“Chegámos a um acordo para recuperar o que gera não só a vida, mas também os serviços económicos e sociais, o que impacta o bem-estar das pessoas e a viabilidade da maior parte das nossas atividades, incluindo, claro, a segurança alimentar”, sublinhou a ministra interina para a Transição Ecológica espanhola, Teresa Ribera.
Em representação da presidência espanhola do Conselho da UE, Ribera deslocou-se a Bruxelas para liderar a negociação final entre os Estados-membros e o Parlamento Europeu, que teve como relator o eurodeputado espanhol César Luena (PSOE).
“Depois de setenta anos de arranque do projeto europeu, vamos ter uma política comum de restauro da natureza, que é muito importante porque não só resolve o estado dos ecossistemas que estão degradados, mas também serve para lutar contra os efeitos das alterações climáticas”, frisou Luena após o acordo.
A Lei do Restauro da Natureza faz parte de uma proposta lançada em dezembro de 2022 pela Comissão Europeia para acompanhar os acordos sobre biodiversidade alcançados na COP15 das Nações Unidas.
Como complemento de outros instrumentos jurídicos da UE, os novos regulamentos procuram reparar pelo menos 20% dos ecossistemas terrestres e marinhos degradados da UE até 2030 e todos estes até 2050, através metas vinculativas.
O acordo final prevê que, até 2030, será priorizado o restauro dos espaços da rede Natura 2000, uma das muitas flexibilidades que foram introduzidas para finalizar um acordo difícil.
Para ultrapassar o controverso obstáculo ao financiamento, foi acordado que a Comissão apresentaria um relatório sobre os recursos financeiros disponíveis a nível comunitário, as necessidades e, se apropriado, apresentaria uma proposta para aumentar a dotação no orçamento da UE.
E, num aceno aos agricultores, o texto acordado permite a suspensão das medidas de regulação por até um ano “por motivos emergenciais inesperados, não sendo possível cumprir alguns destes objetivos no prazo previsto”, explicou Ribera.
Não se esperava que fosse um dossier polémico, mas a lei da natureza, à qual as grandes explorações agrícolas, representadas pela plataforma Copa-Cogeca, opuseram-se desde o início, ficou politicamente envenenada com a proximidade das eleições para o Parlamento Europeu, em meados de 2024.
A Comissão Europeia propôs o texto em 2022 mas o partido mais importante do Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE, direita) tentou abandoná-lo no início de 2023.
Mais de 80% dos habitats naturais estão em más condições, segundo dados da UE.
Para Tatiana Nuno, responsável sénior de política marinha da associação ambientalista Seas At Risk, o acordo “está longe do que é necessário para enfrentar a crise da biodiversidade, mas no que diz respeito ao oceano é um passo crucial para a restauração da preciosa vida marinha que abriga”.
“Apesar de consideravelmente enfraquecidas pelo Conselho, as disposições relativas à pesca na lei constituem uma tentativa de trazer coerência entre as políticas do ambiente e das pescas, o que já deveria ter sido feito há muito tempo”, frisou, por sua vez, Vera Coelho, vice-presidente adjunta da organização Oceana in Europe.