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Plataforma cabo-verdiana pede concertação para acabar com morte de imigrantes no mar

Plataforma cabo-verdiana pede concertação para acabar com morte de imigrantes no mar
Fotografia DR

Francisco de Assis

Jornalista

Publicado em 04 de março de 2024, às 15:24

apelo de José Viana, após uma embarcação ter dado à costa em S. Vicente com 5 corpos

O presidente da Plataforma das Comunidades Africanas em Cabo Verde apelou hoje a maior concertação entre países para prevenir que dezenas de pessoas continuem a morrer, ao tentar a sorte com barcos precários, em mar alto, para chegar à Europa.

O apelo de José Viana foi feito à Lusa, na Praia, um dia depois de uma embarcação ter dado à costa da ilha de São Vicente com cinco sobreviventes e cinco corpos, de um total de 65 ocupantes iniciais e após vários dias à deriva.

“Nos temos de criar mecanismos de comunicação com os países de onde partem essas embarcações, para que haja uma concertação e impedir que as pessoas continuem a fazer esse tipo de aventuras”, referiu.

Ao nível da diplomacia, deve haver diálogo permanente “com embaixadas e países de origem”, disse, caso contrário, haverá “um flagelo”.

José Viana receia que a morte de imigrantes possa transformar-se “numa catástrofe sem precedentes"

"Vamos perder muita gente. Em cada embarcação perdem-se pessoas de todas as faixas etárias. É preciso tomar uma medida”, acrescentou.

Por outro lado, segundo José Viana, Cabo Vede não devia “correr” atrás de apoios ou recursos quando os casos acontecem, o país já devia ter meios alocados e planos preparados.

Ou seja, as autoridades deviam estar prevenidas para atuar, até porque, segundo aquele responsável, os casos de náufragos e refugiados que vão ter a Cabo Verde tendem a aumentem.

As pessoas querem sair da pobreza e procuram estabilidade e segurança, por oposição aos riscos crescentes na costa ocidental.

“Estou convencido que vai haver mais caso e até poderá haver embarcações que venham diretamente para Cabo Verde, em vez de chegarem à deriva. Por isso, temos de nos organizar”, disse.

O país deveria ter “mecanismos devidamente organizados, com pessoas e recursos, para prestar a assistência”, até os náufragos poderem regressar aos seus países.

“É preciso trabalhar nisso, porque não estamos só a falar de embarcações, mas também de pessoas refugiadas, perseguidas, com ameaças de morte por razões culturais e religiosas”, casos que José Viana começa a receber com maior frequência.

Só que associações como a plataforma que dirige vivem de boas vontades pontuais para alojar, dar de comer e apoiar os casos que surgem.

“Nós, que estamos nas organizações da sociedade civil, estamos também numa situação difícil, não temos nenhum fundo de emergência. Estamos a trabalhar à deriva. Eu ando por todas as instituições, a pedir ajuda”, concluiu.

O arquipélago de Cabo Verde tem sido destino de embarcações à deriva com pessoas que arriscam a vida com barcos precários, em alto mar, para chegar à Europa, em fuga da pobreza e da violência.

Além da situação de domingo, três outros casos foram registados nos últimos 16 meses.

Em novembro de 2022, uma embarcação com 66 imigrantes senegaleses deu à costa, na ilha do Sal.

Em janeiro do ano passado, uma piroga chegou à ilha da Boa Vista com 90 migrantes africanos a bordo, dois deles mortos.

Em julho, um barco que partiu do Senegal, com 101 pessoas, foi encontrado à deriva junto à ilha do Sal, Cabo Verde, em agosto, com 38 sobreviventes, assistidos e repatriados.

Dos cinco sobreviventes levados para o hospital do Mindelo, no domingo, um morreu na unidade de saúde.

Dos quatro sobreviventes, dois são de nacionalidade senegalesa e dois são originários do Mali.

Redação/Lusa