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Câmara de Viana do Castelo está preocupada com pequeno comércio, hotelaria e restauração

Câmara de Viana do Castelo está preocupada com pequeno comércio, hotelaria e restauração
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Publicado em 29 de abril de 2020, às 00:32

Entrevista a José Maria Costa, presidente da Câmara de Viana do Castelo

O presidente da Câmara de Viana do Castelo reconhece que há empresas em dificuldade. Mas, a sua preocupação vai para o pequeno comércio, a hotelaria e a restauração.   Diario do Minho (DM): Que perceção tem do tecido económico e empresarial do concelho neste momento? José Maria Costa (JMC): É uma grande preocupação. Viana do Castelo tem uma grande presença na atividade empresarial ligada ao pequeno comércio local. Mas também, fruto do desenvolvimento do turismo que tivemos nos últimos anos, as pequenas unidades hoteleiras de alojamento local, a restauração estão ser fortemente penalizadas. Temos também no nosso tecido empresarial algumas fábricas que neste momento estão em lay off, procurando, desta forma, garantir o emprego aos trabalhadores. Mas, essencialmente, a nossa preocupação é mais no pequeno comércio, na hotelaria e na restauração. Por isso, temos tido reuniões permanentes com a Associação Empresarial de Viana do Castelo, que tem sido, de facto, um parceiro importante na identificação dessas situações. E temos também já enviado ao Ministério da Economia algumas propostas e algumas sugestões. Uma delas até já foi aprovada recentemente que tem que ver com a extensão aos sócios gerentes do lay off. Portanto, são as pequenas atividades empresariais que estão neste momento a sofrer bastante com esta paralisação. DM: Viana do Castelo apresentou recentemente indicadores económicos muito positivos. Este travão económico trouxe danos a esses indicadores? JMC: Naturalmente que sim. Não é só a nós, é ao país, à União Europeia. Penso que nós temos estar preparados para um novo paradigma económico daqui para a frente. A retoma, provavelmente, vai ser mais fácil do que na crise anterior, porque são muitos países que estão na mesma situação. Portanto, há aqui uma arranque simultâneo que vai poder não deixar tantas disturções económicas. Mas, estou certo que algumas das atividades que eram pujantes no passado, como as atividades do turismo, o ramo da hotelaria e da restauração, vão provavelmente, ter uma retoma mais retardada, portanto, só. se calhar, no final do próximo ano. Por isso, é que é importante haver aqui um conjunto de medidas e de apoios por parte do Governo no sentido que estas atividades possam também ser apoiadas. O que nós temos que fazer, e é o trabalho que estamos a fazer com a Associação Empresarial de Viana do Castelo, é um trabalho de preparação para, mal haja oportunidade de podermos sair para a rua, termos um conjunto de ações e propostas de dinamização do comércio local. Estamos neste momento a ultimar um programa do comércio digital, em que vamos lançar uma plataforma digital. E penso que a questão do digital vai ser muito importante para o futuro, com o teletrabalho, com estas realidades que temos hoje ganhou-se uma nova consciência para a importância de estar no mundo virtual e digital. Vamos ter todos muito que aprender e vamos ter que aprender depressa. Mas, acima de tudo, vamos ter que estar muito atentos àquilo que são os segmentos de negócio mais familiar, que é grande parte da restauração, comércio, os cafés. E esses vão ter uma perda significativa. DM: As medidas implementadas pelo Governo são suficientes para as empresas se aguentarem? JMC: Eu penso que foram tomadas já medidas muito importantes por parte do Governo. Acho que temos de ser justos. Houve um conjunto de medidas que têm vindo a ser reforçadas. Eu ouvi com muita atenção o presidente da CIP [Confederação Empresarial de Portugal] dando essa nota. Tem havido um aumento daquilo que são os valores disponibilizados pela banca para apoiar as empresas, o alargamento do lay off, um conjunto de medidas de impacto muito abrangentes. Se me perguntar se são suficientes, não são, porque a crise económica é muito grande e vai ser muito grande. De qualquer forma, há que enaltecer este trabalho que tem sido feito. E, acima de tudo, afora compete-nos a nós, autarcas, e compete também aos dirigentes associativos comerciais e empresariais das cidades e das regiões identificarem aqueles segmentos que não terão sido ainda cobertos por nenhum tipo de apoio, para que rapidamente hajam propostas mitigadoras para essas áreas. Esse é o nosso trabalho, mais fino no terreno porque as medidas do Governo são mais estruturantes. Às vezes escapa-lhe esta leitura mais fina do comércio tradicional, de algumas atividades mais empresariais. E, principalmente, nos territórios de baixa densiadade, eu diria que há muitas empresas que são de uma ou duas pessoas, que são a base da sustentabilidade dos territórios, e essas situações têm que ser tidas em consideração e, compete-nos identificá-las, sinalizá-las e dar a conhecer ao Governo para que possamos ter soluções. DM: Mesmo com estas medidas, é previsível um aumento da taxa de desemprego? JMC: Naturalmente que sim. Apesar de tudo, a adesão ao lay off tem sido muito grande, e penso que esse é um dado muito positivo. As empresas têm tido essa consciência. Mas, não tenhamos ilsuões, o desemprego vai crescer. A minha esperança é que possamos rapidamente recuperar esse desemprego através da criação de novos empregos porque, a base instalada é muito forte em Viana do Castelo. Nós temos muitas empresas industriais, muita atividade económica forte e estou certo que, mal saiamos do confinamento e voltarmos às atividades normais, essas empresas vão rapidamente absorver o mercado de trabalho. Nós vamos ter ainda alguns meses em que vamos ter que ser muito solidários com essas pessoas, vamos ter, conjuntamente com as nossas IPSS, que têm feito um trabalho notável de identificação das dificuldades sociais, de ter aqui um trabalho de muita atenção para que possamos apoiar, com as Comissões Vicentinas, que também têm feito um trabalho notável, as famílias enquanto não tiverem acesso ao mercado de trabalho. DM: O turismo é uma fonte de receita para a região. Quais os danos que a pandemia pode trazer para o setor em Viana do Castelo? JMC: É um pouco difícil de dizer. O nosso país tinha-se diferenciado nestes últimos anos no setor do turismo. O país, de uma forma global, vai ter que ter uma campanha muito forte para voltar a ser atrativo. Eu vi notícias em revistas internacionais dizendo que no pós-pandemia, Portugal continuará a ser um dos países mais atrativos, não só porque tem um sistema de saúde que responde com alguma eficácia, não só porque é um país seguro, mas também porque é um país que teve medidas adequadas na pandemia. Portanto, eu penso que são estes indicadores internacionais que vão trazer a normalidade em muito pouco tempo para o turismo. DM: Em termos sociais, acha que vai haver uma maior procura dos instrumentos sociais por parte das pessoas? JMC: Naturalmente que sim. Já estamos a sentir isso. Estamos a sentir de dia para dia que há mais situações sociais a enquadrar. Por isso, aquilo que vai ser o trabalho que nós vamos ter nos próximos meses será em três áreas. É no setor da Educação, apoiando bem os nossos jovens para que possamos ter uma educação alternativa através de meios tecnológicos. É o setor social, em que temos de estar todos unidos e solidários, e preocurarmos encontrar soluções para minimizar o impacto social negativo e, acima de tudo, estarmos muito atentos à pobreza e à pobreza infantil. E é apoiarmos o nosso tecido empresarial, para que ele possa rapidamente desenvolver-se e criar emprego. DM: Com travão económico, há projetos que vão ter de esperar? DB: Naturalmente que sim. O executivo está já a fazer neste momento uma reanálise e um redesenho do nosso Plano de Atividades e Orçamento. Vamos ter de redirecionat objetivos. Há alguns investimentos que, neste momento, não são tão importantes e há outros que passaram a ter prioridade. Nós estamos a fazer esse trabalho e espero já em julho ter na Assembleia Municipal as novas áreas de atividades e as novas prioridades da Câmara definidas. Temos de aproveitar bem ainda este Quadro Comunitário de Apoio naquilo que tem que ver com a reabilitação urbana, mas há muitas outras áreas que deixarão de ter prioridade porque a prioridade vai ser a área social e a educação.
Autor: José Carlos Ferreira