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Empresa de calçado português, oriunda de Guimarães, tenta contrariar em Milão tendência de quebra das encomendas

Empresa de calçado português, oriunda de Guimarães, tenta contrariar em Milão tendência de quebra das encomendas
Fotografia Calçado Penha / Facebook

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 17 de setembro de 2023, às 12:08

A insuficiência de encomendas lidera as dificuldades sentidas pelo setor do calçado, cujas exportações acumulavam até julho uma quebra de 9% em quantidade e 1% em valor, mas empresas ouvidas pela Lusa na feira MICAM resistem à tendência.

A Fábrica de Calçado Penha - empresa de Guimarães que se estreia este ano na maior feira de calçado do mundo, em Milão, Itália - perspetiva para este ano “seguramente um crescimento a dois dígitos” face aos 4,62 milhões de euros faturados no ano recorde de 2022, impulsionado pelos mercados da França (responsável por 80% do volume de negócios) e da Suécia.

Em entrevista à agência Lusa no primeiro de quatro dias do certame, o administrador e proprietário da empresa de calçado clássico admite, contudo, que as potenciais dificuldades resultantes do abrandamento económico internacional o “inquietam” e justifica a estreia na MICAM com o desejo de “abrir janelas para passar à terceira geração uma empresa sólida e com estrutura”.

“Será que o mercado europeu pode entrar em recessão, com a guerra? Estamos consolidados na Europa, por isso o melhor é estarmos preparados para começar a pensar em mercados alternativos”, afirmou Armindo Morais.

Após um ano recorde de 2022 em que as exportações da indústria portuguesa de calçado cresceram 10% em volume e mais de 20% em valor, superando a marca histórica dos 2.000 milhões de euros, os últimos dados disponíveis apontam para uma quebra acumulada até julho de 9% em quantidade e 1% em valor, para 43 milhões de pares de sapatos e 1.171 milhões de euros, respetivamente.

A inflação impulsionou um aumento do preço médio por par exportado, que cresceu quase 10%, para 27,30 euros, mas o facto é que a escassez de encomendas começa a preocupar os empresários.

“A insuficiência de encomendas de clientes estrangeiros voltou à liderança das dificuldades enfrentadas pelas empresas do setor, depois de dois anos em que esse lugar coube ao abastecimento de matérias-primas”, aponta a análise trimestral de conjuntura relativa ao segundo trimestre deste ano, divulgada pela Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes e Artigos de Pele (APICCAPS).

Embora a maioria das empresas continue a considerar que o estado dos negócios é suficiente ou bom e tenham diminuído as referências à escassez de mão de obra qualificada, a carteira de encomendas e a produção diminuíram e, para o próximo trimestre, prevê-se “a manutenção destas tendências, com um ligeiro agravamento da insuficiência de encomendas de clientes estrangeiros”, refere a associação.

Ainda assim, a APICCAPS destaca que “a larga maioria das empresas não alterou o número de pessoas ao seu serviço e as referências a dificuldades financeiras não aumentaram”, sendo que a percentagem de empresas que dizem não ter nenhuma dificuldade “teve até um ligeiro aumento”.

E, se há quem se estreie este ano na MICAM, há também quem – como a Centenário, de Oliveira de Azeméis - já conte mais de 20 anos de feira e, apesar de “se falar muito em recessão”, continue também a ver as vendas crescer quer em volume, quer em valor.

“Até setembro [deste ano] já atingimos o valor [de vendas] de 2022”, avançou à Lusa o diretor financeiro, Pedro Ferreira, projetando encerrar 2023 com um volume de negócios na ordem dos 6,5 a sete milhões de euros, acima dos seis milhões do exercício anterior.

Fundada em 1941 e com 72 trabalhadores diretos, a Centenário exporta sobretudo para o Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), Espanha e Estados Unidos e, apesar do foco original no calçado masculino clássico, evoluiu entretanto também para o calçado mais desportivo, seguindo as tendências do setor.

Em contraciclo com a tendência geral do setor está também a marca Ambitious, da empresa de calçado Celita, de Guimarães, que prevê encerrar 2023 com vendas de 24 milhões de euros, face aos 21 milhões de 2022.

Em declarações à agência Lusa, o ‘brand manager’ da Ambitious, Pedro Lopes, destaca que a marca “tem vindo a crescer exponencialmente nos últimos cinco anos”, representando já quase 40% da faturação do grupo Celita, enquanto a produção para ‘private label’ (marca de distribuidor) se tem mantido estável.

Embora reconheça que os atuais sinais de abrandamento económico “obrigam a alguma preocupação”, o responsável diz que a empresa definiu como prioritária a aposta em novos mercados, como o Reino Unido e a Escandinávia, de forma a contrariar esta tendência.

“Há duas estações iniciámos com um parceiro no Canadá e nos Estados Unidos e penso que no próximo ano este será um mercado que, para nós, vai crescer bastante. É um mercado difícil, mas a estrutura está lá e, a partir do momento em que começarmos a conseguir entrar nos pontos de venda, o crescimento é enorme”, referiu.

À Lusa, o diretor de comunicação da APICCAPS fala numa “fase conjunturalmente difícil”, mas garante que o setor “está a procurar resistir”.

“No plano setorial praticamente todos os principais ‘players’ do setor estão com quebras na produção e nas exportações, mas a indústria portuguesa do calçado está a procurar resistir e está na MICAM à procura de novas oportunidades, que esperamos que surjam já em 2024”, sustentou Paulo Gonçalves.

“Aliás – acrescentou - as principais instâncias internacionais sugerem que 2024 será melhor do que 2023, pelo que esta é a altura de mobilizar o setor e de ir à procura de novas oportunidades, para que as empresas portuguesas estejam na linha da frente quando a retoma económica se efetivar”.