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«As prioridades são transparência contra a corrupção, empregos com salário justo, casas com rendas que permitam a vida dos jovens.»

«As prioridades são transparência contra a corrupção, empregos com salário justo, casas com rendas que permitam a vida dos jovens.»
Fotografia DR

Francisco de Assis

Jornalista

Publicado em 14 de maio de 2025, às 10:51

Entrevista a Cabeça de lista do Bloco de Esquerda pelo Círculo Eleitoral de Braga.

Diário do Minho (DM) – A escolha dos cabeças de lista e até dos candidatos a deputados traz, muitas vezes, desacordos e até polémicas. Passada esta fase, estão todas as tropas mobilizadas para o combate político e obter o melhor resultado?
Francisco Louçã  (FL) – Suponho que a pergunta se refere ao que se passa noutros partidos. Em contraste com essas quezílias, no caso do Bloco de Esquerda a lista de candidatura foi discutida e aprovada por unanimidade pela assembleia dos militantes do distrito. É uma lista paritária entre mulheres e homens, que inclui jovens e aposentados, cientistas e professores, membros de Comissões de Trabalhadores, profissionais de saúde, operários, criminologistas, especialista no combate à violência doméstica, estudantes e juristas. A lista representa os vários concelhos do distrito e vai à luta com muita confiança, sabendo que o Bloco de Esquerda subiu nas últimas eleições e foi o único partido de esquerda que ficou perto de eleger um deputado, o que retiraria lugares à direita e à extrema-direita. Essa vitória será a grande mudança para o distrito de Braga.

DM – De forma sucinta, gostaríamos de saber quais as áreas ou objetivos que considera prioritários para melhorar a vida dos cidadãos do distrito?
FL – Há problemas graves no distrito, como o da mobilidade, incluindo entre os seus principais centros. As escolhas para a rede ferroviária ou de metrobus, o acesso a autoestradas e a articulação com o futuro TGV suscitam muita atenção e exigem uma articulação entre os municípios para impor as melhores soluções para a população do distrito. Há já realidades que provam essa capacidade de cooperação, como na cultura. 
Mas chamo a atenção para outros riscos: as tarifas de Trump, apoiadas pelo Chega, ameaçam empregos na indústria do distrito; o racismo e a criminalidade assustam a população; e ainda está por perceber a justificação de um grande movimento financeiro para a empresa de Montenegro a partir de uma gasolineira deste distrito. 
Por isso, as prioridades do Bloco são transparência contra a corrupção, empregos com salário justo, casas com rendas que permitam a vida dos jovens, uma taxa sobre os ultramilionários para poder subir as pensões mais baixas e um serviço de saúde de qualidade que nos proteja.

DM – Na saúde, quais são as suas propostas?
FL – A construção do novo hospital de Barcelos-Esposende é uma prioridade, bem como o acesso aos centros de saúde e o médico e enfermeiro de família para cada utente. Mas não vou ignorar a ameaça que PSD, Chega e IL (e do PS não ouvi uma palavra) contra o hospital de Braga, que querem entregar a uma empresa privada. É um escândalo. Desde que regressou à gestão pública, o hospital quase duplicou as cirurgias e aumentou as consultas e outros cuidados, pelo que voltar atrás é uma ameaça contra os cidadãos de Braga. 
Para mais, sabe-se o desastre que foi essa gestão privada: o hospital esteve em falência técnica durante cinco anos e, como descobriu o Tribunal de Contas, não correspondeu às necessidades da população e aumentou as listas de espera. Que a direita e a extrema-direita queiram este modelo, por ser um negócio, é compreensível, pois preferem o lucro de uma empresa à saúde dos bracarenses, mas o Bloco de Esquerda impedirá esse desastre.

DM – E na Educação?
FL – Aos partidos que estão empenhados no aumento da despesa em armas, aceitando a proposta da Comissão Europeia que faria com que em Portugal o orçamento militar passasse a ser maior do que o da educação – e são vários partidos, PSD, PS, Chega, IL e Livre – o Bloco de Esquerda responde condenando a mentira: o gasto militar da Europa é já cerca do triplo do da Rússia e tem mais soldados no ativo do que os Estados Unidos. 
Mais gasto em armas é só um benefício para os vendedores de mísseis e bombas. Contra esses interesses, apostamos na educação, na ciência e no conhecimento para garantir o futuro: as escolas inclusivas, as aulas com menos alunos para que os professores possam desempenhar com gosto as suas funções, o reconhecimento dos direitos de todas as outras profissões escolares, a redução dos telemóveis na escola, a melhoria da qualidade dos livros e recursos pedagógicos, são medidas que podemos realizar agora no nosso país e que garantirão o nosso futuro.

DM – No que diz respeito à habitação, um dos grandes problemas do distrito e do país O que é que o seu partido propõe?
FL – No ano passado, Braga e Guimarães foram dos concelhos em que as rendas mais subiram, mas o mesmo se passa em todo o distrito. Dou os parabéns aos liberais da IL, do PSD e do Chega: conseguiram o que queriam, que é a subida disparada dos preços da habitação, arruinar famílias e impedir os jovens de terem casas. Com esta política que tem vencido, as casas nas nossas cidades chegam a ser mais caras do que em Berlim ou Madrid, países cujos salários são muito maiores do que os nossos. Com metade da nossa população à volta dos mil euros por mês, ou menos, alugar uma casa tornou-se impossível. 
Por isso, o Bloco quer baixar as rendas. Há várias medidas que devem ser conjugadas: no longo prazo, mais construção pública a preços aceitáveis, a utilização de espaços devolutos, ou contratos com os senhorios pobres para que o Estado os ajude a reabilitar casas para aluguer; no curto prazo, a limitação do Alojamento Local e, sobretudo, o teto das rendas. 
É o sistema que se aplica na Holanda ou na Alemanha, até aprovado por partidos liberais e de direita, ou por socialistas (azar o nosso, em Portugal esses partidos querem que os preços sejam superiores aos dos outros países europeus). O teto às rendas é aplicado em Amesterdão ou Berlim e funciona: os senhorios têm a sua margem, mas as rendas são compatíveis com os salários. 
O Bloco de  Esquerda fará baixar as rendas porque toda a gente tem direito a ter acesso a uma casa com o seu rendimento.

DM – Em jeito de conclusão, diga porque é que os cidadãos que moram no distrito de Braga devem votar no seu partido e não em outra candidatura qualquer.
FL – As eleitoras e eleitores de esquerda conhecem os factos: há um ano, o Bloco teve quase tantos votos como o Livre e a CDU somados e ficou à beira da eleição. É o único partido de esquerda que agora pode eleger e retirar lugares à direita e extrema-direita. 
Desejo as maiores felicidades aos outros partidos de esquerda, mas digo a quem vai votar que pode fazer a diferença escolhendo dar força ao seu voto. Quem quiser votar por uma política de habitação para todos, pela igualdade entre mulheres e homens, pela defesa do Serviço Nacional de Saúde, pelos direitos de quem trabalha, como os dos turnos, pelo reconhecimento da Palestina e contra o genocídio, votará no Bloco de Esquerda para que a esquerda Braga tenha uma forte representação no parlamento.