornar esta iniciativa mais robusta. «Conseguimos criar um novo instrumento de financiamento específico no âmbito do Horizon Europe [programa-quadro europeu de financiamento da investigação e inovação]: o Mecanismo de Financiamento do Novo Bauhaus Europeu. A partir do próximo ano, este mecanismo vai disponibilizar 120 milhões de euros por ano para projetos de investigação e inovação até 2027 e o nosso objetivo é ter um contributo de nível semelhante a partir de outros programas da UE», revelou a presidente da Comissão Europeia. 

 


Ursula von der Leyen falava no discurso inaugural do Festival Novo Bauhaus Europeu, que decorreu entre 9 e 13 de abril, em Bruxelas, no qual se mostrou «maravilhada» com o percurso desta iniciativa. «Há três anos, plantámos uma semente. Hoje, transformou-se numa floresta», constatou.

Esta responsável referiu que, com a iniciativa já «madura», é preciso «ampliar os esforços» e «aumentar a escala». Em seu entender, para além de assegurar o financiamento, é preciso apostar na diversificação. «Quando lançámos o Novo Bauhaus Europeu, concentrámo-nos no ambiente construído. Este trabalho fundamental vai continuar. Mas temos de explorar mais setores. Porque a sustentabilidade não tem apenas a ver com o local onde vivemos e trabalhamos, mas também com a forma como vivemos e trabalhamos», disse. 

A líder europeia defendeu que é também é necessário promover a competitividade. «O Pacto Ecológico Europeu é, antes de mais, uma estratégia de crescimento, um esforço calculado para posicionar a Europa como líder na transição global para uma economia mais limpa. O Novo Bauhaus Europeu pode dar um contributo importante nesse sentido», declarou.